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Balanço da viagem

8 de maio de 2011

Valores democráticos comuns às sociedades alemã e brasileira favorecem empresas da Alemanha na hora de concorrer com outros países pelos investimentos na infraestrutura brasileira, opina o presidente Christian Wulff.

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Dilma recebeu Wulff em Brasília
Dilma Rousseff recebeu Christian Wulff em BrasíliaFoto: Roberto Stuckert Filho/PR

O presidente da Alemanha, Christian Wulff, encerrou neste sábado (07/05) sua primeira viagem à América Latina. Durante uma semana, ele passou pelo México, pela Costa Rica e pelo Brasil, onde foi recebido pela presidente da República, Dilma Rousseff.

A repórter Ellen Häring, da emissora alemã Deutschlandradio Kultur, acompanhou Wulff e o entrevistou ao final da viagem. O presidente destacou as oportunidades de parceria entre o Brasil e a Alemanha na área de energias renováveis e constatou que o debate sobre os riscos da energia nuclear não é tão intenso entre os brasileiros como entre os alemães.

Wulff também disse que Dilma "expressamente convidou a economia alemã a se candidatar a projetos de infraestrutura" no Brasil. Ele lamentou, porém, que as empresas alemãs ainda tenham uma "certa reserva" em fazê-lo.

A América Latina não tem estado entre as prioridades da política externa alemã. Ao chegar lá, o senhor teve primeiro de recuperar o terreno perdido?

Christian Wulff: De fato, a Alemanha voltou-se muito para a reunificação, a unificação europeia, a expansão para o Leste, em direção à Rússia, e a América Latina acabou um pouco esquecida. Mas agora se percebe o que aconteceu nos países emergentes, em que economias fortes eles se transformaram, como também a pobreza foi fortemente combatida – e com sucesso – e quão amplamente se desenvolveu uma sociedade hightech. E eu vejo também a indústria alemã fortemente presente na região.

Mas em todos os lugares que o senhor visitou, os chineses já haviam estado antes.

Em todo o mundo existe uma concorrência muito grande. E o que vale é: a concorrência aviva a sociedade. Mas nós temos a vantagem de compartilhar valores: somos uma democracia; temos uma sociedade aberta ao desenvolvimento de novas ideias, incluindo os pensadores inconvencionais e as opiniões contrastantes. Essa é uma base comum à Alemanha e o Brasil, por exemplo, onde temos uma história de imigração alemã; e os alemães que foram para lá têm uma boa imagem no Brasil. Outros países não têm essa vantagem.

O Brasil – última estação de sua viagem – experimenta um boom econômico, vai sediar a Copa de 2014, as Olimpíadas de 2016, há gigantescos projetos de infraestrutura planejados, entre eles o trem de alta velocidade de São Paulo ao Rio. As empresas alemãs têm chances de participar de tudo isso?

A presidente Dilma Rousseff expressamente convidou a economia alemã a se candidatar a projetos de infraestrutura. Ela está receptiva às empresas alemãs. Mas a minha impressão é de que aquelas em condições de participar ainda têm uma certa reserva em concorrer, talvez porque tenham outras prioridades. Temos de esperar para ver, mas na sequência da minha viagem haverá conversas sobre esses aspectos, e talvez sejam apresentadas algumas ofertas.

Presidente Wulff destaca receptividade de Dilma aos investimentos alemães
Presidente Wulff destaca receptividade de Dilma aos investimentos alemãesFoto: AP

Crescimento econômico significa também maior consumo de energia. O Brasil faz uso de muitas fontes renováveis, mas quer também construir quatro novas usinas nucleares até 2030, e o governo alemão entrou como fiador de uma delas. O senhor pôde transmitir a nova posição alemã sobre energia atômica?

Eu considerei como minha tarefa relatar o debate que ocorre na Alemanha, cujo resultado é claro: a Alemanha vai recorrer, muito mais do que jamais se pretendera, à energia de usinas hidrelétricas, à solar, eólica, à geotermia, à biomassa. Para tal serão necessárias novas tecnologias, e isso pode ser realizado conjuntamente, pois os países latino-americanos têm tido muito sucesso com energias regenerativas. Eles também têmcondições muito boas, é claro, muito sol – mais do que nós –, condições eólicas em parte muito favoráveis, e sobretudo a força hidráulica como forma regenerativa que nós não podemos usar dessa maneira. Mas não se pode dizer que nesses países esteja sendo conduzido um debate semelhante ao que ocorre entre nós, é muito menor a parte que cabe à energia nuclear [no volume total de energia].

Essa discussão terá alguma consequência sobre a fiança bancada pelo governo alemão?

Essa é uma questão que deve ser resolvida entre os governos e as outras partes envolvidas, não é uma atribuição do presidente da Alemanha. Eu descrevi a situação e isso foi muito bem compreendido. Havia muito interesse em saber quais lições a Alemanha estava tirando de Fukushima, e é claro que também debatemos a necessidade de haver autoridades internacionais de vigilância, influências mundiais para que haja segurança maior do que a atual.

Um objetivo da viagem era encontrar aliados para uma reforma das Nações Unidas. O senhor foi bem-sucedido?

Neste ponto, a Alemanha é vista como um parceiro excelente, porque muito cedo já dizíamos que os grêmios das Nações Unidas não refletem mais a situação mundial. A situação depois da Segunda Guerra, quando o Conselho de Segurança foi formado, era diferente da atual, na qual o Brasil, Indonésia, Índia, Japão têm um peso muito diferente, e desempenham um papel muito diferente no mundo. E esses países devem ter uma consideração maior.

A Alemanha, por exemplo, é o terceiro maior contribuinte das Nações Unidas, o quarto maior contribuinte de ajuda ao desenvolvimento, participa de forma bem-sucedida de diversas operações internacionais. Sobre isso não basta apenas debater – há 15 anos já se faz isso –, mas é necessário finalmente acertar uma reforma. Do contrário, as Nações Unidas não poderão mais desempenhar um papel tão decisivo, elas serão substituídas pelo G20, pela Otan. Considero um feito que nas Nações Unidas estejam reunidas todas as nações do mundo, mas o peso dos países, as possibilidades dos países ainda precisam se refletir nos grêmios e nas estruturas de decisão.

A reforma é boa apenas se a Alemanha também obtiver um assento permanente no Conselho de Segurança?

Se argumentarmos segundo a lógica "cada um pensa em si, e assim se pensou em todos", uma reforma jamais acontecerá. Não se deve dizer "a reforma só será boa se...", pois aí ela não virá mesmo. Mas que a Alemanha deva ter um peso maior, é uma posição reconhecida também pelos países que visitei.

Entrevista: Ellen Häring (as)
Revisão: Augusto Valente