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Economia assume papel central nas eleições do Reino Unido

Chris Cottrell (av)4 de maio de 2015

Após cinco anos de estagnação e austeridade, partidos cortejam britânicos com promessas de elevar padrão de vida. Eleição é a mais imprevisível em duas décadas e pode ser decisiva sobre futuro do país na UE.

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Foto: AFP/Getty Images/S. Rousseau

A incerteza é algo que nem os mercados financeiros nem os investidores fazem a questão de ter. No entanto, às vésperas das eleições gerais no Reino Unido – as mais acirradas em quase duas décadas –, acionistas e banqueiros do país aparentam calma.

Nenhum dos partidos no páreio conseguiu conquistar liderança sólida e estável nas pesquisas de intenção de votos. A maioria dos eleitores já conta com um Parlamento dividido, resultando em semanas de barganhas políticas. Há advertências sobre uma possível desaceleração da economia, caso as negociações de coalizão se estendam demasiadamente.

Paira, além disso, a perspectiva de os britânicos se retirarem da União Europeia. Essa probabilidade aumentou com a promessa do primeiro-ministro conservador, David Cameron, de realizar um referendo a respeito em 2017, caso reeleito.

No entanto, à medida que o pleito desta quinta-feira (07/05) se aproxima e a incerteza cresce, as profecias de turbulência nos mercados financeiros permanecem basicamente irrealizadas.

As ações das maiores companhias britânicas subiram cerca de 8% desde início deste ano, alcançando novos recordes; e os juros para créditos com prazo de dez anos ainda estão a meio ponto de distância dos recordes negativos de janeiro. Até mesmo a libra esterlina registrou uma alta durante cinco semanas, chegando a quase 1,53 dólar, antes de cair de volta para 1,51 dólar.

Embora o resultado das eleições ainda seja uma grande incógnita, alguns empresários e banqueiros já se posicionaram claramente quanto a seu desfecho preferido. A maioria dos acionistas mais ricos do Reino Unido é contra um referendo sobre a permanência britânica na UE, mas eles tampouco se sentem seguros com um governo trabalhista que, receiam, vai eliminar os bônus dos banqueiros e aumentar as taxas de imposto de renda para os ricos.

Versões divergentes

A economia vem desempenhando um papel central na atual campanha eleitoral. Após cinco anos de estagnação, austeridade e uma recuperação gradual, os principais partidos prometem reduzir o déficit e elevar o padrão de vida.

O Partido Conservador tem chamado a atenção a uma taxa de desemprego, que caiu para 5,6%, seu nível mais baixo de 2008. Cameron fala de um "milagre dos empregos".

Outro cavalo de batalha da legenda é o aumento real dos salários em 1,8% no início deste ano, comparado a 2014, com a inflação em 0%. O premiê, que presidiu essa rápida recuperação econômica, apresentando uma das mais velozes taxas de crescimento do mundo, promete "terminar o trabalho".

O Partido Trabalhista, por sua vez, interpreta de forma diversa os números relativos ao desemprego, lamentando a incapacidade dos conservadores de elevar os padrões de vida, nos cinco anos de Cameron à frente do governo – apesar de haverem criado mais de 1,5 milhão de novas vagas de trabalho.

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Líder trabalhista Ed MilibandFoto: Reuters/S. Rousseau/PA Wire

Muitas empresas ainda dependem de mão de obra mal paga e mal empregada, afirma o líder dos oposicionistas, Ed Miliband, e o verdadeiro aumento salarial apenas começa a se delinear. Portanto a maioria do eleitorado comum ainda não sentiu muito a alegada recuperação, aponta.

Dados econômicos divulgados no fim de abril parecem corroborar a avaliação trabalhista: o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) nos primeiros meses de 2015 é o mais fraco desde 2012. Aliados à insatisfação nos setores industrial e de construção, esses dados poderão se revelar decisivos para parte do eleitorado britânico.

Manifestos vagos

No momento, os dois maiores partidos políticos do Reino Unidos estão cabeça a cabeça. A divulgação de seus manifestos eleitorais, no início de abril, pouco contribuiu para conquistar os eleitores indecisos. Possivelmente porque nenhuma das legendas comunicou uma imagem muito detalhada de como pretende administrar os cofres públicos, caso saia vencedora.

Conservadores, trabalhistas e liberal-democratas fizeram promessas ambiciosas de conter o déficit orçamentário nacional. No entanto – conforme concluiu a análise de uma instituição de pesquisa – para tal basearam-se, em grande parte, em expectativas exageradamente otimistas, como a de reduzir fraudes e falhas humanas, ou combater a sonegação de impostos.

"Todos os partidos nos contaram que vão aumentar as coisas, e nenhum deles deu muitos detalhes sobre onde vão ter que tirar algo das pessoas", comentou o diretor do Instituto de Estudos Fiscais (IFS), Paul Johnson, ao apresentar os resultados.

Conservadores

Os conservadores, por exemplo, juraram não só eliminar inteiramente o déficit orçamentário britânico até 2018, como alcançar um superávit, através de cortes profundos de gastos equivalentes a 5,2% da receita nacional. Eles também se comprometeram a um "congelamento tributário de cinco anos", em que não haveria aumento nos impostos de renda, de valor agregado (IVA) ou na National Insurance, que é descontada das folhas de pagamento.

Tais promessas evocaram aquelas feitas cinco anos atrás, quando visavam combater o déficit orçamentário, mas foram barrados pela crise de endividamento da União Europeia. De lá para cá, Cameron também teve quebrar sua promessa de manter estável o IVA, que acabou sendo elevado em 2,5 pontos percentuais.

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David Cameron recorre a promessas já feitas cinco anos atrásFoto: Reuters/A. Dennis

O premiê prometeu, ainda, aumentar para 12.500 libras por ano o teto de isenção do imposto de renda, a partir de 2020, assim como facilitar a aquisição de casa própria, num mercado nacional altamente valorizado, através de uma combinação de subsídios e descontos.

Trabalhistas

O Labour apresentou planos semelhantes de equilibrar o orçamento e, se possível, alcançar um superávit, embora sem se comprometer com um prazo definido.

De acordo com o IFS, os planos trabalhistas sugerem uma redução de 3,6% no endividamento público. Caso isso se confirme, não seriam necessários cortes significativos de gastos. Por outro lado, estão previstos pequenos aumentos dos impostos líquidos.

O Partido Trabalhista também afirma a intenção de resolver crise nacional de moradia. Para tal, Ed Miliband promete promover a construção de residências pelo setor privado, atingindo um mínimo de 200 mil novas casas até 2020. Além disso, a compra do primeiro imóvel ficaria isenta de taxação. O líder igualmente promete atrelar o ajuste das aposentadorias à inflação

Liberal-democratas

O Partido Liberal-Democrata foi o parceiro minoritário dos conservadores na coalizão do último governo. Sua bandeira é ser uma opção de meio-termo. No manifesto de campanha, prometem uma consolidação do orçamento de 3,9% da receita nacional – mais do que os trabalhistas, porém menos do que os conservadores.

Seus planos incluem cortar um total de 12 bilhões de libras de alguns departamentos estatais, assim como os gastos com a seguridade social. Caso vença no dia 7, a legenda liderada por Nick Clegg promete economizar 10 bilhões de libras, até o fim do próximo mandato, através do combate à sonegação fiscal – mais do que os demais partidos.

Os liberal-democratas especificaram os setores em que permanecerão irredutíveis nas eventuais negociações futuras. Eles incluem os gastos com saúde, mais verbas para a educação e o aumento dos salários do funcionalismo público.