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Em busca da palavra preferida

ja / sv17 de junho de 2004

O Conselho Lingüístico Alemão e o Instituto Goethe anunciam: quem escolher a mais bela palavra da língua alemã concorre a vários prêmios, entre eles uma viagem à Ilha Maurício ou a Berlim. Ou seja, neurônios em ação!

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Bela paisagem para quem escolher a palavra mais bonita

A canção, o filme, a cidade, o país de que mais se gosta. A discussão em torno das preferências de cada um faz parte do cotidiano, mas o que dizer da sua palavra preferida? Todos os dias, milhares delas jorram de nossas bocas – das de alguns mais, de outros menos. Lingüistas detectam: apenas em um bate-papo rápido, utilizamos entre 400 e 800 palavras.

Uma palavra que diz tudo

Wort des Jahres: Teuro
Teuro: trocadilho que associa o euro à palavra «teuer» (caro, em alemão). Designa a alta de preços disfarçada que aconteceu no país após a introdução da nova moedaFoto: AP

O idioma alemão contabiliza um total de 100 mil palavras e expressões usadas cotidianamente. Se incluirmos aí termos regionais, antiquados, poéticos ou que pertençam ao repertório técnico e científico, chega-se a um total de 800 mil palavras registradas. Entre estas, certamente algumas mais belas que outras.

Certas palavras são facilmente associadas a determinadas sensações ou lembranças e algumas são capazes de resumir milhares de outras. É exatamente essa, "a" mais bela palavra da língua alemã, que o Conselho Lingüístico do país está buscando. É claro que ela deverá ter também um significado especial para quem envia sua sugestão para o concurso, que começou no último 4 de maio e vai até o próximo 1º de agosto.

Prêmios: Ilha Maurício ou Berlim

Hotel Adlon und Quadriga
O cinco estrelas Adlon, em BerlimFoto: dpa

Do júri que vai eleger a palavra mais bonita entre as sugeridas, fazem parte, entre outros, o cantor Herbert Grönemeyer, o cineasta Joseph Vilsmaier e o diretor-geral da Deutsche Welle, Erik Bettermann.

Os prêmios são atraentes: uma viagem para a Ilha Maurício, no Oceano Índico; um fim de semana literário em Berlim, com direito à hospedagem no cinco estrelas Adlon, bem ao lado do Portão de Brandemburgo; um curso de alemão de quatro semanas em um dos Institutos Goethe da Alemanha; um celular e muito mais.

O sol que derrete a rabugice

Sonne (sol) é talvez uma dessas palavras que brilham e esquentam, deixando um sorriso na boca ou uma pequena sensação de alegria. E será por que tantas pessoas se apaixonam no verão, ao contrário do inverno europeu, típico do que se chama de Schneemuffel – uma espécie de rabugice ou enfado da neve.

Muffel (uma mistura de preguiçoso com rabugento, resmungão), diga-se, seria uma candidata interessante para o posto de a mais bela palavra alemã? O Morgenmuffel (aquele que morre de preguiça de se levantar de manhã e cuja máxima é: Não ouse falar comigo antes das 11 horas...) é outro exemplar da categoria.

As mais concorridas

Até agora, os organizadores do concurso já receberam mais de 12 mil sugestões de palavras mais belas. A vencedora até agora é Liebe (amor), seguida de Heimat (pátria, terra natal) e Glück (sorte). Se a primeira e a terceira são preferências até singelas, a segunda colocada, tendo em vista a história alemã e o uso do vocábulo durante o período nazista, não é, pode-se dizer, uma escolha de muita sorte. A quarta posição é ocupada pelo correspondente alemão à saudade, ou seja, Sehnsucht, que pode também ser traduzida como nostalgia.

O quinto ao décimo lugares estão no momento ocupados respectivamente por Vergissmeinnicht (miosótis); Streicheleinheit (carícia ou literalmente unidade de carinho dada ou recebida por alguém); Frühlingserwachen (o despertar da primavera, ou seja, o despertar de uma pessoa depois de um longo e tenebroso inverno, tenha sido este literal ou não); Kinderlachen (risada de criança); Feierabend (descanso, fim da jornada diária de trabalho) e Wolkenkuckucksheim (literalmente casa do pássaro cuco nas nuvens e que significa castelos no ar, utopia).

Uma questão de ponto de vista

Schrebergarten in Frankfurt Oder
«Schrebergarten» em FrankfurtFoto: dpa

Há também palavras especiais no idioma alemão, que causam enorme dor de cabeça aos tradutores quando têm que ser transpostas para outra língua. Pode custar muito esforço, por exemplo, tentar explicar para um estrangeiro o significado da palavra Spiesser, uma espécie de "careta", ou como preferem alguns dicionários, "provinciano, atrasado".

Outro caso crítico é o Schrebergarten, um pequeno jardim, mantido tradicionalmente pela classe trabalhadora do país na periferia das cidades e que geralmente tem vários anõezinhos (sim, eles, os da Branca de Neve) espalhados.

O comum é haver uma Schrebergartenkolonie, ou seja, um conjunto desses jardinzinhos com pequenas casas para o repouso de fim de semana de ninguém menos que o Spiesser – aquele cidadão "careta", que respeita detalhadamente todas as normas de comportamento vigentes e não quer saber de confusão a seu lado. Ou seja, um paraíso da "babaquice".

Isso partindo, claro, do ponto de vista de um cidadão urbano e cosmopolita, porque um proprietário de Schrebergarten jamais partiria dessa perspectiva. Para ele, aquele jardim é apenas um oásis de paz à margem dos tormentos da cidade. Um lugar onde ele encontra amigos no fim de semana e sobre o qual ele, geralmente um trabalhador, pode enfim dar as cartas. Ou seja, a conotação dada a uma outra palavra depende mesmo do ponto de vista de quem fala.

"Sprechen Sie Deutsch?"

Como soa uma língua? As sensações que se tem ao ouvir um idioma são sempre diversas. Francês é tido como uma língua de charme, italiano como uma língua viva, inglês é considerado elegante. E o alemão? Certo é que o idioma é muito mais que mero instrumento de comunicação, sendo também uma forma primordial de expressão da cultura de um povo. O caráter de uma língua e das pessoas que falam esta língua são muitas vezes confundidos com os clichês que os rodeiam.

Um desses clichês faz até mesmo com que alemães, quando em férias no exterior, evitem falar a própria língua, com medo de serem confundidos com alguns compatriotas, que fora do país só pensam em suas batatas fritas, seus chucrutes e suas cervejas. Na opinião daqueles que até disfarçam sua origem, a língua alemã não é considerada um idioma sedutor. Ou será que é?