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Estado artificial substitui Iugoslávia

Verica Spasovska (ef)4 de fevereiro de 2003

Após uma década dos confrontos sangrentos e 84 anos de sua criação por Tito, a Iugoslávia cede lugar no mapa para o Estado Confederado Sérvia e Montenegro, por pressão da União Européia.

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Sérvia e Montenegro (em branco), unidos ainda num só Estado, ao menos até 2006Foto: AP

"Solania" é o nome jocoso dado pelos críticos, em sua maioria da Sérvia, em alusão ao coordenador da política externa da União Européia, Javier Solana, que mediou a criação do novo Estado. Este já teria nascido, nesta terça-feira (4), com perspectivas quase nulas de sucesso, segundo os seus adversários. Eles são unânimes em afirmar que as novas estruturas seriam impróprias para um assento na ONU ou na Organização para Segurança e Cooperação na Europa (OSCE). Sérvia e Montenegro continuarão dispondo de dois regimes alfandegários diferentes, dois bancos centrais e duas moedas. A Sérvia tem o dinar e Montenegro, o euro. Antes da moeda comum européia, os montenegrinos haviam adotado o marco alemão.

Josip Broz Tito
Fundador da Iugoslávia, Josip Broz TitoFoto: AP

Dentro de três anos, as duas populações da antiga República Iugoslávia vão decidir sobre sua independência em plebiscito. O chefe de governo montenegrino, Milo Djukanovic, já deixou claro que quer aproveitar esta oportunidade para levar a sua república à independência definitiva.

A opinião pública sérvia vê com indignação sincera que as instituições comuns sejam financiadas exclusivamente pela Sérvia. Os críticos vêem "Sérvia e Montenegro" como provisório, sem chances reais de sobrevivência.

A União Européia, ao contrário, acha que sua obra tem sentido, pois a criou a fim de ganhar tempo para conter as forças centrífugas na região. Isto vale principalmente para os esforços de independência dos montenegrinos e visa também a autonomia da província sérvia do Kosovo, que se encontra sob administração internacional desde a guerra de 1999.

Os cálculos feitos em Bruxelas são simples: enquanto a velha Iugoslávia existir, embora com outro nome, os esforços de independência dos albano-kosovares têm pouca perspectiva de sucesso. A idéia de independência foi adiada mas não abandonada, e a UE tem de usar agora este tempo para apresentar um plano para o futuro da região. Lamentavelmente ainda não há prazo previsto para isto.

Os chefes de governo sérvio, Zoran Djindjic, e seu colega montenegrino, Djukanovic, aceitaram tais perspectivas inteiramente questionáveis pelo simples fato de o novo Estado surgido agora poder se tornar membro do Conselho da Europa. Este é o primeiro passo que a UE alcançou a muito custo e apesar das estruturas rudimentares do novo Estado terem um tempo limitado.

O fim da Iugoslávia não foi, absolutamente, planejado em Bruxelas. O golpe mortal no Estado rico em etnias foi dado pelo ditador Slobodan Milosevic uma década atrás. Seus esforços de homogenia, com violações maciças dos direitos humanos e crimes de guerra e contra a humanidade, foram um dos principais motivos pelos quais a Eslovênia, Croácia, Macedônia e Bósnia se tornaram independentes da Iugoslávia.

O nome Iugoslávia existe desde 1929, mas o Estado multiétnico foi criado por Tito depois da Segunda Guerra Mundial. Se na atualidade algumas pessoas no resto da Iugoslávia ainda fazem uma retrospectiva com certa melancolia é porque têm na lembrança um país em situação comparavelmente boa e que, graças à inteligente política externa de Tito e aos fatos geoestratégicos, permitia uma liberdade de viajar, com a qual elas continuam sonhando até hoje. Pois também no futuro, os cidadãos de "Solania" precisarão de visto para viajar a todos os vizinhos próximos e distantes na Europa, e os apertos financeiros fazem parte do cotidiano.

No momento existe um rasgo de esperança: "Sérvia e Montenegro" está sob a proteção da União Européia e assim a comunidade tem o dever de inspirar vida ao Estado artificial.