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Eixo franco-alemão pode estremecer com Merkel

(sm)19 de julho de 2005

Angela Merkel visita a França como candidata democrata-cristã às eleições parlamentares alemãs. Em caso de uma mudança de governo em Berlim, as relações bilaterais devem perder a intensidade.

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Chirac e Schröder: eixo franco-alemão virou amizadeFoto: AP

A democrata-cristã Angela Merkel não é conhecida como defensora fervorosa da integração européia, ao contrário do ex-premiê Helmut Kohl, que a lançou na política federal alemã. Fosse durante a Guerra Fria ou em pleno processo de reunificação alemã, a consolidação da Europa era uma questão de paz ou guerra para Kohl.

O atual premiê, Gerhard Schröder, por sua vez, apostou na parceria política com a França como estratégia de liderar o processo de integração europeu e criar uma frente de resistência à hegemonia política estadunidense. Em caso de ser eleita primeira-ministra alemã, Merkel provavelmente vai retomar uma linha mais "atlanticista" e pelo menos estabelecer uma eqüidistância entre Paris e Washington.

O cego e o paralítico

Segundo comentou recentemente o diário francês Le Monde, as relações entre Alemanha e França lembram a fábula de La Fontaine sobre o cego e o paralítico que compensam suas deficiências caminhando juntos. E, de fato, Jacques Chirac e Gerhard Schröder nem sempre cultivaram a amizade que mantêm hoje. Durante o primeiro mandato de Schröder, quando o presidente francês ainda governava em regime de "co-habitação" com o premiê socialista Lionel Jospin, Schröder mantinha apenas contatos profissionais com os dois líderes franceses.

Com Tony Blair, por sua vez, que conseguiu conduzir o Labour Party a uma vitória eleitoral inédita, Schröder se entendia bem. Ambos chegaram a publicar em 1999 um programa comum intitulado "O Novo Centro", algo que não demorou a cair em esquecimento.

Nas eleições alemãs de 2002, Chirac apostava na vitória do conservador Edmund Stoiber, da União Social Cristã. Ele o recebeu no Palácio do Eliseu e chegou a condecorá-lo. Schröder se vingou após sua reeleição, fazendo primeiro uma visita a Londres, em vez de manter a tradição de visitar Paris como novo chefe de governo, um costume existente desde Adenauer, o primeiro chanceler federal da Alemanha.

No entanto, a política externa de Schröder mudou nitidamente durante seu segundo mandato. Sua vitória eleitoral deveu-se em grande parte à sua campanha contra os preparativos estadunidenses para a guerra do Iraque. Enquanto Blair se manteve fiel a Washington e assumiu a posição de ponte entre Europa e EUA, Schröder optou pela criação de um eixo de resistência europeu junto com a França. A aproximação franco-alemã também implicou concessões de Berlim na política econômica, como – por exemplo – o apoio ao modelo agrícola defendido pela França e repudiado pelo Reino Unido.

Convergência atlanticista

Uma possível mudança de governo em Berlim com certeza implicaria uma maior convergência com Washington e conseqüentemente um distanciamento de Paris. Seria de se esperar que o ministro do Exterior de uma possível coalizão de governo conservadora viesse do Partido Liberal, como dita a tradição. Ao lado do social-cristão Edmund Stoiber, o líder da bancada liberal no Parlamento, Wolfgang Gerhardt, é o favorito.

Gerhardt confirmou que a política externa liberal vai continuar lutando por uma cadeira permanente da Alemanha no Conselho de Segurança da ONU. No entanto, ele não pretende passar por cima da autoridade dos EUA, como o fez Schröder, ao se aliar ao Brasil, à Índia e ao Japão, mas sim tentar conquistar o respaldo estadunidense.

Ao contrário do que fez Schröder, os conservadores provavelmente se reaproximariam dos "países pequenos" da União Européia, em detrimento de uma priorização do eixo franco-alemão. Outra divergência da política européia em relação à atual coalizão social-democrata e verde seria a recusa dos partidos cristãos em aceitar a candidatura oficial da Turquia à UE. Neste ponto, Merkel poderia desagradar Washington, pois o presidente George W. Bush favorece a aceitação da Turquia na União Européia, por causa de sua posição geopolítica estratégica.