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1948: reforma cria o marco

DW (as)20 de junho de 2008

Bem-estar para todos: esse é o conceito por trás da economia social de mercado, introduzida na Alemanha em 20 de junho de 1948 com a reforma monetária que criou o marco alemão.

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1948: Loja de Berlim atrai clientela com preços na nova moeda, o marco alemãoFoto: AP

Em 20 de junho de 1948 entrou em vigor a primeira lei de reforma do sistema monetário alemão. Entre os arquitetos da reforma monetária estava Ludwig Erhard, então diretor de Economia das três regiões de ocupação ocidental e futuro chanceler federal alemão.

Erhard, conhecedor das dificuldades enfrentadas pelos alemães no dia-a-dia (prateleiras vazias nos supermercados, inflação no mercado negro e inquietação entre a população), mostrou-se aliviado numa entrevista radiofônica que foi ao ar em 21 de junho de 1948, um dia após o início da reforma.

"Após as tensões dos últimos dias, a normalidade cotidiana voltou a reinar entre nós. O povo alemão foi hoje em paz ao trabalho, e eu acredito que poucos não o fizeram com um sentimento de libertação que os tornou conscientes do quão fundo chegamos ao abismo", declarou Erhard.

O abismo a que Erhard se referia era conhecido da população alemã desde o final da Segunda Guerra Mundial: uma quantidade enorme de dinheiro, para a qual havia poucas mercadorias disponíveis. Viajar centenas de quilômetros atrás de um saco de batatas ou atacar trens para roubar carvão fazia parte do cotidiano do pós-guerra tanto quanto o mercado negro. Lá tudo se comprava, desde que os clientes dispusessem dos bens de troca necessários.

Ordem econômica liberal

Währungsreform 1948 - Geldhandel
Troca da moeda após a reformaFoto: picture alliance/dpa

Para Erhard, a reforma monetária era apenas o primeiro passo para uma nova ordem econômica, de cunho social. No centro dessa nova ordem deveriam estar a liberdade de consumo, a livre iniciativa e a liberdade de trabalho, bem como o direito à propriedade e à livre contratação coletiva.

Somente quando esses direitos estivessem assegurados num ambiente de livre escolha profissional e de emprego e principalmente de liberdade de consumo, seria possível esperar que o povo alemão voltasse a participar ativamente na definição do seu destino, afirmava Erhard.

Nessa ordem econômica liberal deveria surgir principalmente uma ampla rede de proteção social, um sistema tributário justo e coerente com os ganhos de cada indivíduo, bem como a consciência da responsabilidade social do capital.

Com a reforma monetária de 20 de junho, todas as dívidas do Estado nazista alemão foram extintas. Dívidas privadas e depósitos bancários foram desvalorizados na proporção de dez para um. Cada morador da zona de ocupação ocidental recebeu 40 marcos alemães em espécie. A nova moeda foi introduzida nesse dia.

De uma só tacada, parecia que todos os alemães eram igualmente ricos ou igualmente pobres. Mas a realidade era bem diferente. A reforma monetária privilegiou principalmente acionistas e proprietários de imóveis e fábricas, enquanto a maioria de população ficou de mãos vazias. Especialmente atingidas foram as pessoas que haviam guardado dinheiro em espécie. Elas viram suas economias serem desvalorizadas na proporção de 100 para 6,5.

Alguns ganharam, outros perderam

Bundeskanzler Ludwig Erhard
Ludwig ErhardFoto: AP

As discrepâncias eram bem conhecidas dos economistas, como ficou claro no discurso radiofônico proferido pelo então diretor do conselho de administração econômica da zona de ocupação britânica e norte-americana, Hermann Pünder, poucos dias após a reforma monetária entrar em vigor.

"Penso nos nossos idosos, nos nossos aposentados, naqueles que injustamente foram expulsos de sua pátria e em muitos outros em situação semelhante, os quais além da vida conseguiram salvar apenas um pacotinho de dinheiro que agora é drasticamente desvalorizado. Por isso preciso destacar: o que a reforma tributária tira, o que ela destrói há muito não é mais um verdadeiro patrimônio, mas apenas ilusões", afirmou Pünder.

A introdução da reforma não transcorreu de forma tão tranqüila como se planejara. Já nos primeiros dias não havia mais mercadorias nas lojas e os preços dispararam. Na imprensa e nos meios políticos exigia-se o fim do experimento econômico. Cerca de 9 milhões de trabalhadores aderiram, em novembro de 1948, a uma greve convocada pelos sindicatos – até hoje a única greve geral da história do pós-guerra na Alemanha.

Mas o milagre econômico alemão dos anos 1950 ajudou a consolidar a imagem de sucesso da reforma monetária, e os meses difíceis que a sucederam caíram no esquecimento.