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Dilma: "Ânimo e força para enfrentar a injustiça"

19 de abril de 2016

Em seu primeiro pronunciamento após a votação do impeachment na Câmara, presidente diz estar "indignada" com resultado, mas afirma que esse é apenas o "início da luta", que será "longa e demorada".

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Dilma Rousseff: "Não é o começo do fim, estamos no início da luta e ela será longa e demorada"
Foto: Getty Images/AFP/E. Sa

Dilma se diz indignada e nega crime de responsabilidade

A presidente Dilma Rousseff disse estar "indignada" e se sentindo "injustiçada" com a aprovação da continuidade do processo de impeachment. Ela garantiu, porém, que tem "ânimo e força suficiente" para enfrentá-lo. "Não é o começo do fim, estamos no início da luta e ela será longa e demorada", declarou.

Em pronunciamento no Palácio do Planalto na tarde desta segunda-feira (18/04), a presidente reafirmou que o processo que pede seu impedimento não tem base de sustentação, o que o configura como uma "espécie de vingança" política.

Sobre a votação no plenário da Câmara, Dilma afirmou não ter visto qualquer "discussão sobre crime de responsabilidade, que é a única maneira de se julgar um presidente". "Injustiça sempre ocorre quando, de uma forma absurda, se acusa alguém por algo que não é crime, e também quando ninguém se refere ao problema", disse.

A presidente revelou que recebeu a recente decisão da Câmara com "sensação de indignação". "O rosto estampado na imagem que foi transmitida ao mundo é o rosto do abuso de poder, do descompromisso com as práticas éticas e morais."

"É muito ruim para o Brasil que o mundo veja nossa jovem democracia enfrentando um processo com essa baixa qualidade. Se é possível condenar um presidente da República sem que ele tenha qualquer culpabilidade, o que é possível ser feito contra os cidadãos brasileiros, que são os grandes protagonistas da democracia?", questionou Dilma.

Dilma se diz indignada e nega crime de responsabilidade

"Pedaladas fiscais" e contas no exterior

A presidente voltou a se defender das chamadas "pedaladas fiscais" praticadas por seu governo e que são a fundamentação do processo que pede seu impedimento. "Os atos pelos quais me acusam foram praticados por outros presidentes antes de mim e não foram considerados atos ilegais ou criminosos."

"Portanto, quando me sinto indignada e injustiçada, é porque a mim se reserva um tratamento que não se reservou a ninguém. Atos baseados em pareceres técnicos. Nenhum deles beneficia a mim diretamente. Não são atos praticados para que eu enriquecesse indevidamente", acrescentou a presidente.

Dilma fez ainda uma menção indireta ao presidente da Câmara, deputado Eduardo Cunha, quando citou que "aqueles que têm conta no exterior" estão comandando o processo.

"É muito interessante, porque não há contra mim acusação de desvio de dinheiro público. Não há acusação de ter dinheiro no exterior. Por isso me sinto injustiçada. Aqueles que têm contas no exterior presidem sessão com uma questão tão grave que é o impedimento de uma presidente", disse ela.

Michel Temer

Sendo o impeachment instaurado, quem assume o cargo de presidente da República é o vice, Michel Temer, cujo partido, PMDB, rompeu com o governo recentemente. No pronunciamento, Dilma criticou a posição tomada pelo político, a quem chamou de "traidor".

"É extremamente inusitado, estranho e estarrecedor que um vice no exercício de seu mandato conspire contra a presidente abertamente. Em nenhuma democracia do mundo uma pessoa que faz isso seria respeitada, porque a sociedade humana não gosta de traidores", afirmou a petista.

Momentos inusitados da votação do impeachment

"Ânimo e força"

Dilma, por fim, declarou ter "ânimo, força e coração suficiente para enfrentar essa injustiça, apesar do sentimento de muita tristeza". "Eu não vou me abater. Vou lutar como fiz ao longo de toda a minha vida. Meus sonhos estão hoje sendo torturados, mas não vão matar em mim a esperança, porque sei que a democracia está sempre do lado certo da história", concluiu.

Esta foi a primeira manifestação pública da presidente desde a votação do impeachment na Câmara dos Deputados, ocorrida no domingo. Foram 367 votos favoráveis à continuidade do processo de impedimento da presidente, superando o mínimo necessário, de 342 votos.

Com aprovação no plenário, o processo segue agora para análise do Senado. Nesta segunda-feira, Cunha entregou o parecer da Câmara sobre o caso ao presidente do Senado, Renan Calheiros.

Também nesta segunda-feira, Dilma recebeu líderes da base aliada na Câmara para debater estratégias. Após o encontro, o líder do governo na casa, deputado José Guimarães, disse que a luta para barrar o impeachment no Senado está "apenas começando".

EK/abr/rtr