1. Pular para o conteúdo
  2. Pular para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

Encontro entre Alemanha e Israel começa em clima de crítica mútua

5 de dezembro de 2012

Berlim discorda de planos israelenses de construir mais assentamentos na Cisjordânia. Israel quer saber por que a Alemanha não foi contra adesão Palestina na ONU. Apesar de divergências, países destacam boas relações.

https://p.dw.com/p/16w9O
Foto: picture-alliance/dpa

A pauta das reuniões periódicas entre representantes dos governos israelense e alemão, que começou na noite desta quarta-feira (05/12) e continua no decorrer de quinta-feira, será composta de temas inofensivos: inovação, educação e sustentabilidade.

No entanto, os recentes acontecimentos no Oriente Médio certamente vão dominar as conversas: sobretudo o anúncio do premiê israelense, Benjamin Netanyahu, de que Israel vai permitir a construção de três mil moradias em Jerusalém Oriental e na Cisjordânia.

Uma ocupação israelense da chamada zona E-1, uma região sensível no conflito que assola a região, situada a leste de Jerusalém, iria dividir a Cisjordânia ocupada. Além disso, a parte leste e árabe de Jerusalém ficaria separada do resto dos territórios palestinos, dificultando ainda mais uma solução pacífica para o conflito. Por esta razão, tanto a Alemanha quanto outros países ocidentais já haviam pedido que Israel desistisse de tal projeto de construção.

Paz para Israel: meta da política alemã

Manter boas relações com Israel é um dos pilares da política externa alemã, tendo em vista a responsabilidade do país pelo genocídio dos judeus antes e durante a Segunda Guerra Mundial. Nos últimos anos, as relações entre os dois países sedimentaram-se ainda mais. Nesta semana, representantes dos dois governos reúnem-se pela quarta vez desde 2008.

Deutschland Israel Konsultationen Angela Merkel und Benjamin Netanyahu Westerwelle in Berlin
Encontro entre representantes dos dois países em 2010, em BerlimFoto: AP

"Uma das metas da Alemanha é contribuir para que Israel, como Estado democrático judaico, possa viver em paz com seus vizinhos", afirmou à DW o político democrata-cristão Ruprecht Polenz, presidente da Comissão de Relações Exteriores do Parlamento alemão. E esta meta, segundo ele, só poderá ser alcançada com uma solução de dois Estados – para israelenses e palestinos.

"Se Israel literalmente obstruir essa solução com a construção do assentamento E1, esse objetivo não poderá mais ser atingido", reflete Polenz. Por isso é importante que a chanceler federal alemã Angela Merkel deixe claras as preocupações de Berlim em relação ao projeto, completa o político.

O presidente do grupo parlamentar alemão-israelense, Jerzy Montag, do Partido Verde, também espera que "Merkel fale isso com todas as letras, sem, contudo, dilacerar as estreitas ligações historicamente tecidas entre Alemanha e Israel". A Alemanha tem uma responsabilidade especial para com Israel, completa Montag, e por isso precisa se posicionar em prol de uma solução de dois Estados para a região.

Questionamento sobre votação na ONU

Nos encontros entre os ministros da Defesa, Exterior e Economia, bem como de outras pastas, deverão surgir críticas também do lado israelense. Montag acredita que os representantes israelenses irão questionar por que a Alemanha se absteve de votar na Assembleia Geral das Nações Unidas contra o reconhecimento da Palestina como Estado observador não membro.

A ONU concedeu, com esmagadora maioria, o reconhecimento do status à Palestina. A Alemanha se absteve na votação, enquanto Israel se opôs com veemência à decisão. Imediatamente após a aprovação pela ONU, Jerusalém deu sinal verde para os projetos de construção na zona E1.

Montag e Polenz criticam a postura de Israel neste sentido. "Acho que a posição israelense, tendo em vista os interesses do próprio país, deveria ser debatida e modificada", diz Montag. Segundo ele, o governo israelense deveria enxergar que praticamente o mundo inteiro aprova uma solução de dois Estados para a região. Diante disso, completa Montag, Jerusalém não deveria sabotar tal solução.

Polenz salienta os aspectos de uma decisão da ONU que visem uma solução pacífica para o conflito. No texto da resolução das Nações Unidas, Israel é reconhecido pelo lado palestino como Estado. Além disso, fala-se na existência de um Estado palestino, ao lado de Israel, que respeite as fronteiras de 1967. Outras modificações nestes acordos de fronteiras podem ainda ser consideradas.

15.12.2006 jou deu inter polenz, Ruprecht Polenz
Polenz: paz em Israel só pode ser conquistada com dois EstadosFoto: DW-TV

Esta é, segundo Polenz, exatamente a fórmula que até hoje foi apresentada como meta nas mesas de negociação. "O governo alemão saberá como dizer a Israel que não se pode simplesmente dizer 'não' a um texto como esse", acredita o presidente da Comissão de Exterior do Parlamento.

Preocupações israelenses

Independentemente de divergências de opiniões, Berlim e Jerusalém cooperam de forma estreita no setor de segurança. Em caso de comércio de armas com um país vizinho a Israel, Berlim sempre leva em conta as possíveis preocupações de Jerusalém. O mesmo vale também para o fornecimento de tanques blindados para a Arábia Saudita, por exemplo.

Além disso, o governo alemão acentuou em novembro o direito de defesa de Israel durante os conflitos entre o país e o Hamas. Polenz salienta que Berlim não precisa aprovar cada passo do governo israelense, embora "Israel saiba que pode contar com a Alemanha". O parlamentar alemão espera que uma crítica construtiva, baseada nestas relações, seja mais eficaz que uma postura que possa levar o governo israelense a se sentir acuado.

Autor: Andreas Gorzewski (sv)
Revisão: Francis França