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Empreiteiras perdem 1,3 bi com perdão da dívida

Rolf Wenkel /gh26 de novembro de 2004

Indústria da construção civil ameaça processar governo alemão para cobrar créditos internacionais em parte já amortizados.

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Obras de infra-estrutura não foram pagas pelo governo iraquianoFoto: AP

A decisão tomada no último final de semana em Berlim pelos países integrantes do Clube de Paris de perdoar cerca de 80% da dívida externa do Iraque, pode causar prejuízos de mais de 1,3 bilhão de euros a grandes construtoras alemãs.

A informação foi divulgada pela Associação Alemã das Empresas de Construção Civil. Algumas das empreiteiras atingidas ameaçam processar o governo federal alemão para cobrar as contas em aberto. A associação acredita que a dívida externa do Iraque é bem inferior aos 125 bilhões de dólares estipulados pelo Clube de Paris.

Segundo o diretor executivo da entidade, Michael Knipper, a decisão do Clube de Paris foi meramente política, sem considerar quaisquer critérios econômicos. "As empreiteiras alemãs pagam a conta. É insuportável que, além de sofrer com a conjuntura fraca, ainda sejamos castigados por decisões governamentais que exigem de nós um sacrifício extra", disse.

Grandes obras não foram pagas

Nos anos 70 e 80, empreiteiras como a Hochtief, Strabag ou Ed. Züblin executaram grandes projetos de infra-estrutura, tais como estradas, aeroportos e represas, mas que em decorrência da guerra entre Irã e Iraque e dos conflitos no Golfo Pérsico nunca foram pagos pelo governo iraquiano.

Eberhard Gläser, um dos diretores da Ed. Züblin AG, de Stuttgart, conta que sua empresa participou do consórcio que construiu a represa de Mossul, uma rede de esgoto em Bagdá, três fábricas de revestimentos cerâmicos e escolas rurais no Iraque, nos anos 80. "Até hoje estamos esperando pelo pagamento da fatura de 175 milhões de euros, inclusive juros", diz.

Pelos cálculos da Associação Alemã das Empresas de Construção Civil, o Iraque ainda deve um total de 1,7 bilhão de euros às empreiteiras filiadas à entidade. É que as transações internacionais de empresas alemãs não são 100% asseguradas pelos seguros de crédito Hermes. No caso do Iraque, as construtoras tiveram de assumir de 25 a 35% do risco pelos negócios.

Prejuízos amortizados

Segundo Knipper, inicialmente o setor de construção civil da Alemanha estava disposto a aceitar um perdão de 50% das dívidas do Iraque, mas agora se sente "abandonado pelo governo". Renunciar a 50% dos créditos não seria difícil para as empreiteiras alemãs, visto que a maior parte desse prejuízo já foi amortizado nos últimos balanços.

Um exemplo é a Strabag AG, de Colônia, que já amortizou a maior parte dos 430 milhões que lhe devia o Estado iraquiano e só espera receber 57 milhões de euros. Segundo analistas, se recuperassem pelo menos parte dos créditos através de negociações com o governo ou pela via judicial, as construtoras teriam uma liquidez adicional de caixa.

Processar o governo é uma opção, mas os planos ainda não são muito concretos. "O assunto ainda precisa ser discutido pela diretoria da empresa, nas próximas semanas", diz, por exemplo, Eberhard Gläser, da Ed. Züblin.

Já a Hochtief AG, que também atuou no Iraque, mostra-se bem menos indignada com o perdão da dívida pelo Clube de Paris do que a associação das construtoras. O motivo é simples: os créditos em aberto há muito tempo não aparecem mais nos balanços. "Pensamos em processar o governo, mas não para evitar o risco de perdas e, sim, para ganhar alguns milhões adicionais", diz um porta-voz da empresa.