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Dramaturgo "meia-oito" ainda causa furor

Simone de Mello12 de março de 2004

Fracasso de crítica, sucesso de público: Rolf Hochhuth critica capitalismo selvagem e esgota bilheteria com a peça McKinsey vem aí, encenada em Brandemburgo.

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"McKinsey vem aí" denuncia "ditadura do capitalismo"Foto: dpa zb

A mais recente peça de Rolf Hochhuth, McKinsey vem aí (McKinsey kommt), como sempre altamente polêmica, teve sua temporada prolongada na cidade de Brandemburgo, após os ingressos das apresentações inicialmente previstas terem se esgotado semanas antes da estréia, em 13 de fevereiro. Em mais quatro apresentações marcadas para maio, o público poderá tirar as próprias conclusões sobre a crítica de Hochhuth à "ditadura do capitalismo".

Tentativa de proibição

- A controvérsia em torno da peça começou ainda durante os ensaios, quando a empresa de consultoria McKinsey tentou proibir a montagem, acusando o autor de difamação. Outros representantes do empresariado e dos círculos financeiros pressionaram o autor a eliminar um trecho que podia ser entendido como conclamação do público a atentados contra líderes empresariais, no molde dos praticados na década de 70 pela Fração do Exército Vermelho (RAF).

Capitalismo selvagem

- McKinsey kommt critica a hegemonia irrestrita, o domínio desenfreado e a falta de escrúpulos da economia de mercado neoliberal, denunciando a conivência dos Estados e as lacunas nas constituições nacionais. O tema faz jus ao repertório do dramaturgo engajado, cuja literatura de protesto faz furor desde a década de 60 e o teatro-documentário típico da época.

A linguagem panfletária de Hochhuth, que há praticamente dez anos não consegue encenar suas peças em nenhum teatro de destaque na Alemanha, provocou a opinião pública, mas desagradou a crítica.

Fogo à bandeira européia

- "Rolf Hochhuth, o pretenso militante pioneiro do teatro de denúncia, é absolutamente inofensivo, por exigir exatamente o contrário de uma revolta armada, ou seja, o fortalecimento do Estado nacional de rigor moderado." - critica E. Finger, no semanário Die Zeit.

"A peça termina com a bandeira da União Européia sendo queimada em frente ao edifício do Tribunal Constitucional Federal alemão. Não simbolicamente, mas sim de fato, com isqueiro e tudo. Os camaradas do grupo local de skinheads de Brandemburgo teriam ficado fascinados", ironiza a crítica.

Rolf Hochhuth
Escritor Rolf HochhuthFoto: AP

Cristãos e aliados na mira

- Fazendo uso dos recursos do teatro-documentário da década de 60, Rolf Hochhuth se tornou mundialmente famoso com a estréia de sua primeira peça, O Vigário: Uma Tragédia Cristã, em 1963, sob direção de Erwin Piscator. A peça lançou a polêmica questão da conivência do papa Pius XII e da Igreja Católica com a perseguição dos judeus durante o nazismo.

Com Soldados, Necrólogo em Genebra, encenada na Freie Volksbühne de Berlim, em 1967, a acusação cai sobre Winston Churchill, responsável pelo bombadeio das cidades alemãs durante a Segunda Guerra.

Juízes e algozes

- Desde seu apogeu, na década de 60, até McKinsey vem aí, o alvo de ataque de Hochmuth variou bastante: do Judiciário nazista (Juristen / Juristas, 1979) até a postura impositiva da Alemanha Ocidental na reunificação (Wessis in Weimar / Os do Oeste em Weimar, 1993), passando pela fome de lucro da indústria farmacêutica (Ärztinnen / Médicas, 1980), os demandos do governo Reagan (Judith, 1984) ou a culpa alemã na Primeira Guerra (Sommer 1914 / Verão 1914, 1990).

Sempre meia-oito

- Apesar de sua linguagem teatral mal ter se renovado nas últimas três décadas, uma das críticas unânimes contra McKinsey vem aí, o dramaturgo de quase 73 anos continua gerando polêmica. Algo de que se admira o crítico Nikolaus Merck, do diário Frankfurter Rundschau: "A revolução anunciada por Hochhuth (ainda) não aconteceu no teatro. Mas os ingressos estão esgotados até abril. Resta saber como Hochhuth consegue isso."