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Esperançosos, exilados afegãos temem fracasso das negociações

Marcio Weichert28 de novembro de 2001

Antiga relação de amizade entre Alemanha e Afeganistão fez de Hamburgo pólo de concentração dos refugiados do país asiático. Eles sonham em voltar a seu país e para isto precisam de estabilidade e segurança.

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A Conferência de Paz para o Afeganistão não irá decidir apenas o futuro do país e de seus habitantes. Será decisivo também para os afegãos exilados, como os mais de 85 mil que vivem na Alemanha. Suas vidas particulares igualmente dependem dos acordos a serem firmados e de sua implementação. Eles acompanham as negociações em Bonn esperançosos, mas ainda não confiam que a reunião no palácio Petersberg traga estabilidade e segurança política ao Afeganistão.

Boa parte dos exilados espera pelos acontecimentos praticamente já de malas prontas. "Claro que temos grande esperança na conferência. Esta é a última chance para o Afeganistão. Se ela não houver sucesso em Bonn, não será em outro lugar", observa o pedagogo Sadour Zamani, coordenador do Centro Afegão de Comunicação e Cultura, em Berlim.

A capital alemã abriga 1200 exilados afegãos, enquanto Hamburgo reúne mais de 22 mil, além de dez mil cadastrados nas redondezas. A cidade portuária chega a ser considerada a capital dos afegãos exilados na Europa. Assim como os representantes sentados à mesa de negociações em Bonn, os exilados vêm das mais diversas regiões e povos afegãos.

Perfil do novo líder

– "Em nossos círculos, somos unânimes de que nosso país precisa de um homem moderado a sua frente neste momento", diz o diretor e produtor de filmes Haroon Kargha, residente em Hamburgo. "É importante que os futuros detentores do poder representem todos os povos do Afeganistão", reforça Zamani. "Se isto vai acontecer, estamos todos muito inseguros."

Kargha lembra que as esperanças já foram destruídas várias vezes, muitas pouco tempo após acordos de paz. Tanto o cineasta como o pedagogo olham com ceticismo para os homens da Aliança do Norte. "Os participantes da guerra civil são odiados tanto quanto os talibãs. Para os afegãos, não há diferença", afirma Zamani. Para Kargha, muitos dos representantes nas negociações carecem de credibilidade. "Eles não possuem competência alguma. São apenas senhores da guerra, sem conhecimentos políticos, que foram enviados à Alemanha", considera o cineasta.

Kargha e Zamani não vêem a hora de retornar a seu país. "Grande parte quer voltar", diz o coordenador do Centro Cultural de Berlim. Uma das razões é que muitos exilados não recebem autorização para exercer suas profissões na Alemanha. Médicos, professores e artistas, como Kargha, sonham em voltar à terra natal para retomar suas carreiras

Relações teuto-afegãs

– A grande concentração de exilados afegãos na Alemanha tem origem histórica. Desde o início do século 20 até a ascensão dos talibãs ao poder, o país europeu foi um parceiro importante do asiático.

As duas nações começaram a se aproximar durante a Primeira Guerra Mundial. Nos anos 20, companhias alemãs construíram estradas, pontes, represas e linhas ferroviárias no Afeganistão. As empresas foram contratadas pelo rei Emir Amanullah, um admirador dos alemães e que atraiu as atenções durante sua visita a Berlim em 1928.

Seu sucessor, o rei Sahir Shah, não alterou o curso da política externa e apoiou a Alemanha na Segunda Guerra Mundial. Após o conflito, as relações desenvolveram-se sobretudo na área cultural. Somente em 1989, quando as tropas soviéticas saíram do Afeganistão, deixando-o em meio a uma guerra civil, a Alemanha fechou sua embaixada em Cabul, mas mesmo assim manteve contatos diplomáticos. Quando os talibãs assumiram o país em 1996, o governo alemão optou por relacionar-se com os representantes da Aliança do Norte.