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Novos ventos movem o mercado energético do Egito

4 de dezembro de 2012

O Norte da África apresenta um dos maiores potenciais para a produção de energia eólica do mundo. Além disso, regiões desérticas podem ser transformadas em importantes captadoras de energia solar

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Foto: picture-alliance/World Pictures/Photoshot

Não é só no campo político que novos ventos sopram no Egito. No que diz respeito à matriz energética, as fontes renováveis se desenvolvem de forma consistente, e o potencial eólico é gigantesco. O Egito quer reduzir sua dependência de combustíveis fósseis e ampliar o uso da energia que vem do sol e do vento. O plano é gerar 20% da energia do país a partir de fontes renováveis até 2020, e os especialistas acreditam que, independente do cenário político, as metas deve ser mantidas.

Para atingir a ambiciosa meta, o Egito ainda tem muito o que fazer, uma vez que a maior fonte de eletricidade do país ainda são os combustíveis fósseis. Contudo, uma vez que a oferta de petróleo e gás é limitada, a mudança da matriz energética não é apenas uma questão ambiental, mas também está diretamente relacionada ao orçamento do Estado.

"Existe um potencial elevado para a instalação de usinas de energia renovável que está longe de se exaurir", afirma o especialista em energia do Greenpeace, Andree Böhling. A única barreira para sua exploração está nos custos ainda elevados dos equipamentos para usinas eólicas e solares.

Os primeiros projetos-piloto no Egito já foram instalados com recursos dos países europeus. O parque eólico de Zafarana, que fica cerca de 120 quilômetros ao sul de Suez, é o maior do gênero em toda a África e tem uma produção anual de 1,4 mil gigawatts-hora.

Windpark bei Zafarana, Ägypten
Parque eólico de ZafaranaFoto: danishwindindustryassociation

A costa do Mar Vermelho é uma das melhores regiões do mundo para a produção de energia eólica. O Egito tem potencial para atingir uma produção de 20 mil megawatts, o que corresponde à capacidade de 16 usinas nucleares. Entre os financiadores do parque de Zafarana está o Banco Alemão de Desenvolvimento (KfW). "Outros projetos estão planejados", adianta Charis Pöthig, do KfW. "Um novo parque já foi aprovado pelo governo no porto de Gabal el-Zeit", acrescenta.

Espaço para a expansão de energias limpas

Não somente o Egito, mas todo o Norte da África está diante de um desafio energético. O alto crescimento populacional e o progresso industrial representam uma demanda ainda maior por energia, e os países têm reagido de forma diferente a esse desafio.

A Argélia tem suas próprias reservas de gás e petróleo, para as quais oferece subsídios, mantendo os preços baixos no mercado interno – e quem paga a conta é o meio ambiente. "Infelizmente, muitos dos países do Norte da África têm buscado saciar sua demanda energética com termelétricas a carvão ou usinas nucleares", lamenta Böhling.

Mas existem outros exemplos. O Marrocos tem feito um bom trabalho quanto ao desenvolvimento de energias renováveis. Mas ainda assim, da mesma forma como o Egito e a Tunísia, precisa importar a preços altos boa parte da energia que consome. Por esse motivo, o país tem procurado saídas para a questão nos últimos anos, e tem contado com a ajuda da Europa para isso. "Financiamos um parque eólico em Essaouira e em Tangier", aponta Pöthig, do KfW. O parque de Essaouira está em funcionamento desde 2007 e produz, anualmente, 210 gigawatts-hora.

Energia do Saara para a Europa

A assistência financeira e tecnológica à África pode beneficiar a própria Europa no futuro. Ao menos essa é a perspectiva da iniciativa industrial Desertec, que planeja exportar energia do norte do continente africano para os países europeus.

Os cálculos dão conta de que 15% de toda a energia que a Europa vai precisar em 2050 possam vir de plantas solares de larga escala instaladas no deserto do Saara. "Em termos de tecnologia, praticamente todas as questões estão resolvidas", esclarece o representante da Desertec, Alexander Mohanty.

"Agora temos que criar as condições políticas adequadas". Mohanty explica ainda que uma grande parte da energia gerada deve ser destinada aos próprios países produtores. "Esses países vão ser duplamente beneficiados. Receberão ajuda no desenvolvimento de energias renováveis e também contarão com um novo mercado de trabalho que deve ser criado pelas indústrias do setor".

Kohlenverkäufer in Kairo
Vendedor de carvão no CairoFoto: CC/Swamibu

Embora boa parte desse projeto de energia vinda do deserto ainda seja algo para o futuro, já está prevista a instalação de um projeto-piloto no Marrocos. As expectativas são grandes. "A solução proposta pela Desertec pode ser uma contribuição importante para solucionar o problema global de energia", garante Böhling.

No entanto, as linhas para transportar essa energia entre a África e a Europa ainda precisam ser desenvolvidas, e os especialistas do Greenpeace estimam que sejam necessários pelo menos mais dez anos para que a produção possa ser escoada em direção ao norte do globo.

A crise econômica na zona do euro também atrapalhou o projeto. Duas empresas alemãs, Bosch e Siemens, anunciaram que vão deixar o projeto em 2013 devido a dificuldades financeiras.

Apesar disso, nem mesmo as revoluções e incertezas políticas e econômicas têm afastado os pioneiros da exploração de energia do Norte da África. Para Böhling, as próprias mudanças políticas podem ser encaradas como uma oportunidade. "Muitos dos antigos dirigentes estavam diretamente ligados à indústria do petróleo e, por isso, bloqueavam a expansão das energias renováveis". A médio prazo, a democratização da região pode ser, para a energia solar e eólica, uma vantagem significativa.

Autor: Nele Jensch (ie)
Revisão: Francis França