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Energia renovável contra o apagão

Assis Mendonça4 de junho de 2003

A Fundação Heinrich Böll promoveu em Berlim, na abertura da Semana Mundial do Meio Ambiente, um seminário de dois dias sobre uma parceria entre o Brasil e a Alemanha no setor das energias renováveis.

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Ministro Jürgen Trittin quer fomentar a cooperação com o BrasilFoto: AP

Na abertura do seminário, que contou com o apoio da Embaixada do Brasil em Berlim, o ministro alemão do Meio Ambiente, Jürgen Trittin, relatou os êxitos da Alemanha no aproveitamento das energias eólica e solar. O nível alcançado confere ao país um papel de vanguarda mundial quanto à utilização de fontes renováveis de energia.

O ministro Trittin ressaltou a excelente cooperação bilateral da Alemanha com o Brasil no setor da preservação ambiental, que encontra agora uma plataforma ainda mais ampla, graças à intenção do novo governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de investir no setor das energias renováveis. Com as modernas tecnologias desenvolvidas nos últimos anos e sua grande experiência na área, a Alemanha pode contribuir substancialmente para o êxito dos projetos brasileiros.

A reorientação da política energética do Brasil, uma das conseqüências da crise de dois anos atrás ("apagão"), abre novas perspectivas para a cooperação bilateral com a Alemanha. Exatamente a tecnologia alemã de aproveitamento das fontes regenerativas de energia pode desempenhar um papel importante para os planos do Brasil, que dispõe de enorme potencial de biomassa e de energia solar em todo o território nacional, além de grandes possibilidades regionais nas áreas de energia eólica e de pequenas hidrelétricas descentralizadas.

Situações distintas

A secretária de Qualidade Ambiental do Ministério brasileiro do Meio Ambiente, Marijane Vieira Lisboa, que participou do seminário da Fundação Heinrich Böll em Berlim, chamou a atenção para as distintas situações do Brasil e da Alemanha, o que exige estratégias condizentes na implantação das energias renováveis. Há que considerar, em especial, os custos dos investimentos iniciais, que nem sempre podem financiados pelos consumidores brasileiros de energia. Isto faz com que o aproveitamento da biomassa (por exemplo, bagaços de cana ou cascas de arroz) seja mais viável para o Brasil do que a construção de parques eólicos ou solares de custo inicial elevado.

Solarzellen
Coletores solares podem ser alternativa para o aquecimento de água no BrasilFoto: AP

Em nível doméstico, Marijane Lisboa acredita que os coletores solares possam vir a desempenhar um papel importante no Brasil para o aquecimento de água, mas não para a geração de eletricidade. De qualquer maneira, tal emprego significaria então uma poupança de 15% no consumo de corrente elétrica do país: este é o percentual de eletricidade empregada para o aquecimento de água.

Maior eficiência do sistema existente

Para uma solução definitiva do abastecimento de eletricidade no Brasil, a secretária de Qualidade Ambiental considera fundamental o programa de eficiência energética para a redução das perdas através das linhas de transmissão, assim como a repotencialização das usinas elétricas de baixo rendimento, ao lado do aproveitamento das fontes renováveis de energia, sobretudo da biomassa. Desta maneira, diz Marijane Lisboa, será possível evitar elevados investimentos em novas usinas hidrelétricas, com todas as suas conseqüências sociais e ecológicas.

Segundo foi demonstrado no seminário em Berlim, através de palestra pronunciada pela professora Andrea Zhouri, da Universidade Federal de Minas Gerais, e por Marcos Ribeiro Magaieski, do Movimento dos Atingidos por Barragens, também as pequenas hidrelétricas para abastecimento descentralizado geram impacto social e ambiental nas regiões em que são construídas, ainda que tais problemas não sejam tão graves como no caso das grandes barragens.

O seminário da Fundação Heinrich Böll contou ainda com a participação de outros representantes do Brasil: José Eduardo Tanure (Ministério de Minas e Energia), Lúcia Ortiz (ONG Núcleo Amigo da Terra), José Drumond Saraiva (Eletrobrás) e o deputado Fernando Dantes Ferro (PT/Pernambuco), entre outros.

30 anos do acordo nuclear Brasil-Alemanha

A convite do chanceler Gerhard Schröder, será realizada em Bonn, no ano que vem, a 1ª Conferência Internacional de Energias Renováveis. O Brasil deverá ser um dos participantes de destaque do evento. Provavelmente em outubro próximo, o governo brasileiro promoverá uma reunião preparatória para a conferência de Bonn, para a qual serão convidados todos os países da América Latina e do Caribe.

Neste contexto, a secretária Marijane Lisboa relatou a intenção da ministra brasileira do Meio Ambiente, Marina Silva, de destacar na conferência de Bonn uma coincidência de datas: exatamente no ano que vem, o acordo nuclear entre o Brasil e a Alemanha – assinado em Bonn – completará 30 anos. A Ministra pretende aproveitar o ensejo para ressaltar a trajetória da política energética nos dois países.

O Brasil tinha, na época, um governo ditatorial que não admitiu nenhuma discussão sobre a conveniência da energia atômica para o país. Hoje, tem um governo democrático, que valoriza um amplo debate sobre a política energética e busca o caminho de menor impacto social e ambiental para a produção de eletricidade. Na Alemanha, ainda regia a prioridade para a indústria nuclear na política oficial de 1974. Hoje, o abandono paulatino da energia atômica foi decidido pelo governo de Berlim, transformado em lei e já está sendo posto em prática.