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Em cartaz: "O Pianista", de Roman Polanski

lk25 de outubro de 2002

O conhecido crítico literário Marcel Reich-Ranicki elogia o filme de Polanski como "incrivelmente autêntico".

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Cenário do filme no estúdio de BabelsbergFoto: Studio Babelsberg

O Pianista, filme de Roman Polanski premiado este ano com a Palma de Ouro em Cannes e já apresentado no Festival do Rio BR e na 26ª Mostra BR de Cinema de São Paulo, está em cartaz nos cinemas alemães desde quinta-feira (24).

O cineasta polonês confessou estar emocionado, quando compareceu à pré-estréia, na segunda-feira (21), em Berlim. Como sobrevivente do gueto de Varsóvia, estar ali, para apresentar "seu filme mais pessoal" aos alemães, era um "sinal da vitória sobre o nazismo". A película, aliás, foi produzida em grande parte nos estúdios de Babelsberg, em Potsdam, com exceção das cenas externas, rodadas em Varsóvia.

Polanski sempre soube que iria fazer um filme sobre o Holocausto, mas foi preciso que transcorressem mais de cinco décadas depois dos acontecimentos, para que isso se realizasse. Ele se decidiu pela história de Wladyslaw Szpilman, por ver nela uma centelha de esperança, explica. Essa "centelha de esperança" o cineasta descobriu na biografia do pianista que sobreviveu graças à intervenção de um oficial alemão. O jornal Süddeutsche Zeitung também vê uma centelha de esperança no próprio fato de Polanski ter conseguido, após tanto tempo, "olhar para trás", um passo que ninguém podia exigir dele, "só ele mesmo".

Documentação simulada

— Em crítica publicada no diário Frankfurter Allgemeine Zeitung, o conhecido Marcel Reich-Ranicki — que conviveu com Szpilman no gueto de Varsóvia , sendo como o pianista e Polanski sobrevivente do Holocausto — acentua a autenticidade do filme. Sendo que autenticidade, neste caso, tem um caráter muito especial: é que as filmagens "autênticas" que existem do gueto de Varsóvia foram feitas, na época, por cinegrafistas alemães com finalidade de propaganda, ou seja, as cenas eram escolhidas a dedo ou simplesmente reconstituídas.

O que Polanski e sua equipe fizeram foi na verdade "simular" a documentação, criando cenários e uma atmosfera que reproduzem com autenticidade o horror da vida naquele espaço e naquele tempo. "Polanski conseguiu o que eu nunca imaginei, nunca ousei esperar: reproduzir o cotidiano no gueto e sua atmosfera com tal precisão, que, ao assistir ao filme, fui muitas vezes tentado a acreditar que tinham sido incluídas nele cenas documentárias autênticas. Mas não, nada foi incluído, tudo foi reconstruído. E Polanski conseguiu fazer isso de maneira magistral", afirma Reich-Ranicki.

Falta de contrastes

— O que o crítico lamenta é que Polanski tenha seguido sua concepção com grande rigor, tendo abdicado de qualquer tipo de contraste visual ou atmosférico. Apesar dos horrores, também havia momentos bonitos na vida dos judeus no gueto, escreve Reich-Ranicki. "Eles eram martirizados e sofriam, mas também amavam." E, em meio a tudo isso, havia humor. "Eu vivi muito tempo perto de uma das entradas para o gueto. Lembro-me de um vizinho contando piadas uma noite. De repente ele precisou parar, porque escutamos tiros e gritos, tiros de alemães e gritos de judeus".

É possível que Polanski não tenha querido incluir em seu filme nada que pudesse ser mal interpretado como "minimização do acontecido ou concessão a um gosto duvidoso", supõe o crítico.

O rigorismo talvez tenha sido necessário, "para criar um filme tão grandioso, um filme em que as ambições artísticas são relegadas a um segundo plano por um outro tipo de ambição, a ambição de fazer jus a um dos capítulos mais sombrios da história mundial", conclui.