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Entre o medo e a oportunidade

Johannes Beck12 de outubro de 2002

A ampliação da União Européia, com o ingresso de 10 países, será um grande desafio para as empresas alemãs de porte médio. Por um lado, a concorrência mais barata é uma ameaça, mas por outro, surgem novos mercados.

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Construção civil: alemães temem concorrência do leste europeuFoto: APTN

A integração dos novos membros - a maioria da Europa Oriental - nem se consumou ainda, mas desde já muitos hotéis grandes de Berlim enviam suas toalhas e lençóis para lavar na Polônia. É que, alguns quilômetros mais ao leste de Berlim, tal serviço é muito mais barato do que numa lavanderia alemã. Por outro lado, inúmeras firmas alemãs se estabeleceram no leste europeu. Elas produzem uniformes profissionais na Letônia, peças de automóvel na República Tcheca ou cuidam da instalação de técnicas ambientais sofisticadas na Hungria.

Com a ampliação da UE para o leste, tudo isso ficará mais fácil ainda. A equiparação das leis, o livre intercâmbio de trabalhadores e técnicos além das fronteiras e principalmente um controle simplificado e rápido nas aduanas irão facilitar os investimentos em cidades como Budapeste, Varsóvia ou Riga.

Muitas chances para as empresas médias alemãs

Embora os futuros membros da UE poderão contar com longos prazos de transição até adotarem as normas e padrões da atual comunidade de 15 países, é indubitável que terão de mudar uma série de coisas. As estações de tratamento de águas e esgotos terão que tornar-se mais limpas, as usinas menos poluentes e os matadouros mais higiênicos. Isso tudo poderá resultar em boas encomendas para as empresas que atuam no setor ambiental e de saúde.

Há uma forte presença de empresas de porte médio no comércio alemão com os candidatos à UE, segundo Ulrich Dietsch, diretor executivo da Associação Europa Central e Oriental. "Calculamos que dos 54,5 bilhões de euros faturados no primeiro semestre de 2002 com os países do leste, as empresas médias alemãs ficaram com uma fatia de cerca de 40 bilhões de euros", informou.

Alto nível de salários não poderá ser mantido

Por mais animadores que sejam tais dados, porém, muitas firmas médias estão apavoradas com a possibilidade de não conseguirem se impor frente à concorrência da Europa Oriental, principalmente nos setores de ofícios e da construção. Os salários nesses países representam um quinto do que recebem os alemães. Quem lida com transportes também anda com rugas de preocupação na testa, como expõe Hans Stapelfeld, gerente de uma expedição em Hamburgo: "Vêm trabalhar conosco motoristas da Polônia, por exemplo, por uns dois ou três meses. Eles dão duro, dormem no próprio caminhão, e depois voltam para casa. Com o que ganharam, conseguem manter muito bem sua família por um tempo. Isso não corresponde ao nível de vida de um motorista alemão de caminhão. E acabará levando a uma série de mudanças nos empregos."

Mudança ou eliminação de empregos

O que Stapelfeld chamou de "mudança" pode ser entendido como melhor qualificação da mão-de-obra alemã para o aumento da produtividade. Mas isso dificilmente resolverá o problema, havendo uma diferença tão grande de salários. Provavelmente, empresas alemãs irão associar-se às dos novos países membros da União Européia, para que elas se encarreguem das atividades que exigem intensa mão-de-obra. As alemãs, nesse esquema, se dedicariam às tarefas mais especializadas, e por isso mais bem pagas.

Mudanças na estrutura de empregos também pode significar que os empresários alemães contratem operários húngaros ou tchecos, em vez dos alemães, a quem têm de pagar muito mais, com todas as garantias trabalhistas conquistadas pelos sindicatos. Um terço das empresas se interessa por isso, conforme revelou uma pesquisa realizada pela Câmara de Ofícios de Hamburgo. Dois terços dos empresários sugerem prazos de transição, limitando o ingresso de mão-de-obra do leste na atual União Européia. Mas prazos inferiores aos que exigem as representações oficiais do médio empresariado.

Ampliação da UE: enfim impulso para reformas imprescindíveis

Nesse aspecto não há unanimidade. Jürgen Hogefoster, da Câmara de Ofícios de Hamburgo, vê grandes chances na imigração de trabalhadores do leste. Ela poderá suprir, principalmente, a falta de especialistas na Alemanha. A rápida liberação do direito de ir e vir, e de obter visto de trabalho, traz também outras chances, segundo ele: "Eu espero que a cooperação com esses trabalhadores ajude a quebrar as rígidas estruturas que temos no mercado de trabalho na Alemanha. Precisamos com urgência de inovações em todos os setores, também no mercado de trabalho. Acho que a ampliação nos trará inovações, mas que elas só irão acontecer através dessa pressão". (ns)