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Espanhóis estão cansados da sesta

15 de setembro de 2015

Eles são invejados em muitos países por terem direito a uma sesta depois do almoço. Mas muitos espanhóis gostariam mesmo é de se ver livres da pausa prolongada.

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Symbolbild Siesta
Foto: picture-alliance/dpa

Em Madri, quando o alarme toca às 6h30, começa um longo dia para a espanhola Rocío, de 30 anos. A assistente de veterinária de Guadalajara organiza algumas coisas na casa, toma um café da manhã rápido com o marido e a filha e corre para o trabalho às 9h. O expediente normal dos espanhóis vai até às 20h, incluindo uma pausa de três horas para o almoço. "Minha rotina me deixa infeliz. Eu não tenho tempo para a minha família", diz Rocío.

A vida cotidiana de muitos espanhóis é semelhante à de Rocío e sua família. Eles encaram a sesta como uma pausa forçada, que divide o dia de trabalho e é desnecessariamente longa.

Depois do trabalho, Rocío pega a filha com a babá e raramente vai para a cama antes da 1h da manhã. "Eu passo duas horas por dia com a minha filha", reclama.

"Na Espanha, é normal que as famílias cheguem tarde em casa", diz a psicóloga social Sara Berbel Sánchez. Em muitos casos, o expediente pode se estender até às 22h ou 23h.

Por isso, o horário nobre na televisão espanhola começa muito mais tarde que em outros países e termina por volta da meia-noite. "Nós, espanhóis, dormimos em média quase uma hora a menos por noite do que outros europeus", diz a economista Nuria Chinchilla.

Crianças e jovens ficam cansados durante o dia e não conseguem acompanhar com atenção as aulas. "A falta de sono é uma das razões pelas quais tantos jovens espanhóis vão mal na escola ou desistem da formação", explica Sánchez.

Homem fecha seu negócio em Barcelona para a sesta
Homem fecha seu negócio em Barcelona para a sestaFoto: DW

A rotina prolongada também afeta negativamente a produtividade econômica. De acordo com estatísticas da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), um funcionário espanhol trabalha 1.689 horas por ano — 300 horas a mais que um alemão. No entanto, seu desempenho econômico é significativamente menor. Segundo Chinchilla, a "cultura da presença" exerce um papel importante. "Na Espanha, as pessoas passa muito tempo no trabalho, mas não trabalhando", diz a economista.

Em algumas instituições públicas e empresas é crescente a tendência de flexibilizar os horários de trabalho. O Ministério da Economia incentiva seus funcionários a fazer uma pausa para o almoço tão curta quanto possível e encerrar o expediente às 18h. A empresa de energia Iberdrola instituiu, em 2008, um horário de trabalho contínuo: os 9 mil funcionários começam a trabalhar entre 7h15 e 9h, e o expediente termina entre 14h50 e 16h35.

Há quase dez anos a Comissão Nacional para Racionalização dos Horários Espanhóis (ARHOE) foi instaurada para que a Espanha mude seu fuso horário da Europa Central para a Europa Ocidental. "Vivemos na hora errada", diz o chefe da ARHOE na Catalunha.

A mudança tornaria mais fácil um dia de trabalho compacto, sem sesta, e com um fim de expediente mais cedo. "Especialmente para as mulheres, isso seria um grande alívio", diz Berbel Sánchez. Nas atuais condições é extremamente difícil conciliar o trabalho e a vida familiar.

"As mulheres que trabalham na Espanha têm que colocar sua família em segundo plano. E quem quer estar presente para a família, precisa desistir do trabalho", diz Rocío.

AF/dpa/ots