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Dez anos sem "russos"

Maksim Nelioubin (sm)23 de agosto de 2004

Há dez anos, as tropas russas abandonaram o território alemão. Naquele momento, muitos russos sentiram confirmada a sensação de que tinham vencido o fascismo e perdido a Guerra Fria.

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Era uma vez: foice e martelo na AlemanhaFoto: transit-Archiv

Do ponto de vista político e estratégico, a presença de 340 mil soldados e seus 207 mil familiares e funcionários civis na Alemanha parecia não ser mais necessária. Economicamente, isso era até mesmo inviável. Em 1991, o governo russo havia liberado 820 milhões de marcos para financiar o Grupo Oeste das Tropas. Em 1992, foram apenas 19,8 milhões. O Grupo Oeste teve que se autofinanciar nos últimos anos. Isso levou os quartéis a se abrirem para negócios nada "conformes com a lei".

O constrangedor episódio da retirada

As circunstâncias da retirada foram obscuras. Falava-se de corrupção, fraude e desmandos. Muitos russos acusavam o então presidente Boris Ieltsin de ter feito concessões demais ao seu "amigo" Helmut Kohl. Na memória russa, a retirada das tropas, no dia 31 de agosto de 1994, ficou marcada como um episódio constrangedor. Num estado não muito sóbrio, o estadista Ieltsin tentou reger a orquestra militar na ocasião. Muitos tomaram isso como um símbolo da falta de estabilidade de seu governo.

O plano de retirada datava de 12 de outubro de 1990. Poucos dias depois da reunificação da Alemanha, Bonn e Moscou assinaram um acordo sobre a limitação da permanência das tropas soviéticas até fim de 1994. Posteriormente, este prazo foi antecipado cerca de três meses.

A Alemanha se comprometeu a financiar na Rússia 45 mil moradias para os oficiais em retirada. Para isso, foram liberadas verbas de 8,35 bilhões de dólares. No entanto, muitos oficiais tiveram uma decepção. Uma parte do dinheiro desapareceu nas regiões encarregadas da construção dessas habitações. Muitas famílias de oficiais ficaram praticamente sem moradia por um longo tempo e foram obrigadas a morar em acampamentos.

Devolução gratuita

Os imóveis do Grupo Oeste (240 mil hectares, o que corresponde à área do Estado do Sarre) deveriam ser encampados pelo Departamento Federal de Patrimônio. O primeiro plano previa descontar os custos da recuperação ecológica do valor dos imóveis. Mas como isso era inviável, os bens foram parar nas mãos do Estado alemão gratuitamente e no estado em que se encontravam.

Num livro sobre a retirada das tropas, publicado em 1995, o historiador militar russo Mikhail Boltunov qualificou de injusto este acerto. Durante quase cinco décadas, o exército russo teria construído na Alemanha Oriental 777 guarnições, 5269 acampamentos, 3422 centros de profissionalização e locais de treinamento, 47 aeródromos, além de 20 mil moradias. Boltunov calcula que o patrimônio do Grupo Oeste somasse de sete a oito bilhões de marcos, sendo que os danos ecológicos se limitariam a um volume de dois a três bilhões de marcos.

Brandenburgo contente com a mudança

A metade dessas áreas se encontrava em Brandemburgo, representando oito por cento do território do Estado. Por ocasião dos dez anos da retirada, o governo estadual fez um balanço positivo: cerca de 50% do "potencial de conversão" foi utilizado para fins civis. A maioria das vilas de guarnição são "centros civis desmilitarizados" hoje. Ao contrário das tropas norte-americanas na Baviera, por exemplo, o exército russo na antiga Alemanha Oriental representava um "Estado dentro do Estado"; as unidades eram auto-suficientes. Sua retirada foi politicamente bem-vinda.

Há centenas de cidadãos russos cujo passaporte indica uma cidade alemã como local de nascimento; dos diplomas secundários de inúmeros escolares, constam endereços de escolas russas no exterior. É provável que os russos que ficaram estacionados em território alemão dificilmente venham a se esquecer daquele tempo.