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Em busca da foto perdida

Mathis Winkler (sv)27 de outubro de 2006

Fotografias 'caseiras', feitas por amadores, tendem a perder seu valor, quando são descartadas por seus autores ou proprietários. Em Weimar, uma fototeca tenta resgatar essas imagens.

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Fototeca recicla imagens fadadas ao esquecimentoFoto: Fotothek Weimar

Longe da rota que leva aos rastros de Goethe e Schiller em Weimar, a alemã Anke Heelemann ocupa-se de outras lembranças na cidade. Na loja que fundou e que chama de fototeca (Fotothek), estão armazenadas milhares de fotos em diversas caixas e armários.

Fotothek Weimar 3
Resgantando a memória alheiaFoto: Fotothek Weimar

Num canto da loja, há uma série de slides sobre uma mesa iluminada, ao redor da qual estão espalhadas almofadas vermelhas para as pessoas se sentarem. Nas prateleiras, há ainda mais fotos, dispostas de tal forma que o verso, com a descrição, é exposto e não a frente.

Uma tática que não induz necessariamente à venda. Mas essa não é mesmo a intenção de Heelemann. A estudante de Design e Mídia da Universidade Bauhaus de Weimar criou o que chama de "loja especializada em fotografias esquecidas", uma idéia desenvolvida a partir de seu trabalho de conclusão de curso. "A idéia básica foi a de criar um espaço público, onde é possível encontrar essas imagens. De certa forma, a fototeca parece ser a única forma de lidar com o assunto", diz ela.

Memórias descartadas

Fachgeschäft für vergessene Privatfotografien
Anke Heelemann, em WeimarFoto: picture-alliance/ ZB

Anke Heelemann reúne fotografias antigas de família, que foram jogadas fora ou esquecidas em algum lugar e acabaram sendo vendidas em mercados de pulga (reais ou virtuais).

"Eu estava sempre encontrando essas fotos por aí", conta a artista, que confessa sua fascinação pelas histórias contidas nessas imagens, que perderam um dia seu "valor" e acabaram esquecidas em caixas de sapato, esperando por compradores.

"Sempre senti que havia algo deixado nessas fotografias", diz Heelemann, quando conta que chegou a comprar aproximadamente 25 mil fotos por um par de euros cada caixa. Foi assim que a artista começou a formar suas primeiras coleções. "Há uma caixa com 600 fotos de um casal nas mais diversas poses, inclusive algumas obscenas, e a maioria delas dentro de um mesmo apartamento", conta Heelemann, que passou tempos especulando se o casal tinha ou não um caso de amor.

Na fototeca, ainda estão armazenadas muitas fotos, à espera de serem descobertas, mesmo que em caixas mais apresentáveis que as de sapato dos mercados de pulga. Heelemann começou a categorizar o vasto material que possui, dividindo as fotos, por exemplo, por temas como "praia", "animais" ou "aniversário" (os mais óbvios) e até mesmo "bolsas de mão" ou "braços cruzados".

Adote uma foto

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Opções à vontade: basta procurarFoto: Fotothek Weimar

A proposta é que o visitante seja chamado a dar uma olhada no material exposto. Mesmo que as fotografias não estejam à venda, é possível "adotá-las" em troca de uma doação. Depois que as imagens forem dispostas em um "álbum de adoção" por um determinado tempo, Heelemann envia-as para os novos padrinhos, que são obrigados a mandar de volta para ela uma foto da "imagem adotada" em seu novo ambiente.

Cerca de cem pessoas já aderiram à idéia de adotar uma foto. As razões são várias. Há, por exemplo, o caso de um visitante que resolveu presentear seu próprio pai com a imagem de um trabant, carro típico da ex-Alemanha Oriental, porque o pai dirigia um deles há muito tempo.

"Um jovem casal outro dia escolheu uma foto de avós, dizendo que optaram por essa porque eles não têm avós", lembra Heelemann, observando que, para alguns "clientes", sua loja serve como uma espécie de memória substituta.

Contra a idéia de um "cemitério de imagens"

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Caixas e mais caixas de lembrançasFoto: Fotothek Weimar

"Ela está oferecendo um tipo de serviço cuja necessidade não se tinha percebido antes. As pessoas entram de olhos arregalados, acham curioso. Partir da perspectiva alheia e comunicar-se com pessoas que não são necessariamente as que você conhece faz com que uma visita ao espaço se transforme em um evento artístico", observa Christine Hill, artista que vive entre Berlim e Nova York e que, como professora convidada da Universidade de Weimar, orientou Heelemann em seu projeto.

A idéia é continuar e até expandir a fototeca no próximo ano, diz Heelemann, que não gosta, contudo, que as pessoas vejam o espaço como um cemitério de imagens, onde depositem aquilo que não querem mais. Numa caixa sua, particular, Heelemann pretende continuar guardando suas fotografias prediletas. Entre as que considera mais especiais, há uma do bonde de número seis, de Dresden. No verso, está escrito: lugar de despedida – o número seis raptou meu amor. "É uma foto linda, que desenrola estórias", conclui Heelemann.