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Ensino alemão: internacionalizar é preciso

Fernando Scheller14 de outubro de 2005

Alemanha quer atrair alunos estrangeiros para suas universidades, mesmo com a introdução de taxas semestrais. Para isso, busca formar centros de excelência e adaptar cursos ao currículo europeu.

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Sala de aula: mais internacional?Foto: AP

A Alemanha não aparece entre os destinos mais recomendados para alunos estrangeiros, segundo os rankings internacionais de ensino. Inglaterra e Estados Unidos estão entre os países que têm universidades que "saltam aos olhos" dos interessados em fazer cursos de graduação e pós-graduação no exterior – pagando caro por eles.

O sistema de ensino alemão está em período de transição. As taxas semestrais foram recentemente instituídas em algumas universidades – o preço ainda é baixo, de 500 euros por semestre – e o currículo ainda está em fase de adaptação para o padrão europeu (e também brasileiro), com a separação entre graduação (bacharelado) e pós-graduação (especialização ou mestrado). O período de transição deve ir até 2010.

Homogêneo, mas nem tanto

Studenten Demonstration gegen Studiengebühr
Cobrança de taxas gerou protestosFoto: AP

À medida que a Alemanha se distancia do financiamento 100% público do ensino superior, a formação de centros de excelência no país se torna ainda mais necessária, de acordo com Christian Müller, diretor de comunicação e marketing do DAAD, órgão responsável pela promoção do sistema de ensino alemão no exterior.

"Não é realista a idéia de ter um ensino homogêneo em todo o país. Por isso, essa idéia está sendo abandonada. Um perfil mais internacionalizado exige não só a formação dos centros de excelência, mas também uma atitude mais profissional das universidades, que devem tratar os alunos também como clientes", explica Müller.

Porém, tornar a Alemanha um "importador" de alunos estrangeiros – que, com o passar dos anos, pagariam mais que os europeus para estudar – é um projeto de longo prazo. "Não podemos competir com a London School of Economics (LSE) britânica. Dependendo do curso da LSE, o aluno estará disposto a pagar 10, 12 mil libras. O mesmo ocorre em Oxford (Reino Unido) e Harvard (EUA)", ressalta o diretor do DAAD.

Preços e sistemas diferentes

Müller lembra também que o orçamento das universidades alemãs não pode ser comparado com o de instituições norte-americanos ou britânicas. "Harvard tem entre 3 e 5 bilhões de dólares ao ano somente de sua fundação, sem contar a cobrança das taxas semestrais. Na Alemanha, as universidades têm de pagar tudo com um orçamento de 200 a 600 milhões de euros", explica.

Universität Kassel
Alunos de Kassel já pagam pelo ensinoFoto: dpa - Fotoreport

O atual sistema de ensino na Alemanha também dificulta a tarefa de atrair estrangeiros. A grande maioria dos cursos alemães são oferecidos nas categorias diplom e magister – e duram, em média, cinco anos. Segundo o DAAD, em um cenário ideal, o magister e diplom deveriam ser considerados como bacharelado e mestrado em um curso só. Entretanto, não é o que ocorre na prática. Por isso, alunos que fazem cursos universitários na Alemanha enfrentam dificuldades na hora de ter o diploma reconhecido fora do país.

Além de introduzir a divisão entre bacharelado e mestrado, o diretor de marketing do DAAD afirma que os cursos ministrados em inglês também estão sendo incentivados no país, uma vez que a língua alemã também "assusta" os alunos estrangeiros.

Christian Müller reconhece que o fator preço – e não o renome das universidades – ainda é o diferencial alemão. "Somos grandes receptores de alunos da Europa Central e do Leste. Também temos muitos chineses, mas a China é o maior 'exportador' de alunos do mundo. Temos 26 mil alunos chineses, mas a Inglaterra tem 50 mil", explica.

E o Brasil, como fica?

O Brasil tem 1500 estudantes na Alemanha, mas o crescimento tem sido lento – a quantidade de brasileiros estudando no país aumentou 37% em relação a 1998. O número de mexicanos, no mesmo período, cresceu 490%, de acordo com Müller. Ele admite que não há um programa geral de bolsas para mestrado no Brasil. "Damos mais bolsas que a Inglaterra e a França, mas sobretudo para a fase do doutorado."

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Sala de aula: 1500 brasileiros estudam na AlemanhaFoto: dpa

Apesar de lembrar que o DAAD é bastante ativo no Brasil, inclusive com a participação constante em feiras de ensino internacional, ele admite que o país não é a principal prioridade da Alemanha. "Quando se trata de uma região com estabilidade política e sem grandes catástrofes naturais, o interesse realmente cai um pouco. A Ásia está realmente em mais evidência", comenta.

Entretanto, o diretor do DAAD lembra que o Brasil está na lista de países prioritários para o marketing das universidades alemãs, ao lado de China, Índia e México, entre outros. "Depois da China, que todos sabem que será um potência do século 21, Brasil e Índia são vistos como nações de grande potencial (econômico)."