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Escândalo militar

24 de outubro de 2010

Trata-se da maior revelação da história militar dos EUA. Quase 400 mil documentos secretos divulgados pelo portal WikiLeaks revelam brutalidade das forças iraquianas entre 2004 e 2009 – com consentimento dos americanos.

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Documentos revelam brutalidade da guerra entre 2004 e 2009Foto: AP
Mike Mullen
Mike MullenFoto: picture-alliance/ dpa

O almirante Mike Mullen, chefe do Estado-Maior Conjunto dos EUA, criticou com rigor a divulgação de centenas de milhares de documentos secretos das Forças Armadas norte-americanas pelo portal de internet WikiLeaks. Essa "publicação irresponsável de documentos sigilosos roubados ameaça a vida das pessoas e fornece informação valiosas aos inimigos", declarou Mullen.

Anteriormente, um porta-voz do Pentágono e a Secretária norte-americana de Estado, Hillary Clinton, criticaram severamente a divulgação de quase 400 mil documentos na internet, lembrando que isso ameaça a segurança das forças internacionais estacionadas em regiões em crise.

Segundo o WikiLeaks, os documentos secretos provêm de um banco de dados do Pentágono de 1º de janeiro de 2004 a 31 de dezembro de 2009. Trata-se do registro de inúmeros crimes de guerra, entre os quais a tortura de prisioneiros pelas forças de segurança iraquianas com consentimento do Exército norte-americano.

Acusações pesam contra forças iraquianas

Trata-se da maior revelação da história militar dos EUA. Os registros indicam mais 15 mil mortes, não computadas até então, entre a população civil iraquiana.

Jovens oficiais das Forças Armadas norte-americanas relatam, em linguagem objetiva, os ataques e atentados cometidos no Iraque. Esses protocolos transmitem a brutalidade que imperava no país na época. Sunitas e xiitas estavam à beira de uma guerra civil, diversos grupos rebeldes e terroristas assolavam o país com atos sangrentos. E as Forças Armadas norte-americanas se viam impotentes, sem muita capacidade de ação, a não ser documentar os ocorridos.

Os documentos alimentam graves acusações contra as forças de segurança iraquianas, responsáveis por maus-tratos de civis, sobretudo prisioneiros. Os soldados norte-americanos registraram inúmeros casos de violência, tortura e assassinato por parte dos militares iraquianos, comunicaram os ocorridos aos seus superiores, para logo depois darem os casos por encerrados. Entre os relatos divulgados agora, há pelo menos 300 do gênero.

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Forças iraquianas detêm dois suspeitos de terrorismo na presença de soldados americanos, em março de 2008Foto: AP

As tropas de ocupação também não saíram ilesas dessas revelações. Segundo a emissora árabe Al Jazeera, os documentos divulgados pelo WikiLeaks indicam que as forças norte-americanas e seus aliados mataram 681 civis por engano, sobretudo nos postos de controle.

A Al Jazeera é um dos órgãos de mídia internacionais aos quais o WikiLeaks permitiu acesso aos documentos, analogamente ao que já ocorrera quando haviam sido divulgadas 77 mil atas secretas sobre o Afeganistão, em julho passado. Outros órgãos de imprensa que receberam os documentos foram os diários New York Times (EUA), The Guardian (Reino Unido), Le Monde (França) e a revista alemã Der Spiegel.

O Pentágono, que considera "vergonhosa" a revelação pública, teme que "os nossos inimigos possam vir a procurar nos documentos pontos fracos, determinados padrões de comportamento, ou seja, informações que poderiam facilitar futuros atentados". As atas secretas nomeiam 300 iraquianos "especialmente suscetíveis de cometer revanches". Para as autoridades, a divulgação compromete a segurança das forças norte-americanas e seus aliados em regiões em crise.

Segundo os 391.832 relatos secretos vindos a público, o número de mortos da guerra no Iraque entre 2004 e 2009 foi de 104.111, entre os quais 66.081 entre a população civil. Embora os números de maio de 2004 e março de 2009 não estejam disponíveis, o cálculo indica que a guerra vitimou diariamente 31 civis no Iraque.

Bagdá condena divulgação e anuncia esclarecimento

Ägypten Irak Konferenz in Scharm el Scheich al Maliki
Nouri al-MalikiFoto: AP

O governo iraquino anunciou a investigação das acusações, sem deixar de criticar a iniciativa do portal WikiLeaks. Bagdá acusa órgãos de mídia de usar os documentos contra o governo xiita em um momento de crise política. Sete meses após as eleições, prosseguem no país as negociações de coalizão. O primeiro-ministro do Iraque, Nouri al-Maliki, está tentando se manter no poder. Os documentos divulgados pelo WikiLeaks coincidem, no entanto, com o mandato de seu antecessor.

Anteriormente, o ministro iraquiano do Interior, Jawad al-Bolani, já havia anunciado a convocação de uma comissão de inquérito para esclarecer as acusações. Na fase de maior violência, entre 2006 e 2007, milhares de funcionários do governo haviam sido demitidos em decorrência de denúncias de maus-tratos contra sunitas em prisões secretas iraquianas. Na época, o Ministério do Interior estava infiltrado por integrantes de milícias xiitas que organizavam esquadrões da morte para punir os sunitas, anteriormente no poder.

EUA violaram direito internacional?

A organização de direitos humanos Human Rights Watch exigiu que o governo iraquiano investigue os relatos sobre a tortura sistemática de presos por parte das forças de segurança e puna os reponsáveis.

Para a Human Rights Watch, o Exército dos EUA também deveria averiguar se não violou o direito internacional ao entregar milhares de prisioneiros às autoridades iraquianas, apesar do risco "evidente" de tortura.

SL/dpad/rtdt/afp
Revisão: Soraia Vilela

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