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Do Primeiro ao Quarto Mundo: socorro às crianças

Simone de Mello19 de setembro de 2002

Debate confronta iniciativas de ajuda ao menor em São Paulo, Berlim e Viena.

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Trabalho infantil no BrasilFoto: AP

"Na Selva das Cidades" – Crianças, jovens e famílias em áreas metropolitanas: este é o tema do congresso deste ano da FICE (Fédération Internationale des Communautés Educatifs), realizado em Berlim até sábado (21). Inúmeros participantes de todos os continentes discutem durante cinco dias problemas específicos do menor no espaço urbano.

Os campos de tensão da socialização urbana, modelos de ajuda ao menor e oportunidades de cooperação são os principais focos de discussão de um evento que confronta diferentes abordagens educacionais e institucionais, reunindo na mesma mesa profissionais das mais pobres e mais ricas regiões do mundo.

São Paulo, Berlim e Viena

Um bairro com 1,5 milhão de habitantes, uma renda per capita média de 25 euros por mês, 25 favelas, apenas um hospital e 30 assassinatos por dia: bastariam estes dados sobre um bairro paulistano para encerrar a possibilidade de diálogo com assistentes sociais de Berlim e Viena, preocupados com a prevenção do consumo de drogas entre jovens e a reabilitação de adolescentes envolvidos em furtos e depredações.

Ao especificar melhor seu trabalho como diretora de uma instituição de auxílio ao menor no Capão Redondo (São Paulo), a psicopedagoga paulista Dagmar Garroux – participante de uma mesa-redonda com assistentes sociais municipais de Berlim e Viena – deixou parecer irrisórios os problemas das metrópoles européias.

Enquanto as Secretarias Municipais do Menor de Berlim e Viena desenvolvem, por exemplo, estratégias de combate às drogas entre jovens com respaldo de toda a infra-estrutura pública, Dagmar Garroux - fundadora da Casa do Zezinho, uma instituição que alimenta, educa e tenta devolver a auto-estima a 600 crianças da periferia de São Paulo – disputa os seus "zezinhos" com o tráfico de droga, interessado em assimilá-los como mão-de-obra.

Tão inimaginável quanto dados sobre pobreza, violência urbana, trabalho infantil e abuso de menores na megalópole brasileira, parece – do ponto de vista europeu – a possibilidade de atuar independentemente da infra-estrutura pública. Por outro lado, para a psicopedagoga brasileira, o caráter institucional do trabalho com o menor em cidades européias corre o risco de se tornar paternalista e esquecer que o protagonista é o jovem e não as instituições educacionais.

Miséria do estrangeiro

Como cidades às portas do Leste Europeu, Viena, com o mesmo número de habitantes do Capão Redondo (1,5 milhão), e Berlim, com pouco mais do dobro (3,4 milhões), confrontam-se sobretudo com o problema de menores refugiados. Em Berlim vivem quase 13 mil crianças ilegais, filhos de refugiados. Apesar de elas, quando localizadas, serem submetidas aos cuidados dos órgãos públicos de apoio ao menor, o que espera estas crianças – junto com suas famílias – é a extradição, assim que sua origem for identificada.

De acordo com o relato de Evelyn Eichmann, da Secretaria do Menor de Viena, os principais problemas da capital austríaca são a "medicância e a criminalidade organizadas", sobretudo por gangues do Leste Europeu. O governo austríaco está tentando fechar um acordo com a Romênia, a fim de que as crianças ilegais possam ser imediatamente enviadas às autoridades de auxílio ao menor em seu país de origem. A Alemanha já tem um acordo com a Romênia neste sentido.

Entre a população estrangeira que vive legalmente nos dois países, a situação dos jovens é preocupante: falta de integração, discriminação, dificuldades com o idioma e desemprego afetam a população estrangeira que vive legalmente. Na Alemanha, a falta de integração das minorias estrangeiras, sobretudo a turca, se reflete de forma nítida entre a população jovem: o desemprego entre jovens estrangeiros é duas vezes maior do que entre os alemães.