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Entre a peste e a cólera

Estelina Farias12 de novembro de 2002

A ameaça de mais um fracasso da conferência sobre armas biológicas, por causa dos EUA, deve-se consumar para o perito alemão Jan van Aken: os delegados em Genebra terão que escolher entre a peste e a cólera.

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Equipe do FBI à procura da arma biológica bacilo de antraz, em outubro de 2001Foto: AP

O controle não deve ser apenas em países como o Iraque, mas também nos Estados Unidos, onde aumenta cada vez mais a má vontade para permitir acesso de inspetores de armas, segundo Jan van Aken, diretor do Projeto Sunshine para Proscrição de Armas Químicas e Biológicas em Hamburgo. Ele está convencido de que uma convenção de armas biológicas pode ajudar a combater o terrorismo internacional.

A convenção aprovada em 1975 e assinada por 146 países contribuiu, por exemplo, para que armas biológicas como os bacilos de antraz e da varíola só possam ser usadas em pequenos espaços. A produção para grandes ações levaria de dez a 15 anos, esclareceu van Aken.

Inspeção & espionagem

A convenção proíbe o desenvolvimento, produção, armazenamento e uso de armas químicas e biológicas, mas não prevê controles concretos. De forma que os países não temem inspeções para averiguar se estão cumprindo ou não a convenção. Por isso, a meta da conferência que se realiza até o próximo dia 22 em Genebra é aprovar um protocolo adicional. Foi exatamente a rejeição deste documento por alguns países liderados pelos EUA o motivo do adiamento da conferência, em dezembro de 2001, para novembro de 2002.

Os americanos desconfiam principalmente de um grêmio de controle independente, que possa inspecionar os seus laboratórios. Washington alega, oficialmente, que os controles por terceiros poderiam favorecer metas de espionagem industrial e prejudicar os interesses nacionais. Mas para o perito alemão "os americanos têm, naturalmente, o que esconder" até mesmo dos interessados em apenas controlar a aplicação da convenção destinada impedir a propagação de armas químicas e biológicas. No lastro dos casos de cartas com pó branco de antraz, há um ano, vieram a público projetos oficiais americanos de pesquisa de armas biológicas que violavam a convenção, lembrou van Aken. "Nesses laboratórios acontecem coisas que têm de ser protegidas", disse ele.

Peste ou cólera

O perito alemão vê a conferência em Genebra numa situação em que "os delegados terão que escolher agora entre a peste e a cólera". Significa que eles arriscam um rompimento completo da conferência ou o seu encerramento com uma declaração final vazia, que não diga nada. A chance de sucesso é quase nula. Van Aken teme até que aconteça o pior: um encerramento sem declaração final. Isto depende dos Estados Unidos, pois todos estão conscientes de que um consenso sem a participação da superpotência não levaria a nada.

O presidente da conferência, Tibort Toth, propôs um acordo para que ela se repita uma vez por ano para discutir só as questões mais urgentes, como as legislações nacionais e a criação de sistemas de alarme em casos de escape acidental de produtos tóxicos. O encontro vinha se realizando a cada cinco anos para examinar se realmente está sendo respeitada a convenção.