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Drama histórico de Mike Leigh é um dos favoritos

Marco Sanchez20 de maio de 2014

Diretor britânico volta à Riviera Francesa com "Mr. Turner", que conta a trajetória de um dos maiores nomes da pintura inglesa e mostra o panorama histórico e artístico da época.

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Foto: Festival de Cannes 2014

Todo ano, a pacata Cannes, no sul da França, transforma-se, por cerca de duas semanas, na capital mundial do cinema. Neste ano, um veterano do festival é também um dos favoritos à Palma de Ouro: Mike Leigh. O filme Mr. Turner é considerado um retorno triunfal para o cineasta britânico de 71 anos, que já levou o troféu em 1996, por Segredos e Mentiras.

Mr. Turner retrata o pintor de paisagens do século 19 William Turner, conterrâneo de Leigh. Tido como um dos maiores nomes da pintura britânica, ele é interpretado por Timothy Spall. Ambientado numa época em que as novas estruturas vitorianas começaram a emergir e se definir, o filme de Leigh conta a história dos últimos 25 anos da vida do pintor, que era igualmente amado e odiado pelo público e a nobreza britânica. Turner morreu em 1815.

"Um pintor pinta o que vê", diz Leigh. "Sabemos isso de um infinito número de pessoas. Mas sabemos que quando Turner pinta, ele cria uma experiência que vai muito além da superfície."

Improvisação com base

Leigh é conhecido pelos dramas familiares, que mostram conflitos e estruturas sociais através da vida de seus personagens. O britânico alcançou o sucesso fora da Europa em 1993, quando seu filme Nu foi apresentado em competição em Cannes e acabou levando os prêmios de melhor diretor e melhor ator (David Thewlis).

Três anos depois, ele voltou ao festival com Segredos e Mentiras, que venceu a Palma de Ouro, além do prêmio de melhor atriz (Brenda Blethyn). O filme ganhou diversos prêmios internacionais e foi indicado a cinco Oscars, entre eles melhor filme e diretor. Leigh esteve também na competição em Cannes com Agora ou Nunca (2002) e Mais Um Ano (2010).

Uma característica do trabalho do cineasta é o improviso, com diálogos que são criados durante a filmagem. Ele não trabalha com a ideia clássica de roteiro. Segundo o diretor, o mesmo método foi usado em Mr. Turner. Ele ressalta que muita pesquisa e preparação foram necessárias para construir o personagem do pintor, além do conhecimento de suas técnicas de pintura e de sua vida pouco convencional na Inglaterra do século 19.

Cannes Filmfestival 2014 Team MR. TURNER
Timothy Spall e Mike Leigh (centro) antes da estreia de "Mr. Turner" em CannesFoto: Bertrand Langlois/AFP/Getty Images

"Você pode ler todos os livros do mundo e pesquisar por anos, mas isso não faz as coisas acontecerem em frente às câmeras", diz Leigh. "Você ainda precisa criar a caracterização, você tem que colocar carne e osso em tudo aquilo."

Equipe afiada

O método de Leigh exige uma entrega total do ator ao projeto. A comunicação e a compreensão entre diretor e elenco também são fundamentais: os resultados ficam evidentes durante sua carreira. Brenda Blethyn fez uma atuação histórica em Segredos e Mentiras, ao lado de Marianne Jean-Baptiste. Sally Hawkins era a alma de Simplesmente Feliz. Jim Broadbent estava brilhante tanto no divertido Topsy-Turvy - O Espetáculo, quanto no tocante Mais Um Ano.

Mr. Turner
Trabalho em conjunto tentou recriar diversos aspectos da vida e arte de William TurnerFoto: DW

Em Mr. Turner, Leigh volta a trabalhar com Timothy Spall, conhecido pelo papel de Peter Pettigrew na saga Harry Potter. O britânico aceitou o desafio de retratar uma personagem complexa e difícil. "A maioria dos gênios são estranhos. Muitas vezes eles têm uma aparência estranha e são sociopatas", afirma o ator.

O Turner levado às telas por Mike Leigh é um tipo quase bonachão, um homem da classe operária muito apegado ao pai, que se relaciona de maneira esquisita com as mulheres, apesar de seu brilhante intelecto, e frequentemente se comunica através de grunhidos.

"Acho que o grunhido surgiu organicamente, desse incrível, instintivo, e emotivo intelectual autodidata que tinha um bilhão de coisas a dizer, mas nunca disse, então, ele dizia isso em grunhidos implodidos", diz Spall, que estudou dois anos pintura para entender melhor a personagem. "Essa era a maneira como ele se expressava na maioria das vezes porque havia algo queimando dentro dele."

Outro fator importante no filme é a fotografia, já que os quadros de Turner eram focados em grandiosas paisagens e céus arrebatadores. O fotógrafo Dick Pope diz que tentou capturar a paleta de cores do artista estudando suas obras e pesquisando sobre seu uso das cores.

Fracassos, triunfos e expectativas

Cannes Film Festival 2014 Nicole Kidman mit Tim Roth 14.05.2014
Nicole Kidman e Tim Roth estão em "Grace de Monaco"Foto: Reuters

Mr. Turneré um dos 18 filmes que fazem parte da mostra competitiva em Cannes neste ano. O festival teve sua abertura oficial na última quarta-feira (14/05), com Grace de Mônaco, de Olivier Dahan. O filme estrelado por Nicole Kidman no papel de Grace Kelly foi massacrado pela crítica internacional e considerado por muitos o pior filme de abertura dos 67 anos do Festival de Cannes.

O Brasil não teve nenhum filme selecionado para a mostra competitiva em 2014, mas emplacou um documentário na mostra Un Certain Regard. The Salt of the Earth fala sobre o fotógrafo Sebastião Salgado e foi dirigido pelo cineasta alemão Win Wenders e pelo filho do fotógrafo, Juliano Salgado.

Além de Leigh, outros dois filmes são os favoritos, até agora, para levar o prêmio do maior festival de cinema do mundo: o drama familiar turco Winter Sleep, de Nuri Bilge Ceylan, e Foxcatcher, de Bennett Miller, estrelado por Steve Carell.

EINSCHRÄNKUNG Wim Wenders und der brasilianische Fotograf Sebastiao Salgado
"The Salt of the Earth" é o Brasil em CannesFoto: Thierry Pouffary/Decia Films

No entanto, há muito que acontecer até a sexta-feira (23/05), último dia da mostra competitiva. Ainda serão exibidos novos filmes de Jean-Luc Godard, Ken Loach, David Cronenberg, Jean-Pierre e Luc Dardene, entre outros.

A Palma de Ouro será entregue no sábado (24/05). O vencedor deste ano será escolhido pelo júri presidido pela cineasta Jane Campion. A neozelandesa foi a primeira mulher a presidir o júri em Cannes. Em 1993, com O Piano, ela se tornou a primeira, e única até aqui, diretora da história do festival a ganhar a Palma de Ouro.