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Espaços em evolução

Soraia Vilela11 de julho de 2003

Grupo de artistas interfere em uma antiga mina de carvão. A criação de espaços virtuais imprime novos registros à arquitetura e memória locais, propondo formas de interação entre o ex-templo industrial e novas mídias.

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"Bioradio Interativo", de Lynn Lukkas e Paul SmithFoto: Interaktions-Labor

Tomar um espaço antes ocupado pela indústria, dissolver os signos ali impressos e provocar o nascimento de um novo leque de associações tem sido moeda corrente na região do Vale do Ruhr, que um dia foi o maior pólo industrial da Alemanha. Isso significa, na prática, intervir em instalações fantasmagóricas de fábricas antigas, fazendo com que as mesmas sirvam de cenário para manifestações artísticas as mais variadas.

Novas arquiteturas -

Há duas semanas, uma antiga mina de carvão em Göttelborn, cidade localizada no Estado do Sarre, região que faz fronteira com a França, abriga uma oficina de mídias interativas, seguindo este princípio. Artistas plásticos, performers, compositores, técnicos em informática e outros especialistas trabalham juntos em um processo interdisciplinar, que pretende criar para o espaço "novas arquiteturas" construídas através de, entre outros, instalações audiovisuais.

Kelli Dipples Netzwerk-Performances
Performances em rede, de Kelli DipplesFoto: Interaktions-Labor

Por parte dos organizadores, trata-se, em primeira linha, de chamar a atenção para as inúmeras possibilidades de uso daquele espaço, dando a entender que ele pode se tornar fluido, em constante transformação. Instalações ou intervenções sonoras - como os "sensores de movimento" do canadense Jim Ruxton - são criados para "mover" o espaço: tornando-o virtual (através de interfaces) e até passível de observação a distância (via webcams).

Formas "orgânicas" -

As "mudanças" anunciadas para a antiga mina de carvão não são de ordem concreta: o objetivo não é intervir diretamente na geometria do espaço, no concreto, nos restos de pedra e aço deixados pela era industrial, mas tratar o local como um espaço composto por formas "quase orgânicas". Ou seja, através do uso de novas tecnologias, pretende-se minimizar o anonimato e o desuso do espaço, num processo que traz a presença humana de volta ao mesmo.

Johannes Birringer
Johannes Birringer, coordenador artístico do laboratório interativoFoto: Interaktions-Labor

As formas encontradas pelos artistas para desvincular o espaço da associação automática com o passado da era industrial, reestruturando seus códigos, vão desde as danças com sinais sonoros do alemão radicado nos EUA Johannes Birringer - um dos pais da arte telemática e coordenador artístico do projeto - ao Fomememória, do brasileiro Paulo Chagas.

Reconstrução -

Aqui, Chagas aposta na reconstrução do espaço através de uma analogia com o funcionamento do corpo humano: "A fome se inscreve no corpo, paralisando o cérebro. A memória da fome vem sendo transmitida geneticamente através das gerações, estando enredada na memória social. Satisfazer esta fome é um processo de reconstrução do corpo, tanto física quanto virtualmente".

Ainda como parte do projeto, o diretor Stephan Stroux tematiza o espaço industrial em desuso, tomando a própria mina de carvão com palco. Em União da Mão Firme - que estreou em uma oficina de locomotivas desativada em Berlim e deverá ser ainda encenada na antiga mina de carvão Zollverein, em Essen, no Vale do Ruhr -, Stroux conduz atores e espectadores por diversos setores do complexo industrial.

Através do workshop em curso, que se encerra na segunda-feira (14/07), após a apresentação no fim de semana dos trabalhos desenvolvidos pelos artistas durante os últimos 15 dias, é possível que o projeto - intitulado Cultura da Indústria do Sarre - venha a aquecer a discussão sobre a interação centro-periferia, angariando para a região parcerias com instituições culturais e de pesquisa, entre elas também escolas da região, e transformando assim a mina de carvão de Göttelborn em um laboratório aberto a novas experiências estéticas.