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Espaço alternativo de Berlim adere ao concreto

Soraia Vilela11 de dezembro de 2001

Inaugurado oficialmente no último fim de semana, o "Tempodrom", em Berlim, veste roupa nova, despede-se de seus tempos de barraca provisória e assume novo perfil.

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Nova sede do Tempodrom, casa de espetáculos lendária da capital alemãFoto: AP

Elefantes, fogos de artifício e muita acrobacia foram os ingredientes da receita utilizada para inaugurar a nova sede da antiga meca do crossover, um misto de cultura alternativa, mainstream e world music na capital alemã. Nina Hagen, John Lurie, Simply Red, John Lee Hooker, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Velha Guarda da Mangueira e muitos, muitos outros passaram por ali.

A barraca improvisada que acabou se transformando em estrutura de concreto e vidro, orçada em mais de 60 milhões de marcos, comemora seus quase 22 anos empacotada para um novo público. Sinais das mudanças que a reunificação alemã trouxe à capital do país.

História -

Inaugurado em 1980 no centro da Berlim ainda dividida, às beiras da Potsdamer Platz, o Tempodrom foi criado pela enfermeira Irene Moessinger, que investiu um milhão de marcos de uma herança na construção da enorme barraca, capaz de abrigar três mil pessoas.

Em 1983, transferido para as imediações da Casa das Culturas do Mundo e do Reichstag, dentro do parque Tiergarten, a casa de espetáculos foi durante anos um nicho destinado, entre outros, à música não européia e à cultura alternativa. Sua era, que durou boas duas décadas, chega no entanto ao fim.

Um mescla de espaço aberto a eventos culturais e políticos, o Tempodrom serviu durante sua história de sede a vários encontros. Já em 1988, cerca de quatro mil gays e lésbicas reuniam-se no interior da barraca para discutir sobre a AIDS e suas conseqüências.

Mudanças -

O governo federal, no entanto, vindo da pequena e ordenada Bonn, não suportaria um barraca provisória aos arredores de sua sede. Um dos argumentos utilizados foi "a poluição sonora a níveis não suportáveis". Transferido provisoriamente para os arredores de uma estação de trem no leste da cidade, a Ostbahnhof, o então nômade Tempodrom sabia que de lá sairia para encarnar nova roupagem, desta vez de concreto.

O novo prédio, localizado atrás das ruínas da antiga estação Anhalter Bahnhof, orçado inicialmente em 32 milhões de marcos, custou finalmente aos cofres da cidade 60 milhões. Boa cifra canalizada para assegurar o futuro comercial de um dos mitos da Berlim dos anos 90. Sem nostalgia, a própria fundadora Moessinger declara que "o tempo da barraca se foi". O glamour de espaço alternativo, coisa do passado.

Arquitetura -

A cúpula recortada da nova construção é "um ponto visual fixo" no cenário urbano de Berlim, explica Stefan Schütz, diretor de projetos do escritório de arquitetura Gerkan, Mark e Holz, responsável pelo novo Tempodrom. As linhas marrons e negras no teto, símbolo da reflexão a que o espaço é dedicado. Já as paredes de gesso, concreto e madeira "garantem uma acústica semelhante à da Filarmônica", afirmam os autores do projeto. Uma "nobre catedral", como definiu o diário Süddeutsche Zeitung.

O novo complexo engloba um pequeno anfiteatro com 400 lugares, salas de reuniões, um restaurante e chão de asfalto, numa provável referência aos tempos provisórios de barraca circense. O grande teatro, com 37 metros de altura, é capaz de receber 3.700 visitantes. A dimensão seja talvez outra tentativa de lembrar ao espectador a existência do primeiro e velho Tempodrom.

No início deste mês, a nova casa sediou a entrega do Prêmio Europeu de Cinema. A programação anunciada para a próxima temporada deixa claro o que o novo espaço promete: ao lado do já clássico Heimatklänge (Sons das Nações), que trouxe a Berlim nos últimos anos uma série de brasileiros, o Tempodrom do novo milênio deve apresentar, entre outros do gênero, o ultra comercial Holiday on Ice. É o preço da nova cara. Tanto da casa quanto da cidade.