1. Pular para o conteúdo
  2. Pular para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

Armas nucleares

Klaudia Prevezanos (as)10 de outubro de 2006

Para o especialista em desarmamento nuclear Hans-Joachim Schmidt, os americanos deveriam negociar secretamente com os norte-coreanos para evitar que o conflito se agrave.

https://p.dw.com/p/9ERv
O líder norte-coreano Kim Jong Il, cujo governo anunciou ter feito o primeiro teste nuclear da história do paísFoto: AP

O teste nuclear anunciado pelo governo da Coréia do Norte foi condenado por unanimidade pelo Conselho de Segurança da ONU e levou os Estados Unidos a pedir a adoção imediata de sanções ao país. Mas, assim como no caso do Irã, a decisão a favor das sanções não é tão simples como os norte-americanos gostariam que fosse.

Para Hans-Joachim Schmidt, especialista no tema Coréia e política de desarmamento do Instituto de Pesquisas Sobre a Paz de Frankfurt, os americanos deveriam dar início a conversações com o governo da Coréia do Norte.

DW-WORLD: Qual o objetivo da Coréia do Norte com o teste nuclear?

Hans-Joachim Schmidt: Um dos objetivos, sem dúvida, é a normalização das relações com os Estados Unidos, e fazer com que os Estados Unidos cancelem ou diminuam suas sanções econômicas contra a Coréia do Norte. E que as conversações multilaterais e bilaterais se dêem num nível de igualdade entre os dois países. E não num nível no qual a Coréia do Norte precise se subordinar aos Estados Unidos.

Para reafirmar sua posição de igualdade, a Coréia do Norte realmente não tinha nenhuma outra opção a não ser realizar o teste nuclear?

Os americanos nunca aceitaram os norte-coreanos como um parceiro de igual para igual e conduziram um política do mais forte em relação à Coréia do Norte. Pyongyang não viu outra saída a não ser os meios militares. Eles são também os únicos meios que os norte-coreanos possuem para deixar clara a sua posição.

Quais reações podem ser esperadas agora? Fala-se num endurecimento das sanções econômicas, mas também numa espécie de bloqueio marítimo por parte dos Estados Unidos.

UN-Sicherheitsrat berät sich zu Nordkorea
O embaixador da China nas Nações Unidas, Wang GuangyaFoto: AP

O comunicado dos representantes do Conselho de Segurança da ONU de sexta-feira passada (06/10) diz que, se a Coréia do Norte realizasse um teste nuclear, isso seria entendido como sendo uma ameaça à segurança da região e, por esse motivo, a ONU precisaria impor sanções.

Por outro lado, devemos levar em conta que os países envolvidos avaliam a situação com sendo tudo, menos unânime.

Principalmente a China e a Rússia são contra sanções mais duras por parte da ONU. Os dois países querem que o diálogo seja retomado. Pequim e Moscou condenam claramente o teste nuclear, mas acreditam que os americanos devam fazer mais para que o diálogo tenha êxito e para elevar sua oferta de cooperação.

O problema fundamental entre norte-coreanos e americanos é que um fala uma coisa e o outro fala outra. Nenhum dos lados ouve o que o outro diz. É aí que reside o maior perigo dessa crise, pois, se a coisa continuar assim, a crise poderá evoluir para os limites de uma guerra.

Bloqueio marítimo lembra a crise cubana. Qual a sua opinião?

Sanções que levem a um bloqueio total à Coréia do Norte são muito perigosas porque podem elevar drasticamente o risco de uma guerra na região. Por isso, considero inadequado um bloqueio militar marítimo. Ele também só funcionaria se a China participasse.

Não creio que a China queira participar de sanções tão duras. Certamente, Pequim também reagirá com sanções, mas elas não colocarão em perigo a estabilidade do regime em Pyongyang.

Quais são as sanções mais prováveis?

Ausschlag der Messgeräte nach Atomtest in Nord-Korea in japanischer Wetterstation
Sismógrafo no Japão capta tremor na Coréia do NorteFoto: AP

Pode-se partir do princípio de que haverá sanções econômicas mais duras. A Coréia do Norte tentou diversificar suas relações econômicas, tanto na região quanto com a América Latina. E, à luz dos novos acontecimentos, esse países certamente irão rever suas relações econômicas com a Coréia do Norte, o que afetará gravemente o país.

O mais importante, porém, é o que a China fará, porque ela é o grande fornecedor de energia e porque é o país que, no momento, mais oferece apoio econômico e humanitário à Coréia do Norte.

O que os Estados Unidos deveriam fazer para retomar o diálogo com a Coréia do Norte?

É necessário uma oferta de diálogo – seja ela da forma que for – por parte dos Estados Unidos. Essa oferta deve apontar para uma saída para o agravamento da crise. Nesse aspecto, os americanos podem fazer mais do que os norte-coreanos, que, no momento, se sentem postos de lado. A Coréia do Norte pode reagir de forma impensada e desproporcional. Até o momento, isso não aconteceu, mas pode acontecer logo.

Então, além do Conselho de Segurança, os Estados Unidos e a China também devem agir.

A China é certamente importante, mas decisivo é o que os americanos farão. É difícil cancelar as atuais sanções econômicas, mas há outras possibilidades para começar uma negociação. Ainda que isso não tenha necessariamente que acontecer de forma oficial, pois faria os dois países terem de dar o braço a torcer em público. Mas conversações secretas em Pequim, intermediadas pela China, poderiam ser úteis para evitar que a crise se agrave ainda mais.

Mesmo que ocorram negociações: a Coréia do Norte, na condição de potência nuclear, ainda aceitaria renunciar a esse poder?

Nord-Korea kündigt Atomtest an Zeitungsschau Symbolbild
Sul-coreana lê jornal com informações sobre teste nuclearFoto: AP

Provavelmente não, pelo menos não a curto prazo. Num primeiro momento, a Coréia do Norte pretende manter sua condição de potência nuclear e conduzir as negociações claramente na condição de potência nuclear.

Por isso, negociações secretas seriam uma opção, pois nenhum dos lados teria que renunciar oficialmente à sua posição. Os Estados Unidos não estão prontos para aceitar a Coréia do Norte como potência nuclear, e a Coréia do Norte não pode manter negociações oficiais com os Estados Unidos por causa da vigência das sanções econômicas.

O senhor considera provável que o Japão e a Coréia do Sul também desenvolvam armas nucleares para sua própria proteção?

No Japão, a maior parte da população é contra as armas nucleares, mas no meio político, especialmente entre os nacionalistas, o tema será ainda mais discutido.

Na Coréia do Sul, as lideranças políticas rejeitam as armas nucleares, mas pesquisas mostram que a maioria da população é favorável. Diante desse quadro, uma crescente "nuclearização" da crise é possível. Principalmente se a questão se agravar. Nesse caso, os americanos podem perder logo o controle sobre a região.