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Dunga tem melhor início na Seleção em 46 anos

Philip Verminnen30 de março de 2015

Com oito vitórias em oito jogos, técnico está perto de superar Saldanha e quebrar marca de 1969. Capitão do Tetra mantém base, recupera autoestima de jogadores e, aos poucos, devolve credibilidade ao futebol brasileiro.

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Brasilien Fußball WM 2014 Fußballspieler Dunga
Foto: NELSON ALMEIDA/AFP/Getty Images

São oito vitórias em oito jogos. Desde que herdou o comando – e o caos – deixado por Luiz Felipe Scolari, Dunga mantém 100% de aproveitamento. Este é o melhor início de um treinador à frente da seleção desde 1969, quando João Saldanha somou nove triunfos contras outras seleções nacionais.

Após o fiasco da Copa do Mundo de 2014, que resultou na pior estatística defensiva do Brasil em todas as edições de Mundiais e colocou o futebol brasileiro em descrença, especialmente devido à impiedosa goleada por 7 a 1 contra a Alemanha, Dunga recuperou a autoestima da Seleção, trabalhou muito o lado psicológico dos jogadores, porém não deixou de fazer suas mudanças – táticas e técnicas.

Como era esperado, alguns atletas, como Fred, Dante, Jô, Paulinho e Bernard, que estiveram entre os mais criticados na campanha da Copa, além de Maicon, por indisciplina, perderam espaço na Seleção. No entanto, Dunga vem mantendo o esqueleto montado por Felipão: a defesa é quase a mesma, com Thiago Silva, David Luiz e Marcelo; o volante Luiz Gustavo continua como guardião do meio-campo, que segue tendo Oscar como armador. Fernandinho e Willian ganharam espaço. E Neymar, claro, ainda é o camisa 10.

"Tem de dar confiança aos jogadores depois de uma Copa do Mundo em que foram criticados. Agora estão no caminho, buscando o equilíbrio", disse Dunga, após a vitória convincente sobre a França. No entanto, para os dois últimos amistosos, ele convocou apenas nove remanescentes do último Mundial. "Não pode mudar tudo a toda hora. Não pode colocar como terra arrasada. Temos jogadores de qualidade", explicou.

A Seleção, aliás, desde que Dunga assumiu, derrotou França e Argentina, duas seleções que, por um placar bem inferior ao brasileiro, também perderam para a Alemanha durante a Copa. Melhor: dos oito adversários pós-Copa, apenas dois, Turquia e Áustria, não estiveram no Mundial do Brasil.

Ainda preso na "Neymar-dependência"

Dos 18 gols marcados pela Seleção nestes oito amistosos, 13 foram de atletas que estiveram no grupo de Felipão. Somente Neymar balançou as redes oito vezes, se tornando inclusive o quinto maior artilheiro da história da Seleção, com 43. Outros cinco gols foram marcados por Willian, duas vezes, Oscar, David Luiz e Luiz Gustavo. Os cinco restantes foram anotados por Diego Tardelli (2), Roberto Firmino (2) e um gol contra da seleção da Turquia. Detalhe importante: a equipe sofreu apenas dois gols.

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Dos 18 gols da equipe desde o retorno de Dunga, Neymar marcou oito. Com 43 gols, ele é o quinto maior artilheiro da história da seleção brasileiraFoto: Reuters/Jason Lee

"Foi difícil depois de tudo que aconteceu na Copa, mas demos a volta por cima. Sabemos que não podemos baixar a cabeça e ficar pensando no que passou", simplificou o atacante do Barcelona.

O que Dunga ainda não conseguiu mudar é a "Neymar-dependência" na Seleção, mas o capitão nas Copas de 1994 e 1998 mexeu nas estruturas da equipe. Thiago Silva perdeu a braçadeira para o atacante do Barcelona, algo incomum na história da seleção brasileira, que costuma ter capitães do setor defensivo, mesmo nas épocas de Pelé, Romário e Ronaldo. Além disso, pode-se interpretar as convocações constantes de Filipe Luis e Miranda, que atuaram em todos os oito jogos sob Dunga, como uma leve cutucada em seu antecessor, Scolari.

Firmino: quem mais ganhou com Dunga

Porém, no setor de ataque, Dunga ainda encontra problemas para achar um camisa nove. Nas convocações, figuram em sua maioria os nomes de Diego Tardelli, Robinho, Roberto Firmino e Luiz Adriano. No entanto, com as últimas duas formações, contra França e Chile, Dunga mostrou tender para algo que deu certo na geração de ouro da Espanha: atuar sem centroavante. Contra os chilenos. a Seleção apenas deslanchou quando ele sacou Luiz Adriano e colocou Roberto Firmino em campo – mesma formação que dominou a França, em Paris.

O meia do Hoffenheim, por sinal, vem sendo quem mais ganhou com a reformulação promovida por Dunga. Pois o treinador deixa claro que quer fugir do futebol mais estático, com blocos bem definidos. Com Willian, Oscar, Philippe Coutinho, Fernandinho, Elias, Neymar e Roberto Firmino, a seleção brasileira tem peças flexíveis para o setor de armação.

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Eficiente e decisivo: Roberto Firmino saiu do banco e anotou os dois gols das vitórias contra Chile e ÁustriaFoto: Reuters/Charles Platiau

Certamente não cabem comparações, mas o poder de flutuação, movimentação, criação de espaços, principalmente com volantes que sabem sair jogando, lembra a filosofia de jogo adotada por Mário Jorge Lobo Zagallo, na Copa de 1970. Bem diferente da escola tática de Carlos Alberto Parreira, treinador de Dunga na campanha do Tetra, e de Felipão, na conquista do Penta.

"Antes, tínhamos jogadores que faziam gols na Europa e que eram referência, e hoje deixamos de ter essas figuras. Tínhamos nomes como Careca, Ronaldo, Rivaldo. Hoje, não tem um que se sobressai muito. Só Neymar. E isso incomoda o futebol brasileiro", reconheceu Dunga.

A poucos passos do recorde de Saldanha e Aimoré

Em sua segunda passagem comandando a Seleção, Dunga precisa de mais cinco vitórias para assumir a liderança no quesito de início mais vencedor da história. Além de João Saldanha, que na fase preparatória para a Copa do Mundo de 1970 somou, a rigor, 12 vitórias consecutivas – a Fifa desconsidera quatro amistosos contra combinados estaduais e clubes brasileiros – Aimoré Moreira detém o recorde de 12 vitórias, todas contra seleções de países.

Aimoré Moreira treinou a Seleção por cinco oportunidades. Mas em sua primeira passagem, o ex-jogador do Botafogo assumiu o comando da seleção brasileira um ano antes da Copa do Mundo de 1962. Foram 12 vitórias até o primeiro tropeço, que viria apenas no segundo jogo da Copa, no empate sem gols com a Tchecoslováquia, jogo marcado pela contusão que tiraria Pelé daquele Mundial.

E apenas como curiosidade, Armindo Nobs Ferreira, em 1934 – nos tempos em que, como diz o jargão, "se amarrava cachorro com linguiça" – venceu suas primeiras nove partidas frente à Seleção, porém todas elas contra combinados, seleções estaduais ou clubes brasileiros.

E para quebrar o recorde, Dunga tem pela frente os últimos dois amistosos preparatórios para a Copa América, contra México e Honduras, ambos no Brasil, e os três primeiros confrontos pela fase de grupos do torneio, que será disputado no Chile, a partir de 11 de junho: Peru, Colômbia e Venezuela.

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