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"Ele não respeitava outras nações"

Mathis Winkler (fm)17 de abril de 2006

Em entrevista à DW-WORLD, Jeffrey L. Sammons, especialista em Heine e professor da Universidade de Yale, explica alguns dos problemas envolvendo a recepção do escritor.

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'Ele foi um belo exemplo de figura do contra na cultura alemã'Foto: dpa

DW-WORLD: Por que se deveria ler Heine nos dias de hoje?

Jeffrey L. Sammons: Ele é um dos grandes poetas e escritores da literatura mundial. É extremamente rico e criativo, um escritor original, motivado por premissas contraditórias que geram uma enorme tensão em seus escritos. Uma vez que muitas questões permaneceram abertas, elas fazem de Heine uma testemunha das inquietações e dificuldades de seu tempo e, talvez, até mesmo do nosso tempo.

Como se explica que ele seja mais popular em alguns países do que na própria Alemanha?

Não se pode dizer que esta negligência ainda aconteça atualmente, mas as dificuldades que o contato com a sua literatura impõe começaram no período do Modernismo. Muitos escritores alemães e intelectuais se sentiram na obrigação de se distanciar de Heine e da sua proposta de poesia associada com o Buch der Lieder (Livro das canções).

Havia um sentimento na época de [Stefan]George, [Rainer Maria] Rilke e [Hugo von] Hofmannsthal de que Heine não podia ser levado a sério, o que provocou um declínio na sua reputação entre os definidores da cultura.

Acredito que isso tenha se prolongado no período posterior (ou seja, após a Segunda Guerra Mundial). Enquanto os alemães do Leste tomaram a iniciativa de divulgar suas obras, na Alemanha Ocidental foi mais difícil recuperar sua importância.

Heine é geralmente chamado de "cosmopolita" e "cidadão europeu". Estas descrições são apropriadas?

Acho que Heine merece destaque como uma figura da contracultura na Alemanha. Sinto que, de várias formas, foi reescrito para cobrir algumas necessidades contemporâneas alemãs. Era muito importante descobrir um escritor que se contrapusesse aos clichês e modelos associados ao nacionalismo alemão do passado. Acredito que Goethe, como poeta, também sirva a este propósito.

Se você se sentasse e lesse o que Heine escreveu sobre outros países e povos, veria que é quase tudo hostil. Ele não respeitava outras nações. Ele enxergava a Europa como um domínio franco-alemão, no qual outros países eram insignificantes e deveriam desaparecer.

O que Heine diria sobre a Europa atual?

Ele provavelmente teria sido mais feliz no período de Adenauer e De Gaulle, quando existia um certo tipo de sentimento de que se poderia salvar a Europa através de uma aliança franco-alemã, uma união da filosofia alemã e do espírito revolucionário francês para emancipar e liberar a Europa. Isto foi o que norteou os seus comentários sobre os acontecimentos político-sociais de seu tempo.

Jeffrey L. Sammons é professor emérito de Línguas Germânicas e Literatura na Universidade de Yale. É autor de muitos livros, incluindo quatro sobre Heine. Heinrich Heine: Alternative perspectives, uma coletânea de seus ensaios sobre Heine, será publicada na Alemanha ainda em 2006.