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Em 1971, escândalo da compra de jogos abalou o futebol alemão

Olivia Fritz (md)9 de agosto de 2013

Um dos mais vergonhosos episódios em 50 anos de Bundesliga foi um escândalo de subornos. O esquema de manipulação de resultados de jogos envolveu quase um terço dos clubes do campeonato.

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Foto: picture-alliance/dpa

Na temporada 1970/71, o Borussia Mönchengladbach conseguiu defender seu título com sucesso. Mas a batalha contra o rebaixamento foi repleta de tensão até os últimos instantes. O Rot-Weiss Oberhausen e o Arminia Bielefeld conseguiram, por pouco, se manter na Primeira Divisão, enquanto o Rot-Weiss Essen e o Kickers Offenbach desceram para a Segundona. Mas nem tudo correu de forma regular, como revela o presidente do Offenbach, Horst-Gregorio Canellas, semanas depois, no dia 6 de junho, durante a comemoração de seu aniversário de 50 anos.

Na festa, realizada no jardim de sua casa, ele tocou para os convidados uma fita cassete com uma ligação telefônica feita antes da última rodada do campeonato, entre ele e o jogador Bernd Patzke, zagueiro do Hertha Berlim e da seleção alemã.

A conversa girou em torno de suborno. O Hertha deveria derrotar o Bielefeld, para favorecer o Offenbach. Mas o Bielefeld também havia oferecido dinheiro aos jogadores do Hertha. Muito dinheiro: cerca de 15 mil marcos por jogador. Os dirigentes da Federação Alemã de Futebol (DFB, na sigla original) e o então técnico da seleção alemã, Helmut Schön, mal puderam acreditar no que ouviram.

Conversa no vestiário

Os jornalistas convidados farejaram naquilo um escândalo de proporções históricas. Canellas desmascarou jogadores, treinadores, cartolas e provocou uma avalanche. "Tenho uma meta: que finalmente os rumores acabem, porque, na minha opinião, eles doem mais do que a verdade", diz Canellas. Ele queria provar que a última rodada ocorreu de forma irregular. "E por isso reivindicamos o direito do nosso clube de jogar na Primeira Divisão da Bundesliga."

Bernd Patzke e Tasso Wild, ambos jogadores do Hertha, foram considerados os mentores do escândalo. Citado no telefonema, Wild admitiu mais tarde ter conversado no vestiário com seus colegas de equipe, que aceitaram o suborno. "Nove foram a favor, argumentando que se ‘eles são tão estúpidos para nos dar dinheiro, então pegamos'. Sete jogadores foram contra. E acabamos ficando com o dinheiro."

Naquela temporada, o Hertha ainda não havia perdido um jogo sequer em casa. Mas aquela não foi a única partida manipulada no campeonato de 1970/71. Pouco mais de um terço dos clubes e mais de 60 jogadores estavam envolvidos no escândalo. O presidente da comissão de controle da DFB, Hans Kindermann, teve muito trabalho para desvendar toda a trama.

Fußball Urteilsverkündung im DFB-Skandal 1971
Jogadores Tasso Wild, Bernd Patzke e Manfred Manglitz, em julho de 71, após condenação por tribunal esportivoFoto: picture-alliance/dpa

Goleiro não sabia

Muitos jogadores foram posteriormente perdoados. Offenbach teve a licença revogada, assim como Bielefeld, que foi forçado a descer para a liga regional. Uma curiosidade é que, num jogo manipulado entre Schalke e Bielefeld, o gol decisivo só entrou no final do segundo tempo porque, segundo Gerd Roggensack, artilheiro do Bielefeld, supostamente, o goleiro do Schalke, Dieter Burdenski, não sabia do acerto.

"Os jogadores que deveriam fazer o gol não conseguiam marcar, embora tivessem tido várias oportunidades. E Burdenski, que era o único que não estava informado, defendia tudo."

Os torcedores ficaram chocados e abandonaram os estádios. Somente após a Copa do Mundo de 1974, na Alemanha Ocidental, vencida pelos donos da casa, é que as partidas da Bundesliga voltaram a apresentar o público de outrora.

Em consequência ao escândalo, a DFB aboliu o teto salarial para jogadores de futebol, que era então de 1,2 mil marcos.