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Debate entre jovens

21 de janeiro de 2012

Durante dois dias de encontros em Bonn, no oeste alemão, jovens de diversos países participaram de várias atividades interativas e refletiram sobre comportamentos discriminatórios e também sobre integração na sociedade.

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Encontro promoveu a interação entre jovens estrangeiros
Encontro promoveu a interação entre jovens estrangeirosFoto: DW/Mariana Santos

Trinta jovens de oito diferentes nacionalidades reuniram-se nesta sexta-feira e no sábado (20 e 21/01), na cidade de Bonn, para discutir um tema cada vez mais recorrente no cenário global, especialmente nos países que recebem grandes correntes migratórias: a discriminação.

Além de refletirem sobre o assunto, rapazes e garotas do Brasil, Alemanha, México, Colômbia, Coreia do Sul, Tailândia, Mongólia e Equador tiveram a oportunidade de trocar experiências sobre intercâmbio cultural e suas impressões pessoais sobre discriminação e integração.

Um segundo encontro já está marcado para o mês que vem e será em Hamburgo. Para a idealizadora do projeto, a cientista política Mayssoun Zein Al Din, a ideia de trabalhar com jovens era ter uma diferente perspectiva sobre o tema, considerando que, na maioria das vezes, a discussão envolve apenas adultos.

 "Interessante perceber o quão rápido os jovens se conscientizam sobre este tema, como se sensibilizam. Também é interessante ver de que maneira enxergam e sentem a discriminação", conta Al Din.

Os estudantes também fizeram, em conjunto, uma espécie de "Carta contra a Discriminação", na qual reportaram tudo o que, segundo eles, poderia motivar algum tipo de segregação: medo, falta de conhecimento, insegurança, diferenças culturais e até inveja.

Paulo relatou dificuldades de se integrar na escola alemã
Paulo relatou dificuldades de se integrar na escola alemãFoto: DW/Mariana Santos

Integração

A dificuldade de integração em uma sociedade diferente da sua é exatamente o que está vivendo o mineiro Paulo César Pires Campos Júnior, 18 anos, em seu intercâmbio na Alemanha. Ele conta que seus primeiros dias em uma escola alemã, há cinco meses, foram assustadores.

"Quando chega um intercambista no Brasil, ele é 'o cara' do colégio. Todo mundo quer conhecer, sair com ele. Aqui, as pessoas me perguntavam de onde eu era. Eu respondia: 'Brasil'. Elas diziam 'ok', viravam a cara e iam embora", lembra Paulo.

A língua, segundo ele, também era uma grande barreira. Assim que desembarcou na cidade de Olpe, no oeste da Alemanha, Paulo não falava nada em alemão. E os colegas, conta o jovem, não esticavam conversas em inglês. Agora que ele já consegue se comunicar na língua local, as coisas melhoraram. "Mas ainda tenho que correr atrás para tentar interagir com o pessoal".

Já para as mexicanas Karen de La Torre e Valéria Luna, ambas com 17 anos, o mais marcante no intercâmbio está sendo o choque sociocultural. "A comida, a escola, até o transporte público, tudo aqui é diferente", diz Karen.

Elas também estranharam as diferenças de regras entre as casas das famílias alemãs, que as receberam, e as suas próprias, na cidade mexicana de Zacateca. "Aqui o namorado pode dormir na casa da namorada. Isso no México nunca seria possível", conta Valeria. "Por outro lado, tenho que ir para a cama às dez da noite".

Com o projeto, Al Din quer incluir mais jovens no debate
Com o projeto, Al Din quer incluir mais jovens no debateFoto: DW/Mariana Santos

Atividades em grupo

A fim de estimular os estudantes e ajudar na interação dos participantes do treinamento, várias brincadeiras e discussões em grupo fizeram parte das atividades durantes os dois dias do encontro. Numa delas, foi pedido aos jovens que desenhassem uma árvore, que simbolizasse, de alguma maneira, as experiências discriminatórias pelas quais já tinham passado.

"Peguei uma das participantes dizendo que não queria fazer o exercício porque nunca tinha passado por uma situação discriminatória. A outra contestou, dizendo que ela já tinha reclamado de algo. Então a estudante comentou 'mas não quero contar isso ao grupo'. Eu disse que não era necessário nem colocar o nome no papel, se não quisesse, que era algo para ela mesma. Então ela topou", conta Al Din.

"Vieram desenhos carregados de simbologia, de marcas e agressividade. Tinha também outros harmônicos e outros mais discretos. Conversei com uma professora da escola que uma aluna frequenta e ela também observou que o desenho revelava problemas com a garota neste sentido".

No fim das atividades do sábado, os estudantes – selecionados pelas associações de intercâmbio Experiment  e Youth and Understanding – participaram de um bate-papo com um político local, que já foi responsável pelo setor de Integração no estado da Renânia do Norte-Vestfália.

Lei antidiscriminação

O treinamento de jovens intercambistas foi feito em parceria com a Agência Federal Alemã Antidiscriminação (ADS, em alemão). Desde 18 de agosto de 2006, vigora na Alemanha a Lei Geral de Tratamento Igualitário (Allgemeine Gleichbehandlungsgesetz), cujo objetivo é impedir ou acabar com qualquer forma de discriminação racial, étnica, de gênero, religiosa ou baseada em todo tipo de deficiência, idade ou identidade sexual.

Desde então, a ADS vem trabalhando em vários projetos no sentido de fazer valer a lei, alinhada ainda às regras antidiscriminatórias vigentes hoje na União Europeia. 

Autora: Mariana Santos
Revisão: Soraia Vilela