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Empresas alemãs temem consequências de sanções econômicas à Rússia

Rayna Breuer (cn)30 de março de 2014

Especialistas afirmam que medidas punitivas podem refletir negativamente na economia da Europa, além de afetar diretamente empresas europeias. Rússia permanece impassível diante de ameaças ocidentais.

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Foto: DW

O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, chegou determinado à Europa. "Nós concordamos que a Rússia precisa pagar por suas ações até o momento. Intensificar as sanções trará consequências significativas para a economia russa", declarou na terça-feira (25/03) em Amsterdã, após encontro com o chefe de governo holandês, Mark Rutte. Ele se referia ao procedimento do Ocidente em retaliação pelo procedimento russo na Crimeia.

Seus parceiros europeus, porém, são céticos quanto à adequação das medidas. Afinal, elas podem afetar negativamente suas próprias economias, cuja conexão com a Rússia é bem mais forte do que a mantida pelos Estados Unidos.

Barack Obama in Amsterdam Flughafen Schiphol auf dem Weg zum Atomgipfel in Den Haag
Obama exige sanções mais fortes contra RússiaFoto: Reuters

Também na Alemanha, as empresas temem os custos de sanções econômicas mais severas, pois para elas há muita coisa em jogo. "Nós já sentimos prejuízos com a cotação do rublo", revelou o diretor da Opel, Karl Thomas Neumann, à revista Automobilwoche. Em 2020 a Rússia deverá ser o maior mercado automobilístico europeu, e o trajeto até lá será como uma maratona, com altos e baixos, prevê Neumann.

"Quem, no debate atual, defende as sanções contra a Rússia, está brincando com fogo", alerta Martin Sonnenschein, consultor para assuntos da Europa Central na empresa A.T.Kearney. "As consequências para a economia alemã e para o bem estar social seriam, com certeza, fatais", acredita, e aqueles que agora queiram investir na Rússia enfrentarão riscos elevados.

Prejuízos na Europa

A crise na Crimeia é um forte elemento de insegurança para a economia: as empresas que exportam para a Rússia ou lá investem já reduziram suas expectativas. "Na verdade, 2014 deveria ser um bom ano de investimentos para as empresas alemãs na Rússia. Mas agora, alguns vão ser realocados, outros cancelados de vez", observa Volker Treier, vice-diretor geral da Confederação Alemã das Câmaras de Indústria e Comércio (DIHK).

Ao que tudo indica, as empresas estrangeiras na Rússia se preparam para o pior, mas esperam o melhor. "Também os bancos alemães avaliam a Rússia como um parceiro de negócios arriscado e fornecem menos crédito", acrescenta Treier.

Por sua vez, o consultor financeiro Jürgen Pfister relativiza a gravidade da situação. "Na realidade, a importância do comércio exterior entre Alemanha e Rússia é pequena demais para que se torne um problema": algumas empresas serão afetadas, mas para a economia como um todo, o risco não é tão grande, assegura.

Volker Treier DIHK
Volker Treier teme por empregos na AlemanhaFoto: DIHK

A Rússia só é responsável por 3,8% de todas as exportações alemãs: em 2013, as vendas para o país geraram 38 bilhões de euros, de um total de mais de 1 trilhão de euros. A parcela russa nos investimentos da Alemanha no estrangeiro corresponde a 1,8%.

Já o vice-diretor geral da DIHK não vê a situação com tanta tranquilidade, e reflete sobre outras consequências das possíveis sanções. Enquanto macroeconomia, a Alemanha poderá suportar o abalo, mas ele "será prejudicial," já que um cada em três postos de trabalho no país depende da exportação. Ou seja, se forem definidas mais sanções econômicas, isso poderá afetar quase 400 mil postos de trabalho, calcula Treier.

Ganhadores e perdedores

Até pouco antes da cúpula do G7 em Haia, na última terça-feira, a Rússia não parecia impressionada com os planos e ações dos líderes ocidentais. No domingo anterior, o presidente e maior acionista do Bank Rossiya, Yuri Kovaltchuk, declarara que as sanções americanas até trouxeram, novos clientes para o seu banco, entre os russos mais patrióticos.

O presidente russo, Vladimir Putin, anunciou publicamente a intenção de abrir uma conta na instituição. O banco com sede em São Petersburgo recomendou que no momento, não se efetuem mais pagamentos e transferências em moeda estrangeira, em suas contas. As transferências em rublo se mantêm inalteradas.

Mas a Rússia também é vulnerável, ressalta Pfister: o país seria sensivelmente atingido por restrições a suas relações comerciais com o Ocidente. "Toda a receita da exportação resulta, essencialmente, das vendas para o Ocidente. Se isso estiver em perigo, também estará em risco o crescimento econômico da Rússia, que já tem sido muito fraco nos últimos anos."

Também por isso, a Rússia precisa considerar seriamente se e por quanto tempo pode se permitir suspender a exportação de gás natural. Em entrevista à revista Wirtschaftswoche, o comissário europeu de Energia, Günther Oettinger, disse não acreditar que o país vá reduzir o fornecimento para a Europa, em consequência do conflito com a Ucrânia.

Jürgen Pfister
Jürgen Pfister pede moderação

"A Gazprom está interessada em receitas de vendas diárias", afirmou, referindo-se à empresa sobre controle estatal que monopoliza o setor de gás na Rússia. E o país não precisa somente da receita, mas também dos investimentos europeus. "É no seu interesse que os carros alemães não sejam montados apenas em Ingolstadt ou Sindelfingen, mas também em novas instalações na Rússia", crê Oettinger.

Se as ameaças mútuas se acirrarem, no final restarão mais perdedores do que vencedores, de ambos os lados. Por isso, diversos especialistas apelam para a moderação. "Se a Rússia se limitar a anexar a Crimeia, sem interferir mais na Ucrânia, nós devemos desistir de sanções econômicas mais duras", opina o consultor financeiro Pfister: para ele, essa abordagem pragmática é o melhor antídoto contra um agravamento da crise.