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EUA dominam Alemanha, mas Kahn garante classificação

Marcio Weichert21 de junho de 2002

Americanos criaram numerosas chances de gol, mas esbarraram em mais uma atuação excepcional do goleiro alemão. Alemães reconhecem mau futebol, mas festejam vaga na semifinal.

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Ballack (esq.) não desperdiçou a chance de colocar a bola no golFoto: AP

Tal como advertido pelo auxiliar técnico Michael Skibbe, a torcida alemã teve de ter paciência nesta sexta-feira na vitória de 1 a 0 da Alemanha sobre os EUA. Porém, mais do que calma para aguardar a hora do gol da classificação – marcado desta vez por Ballack já aos 38 minutos do primeiro tempo –, os alemães precisaram de nervos de aço para suportar a pressão dos americanos aprendizes de futebol sobre a desordenada e passiva equipe do país tricampeão mundial.

Para conquistar a vaga na semifinal de Seul, contra o vencedor do duelo entre Coréia do Sul e Espanha neste sábado, os guerreiros alemães travaram uma batalha em Ulsan. Quase toda ela em seu próprio campo defensivo. Não à toa, o goleiro Oliver Kahn terminou a partida como o destaque.

Vergonhosamente, a Seleção Alemã, que tem o Bayer Leverkusen como base, deixou-se acuar por um time integrado por jogadores desprezados pelo clube vice-campeão nacional. Contratado pelo Leverkusen, o zagueiro Hejduk jamais foi aproveitado em sua defesa, enquanto o atacante Donavan joga emprestado num clube da Califórnia, devido à falta de chance diante da concorrência alemã e estrangeira na equipe. A seleção dos EUA tem ainda o zagueiro Sanneh, do Nürnberg, egresso da segunda divisão que quase não sobreviveu na primeira na última temporada.

Orgulho, apesar do desagrado

– O goleiro Kahn não escondeu sua decepção com seus colegas de time, mas não acredita que o mau desempenho irá abalar a equipe. "Não se pode ficar satisfeito com este jogo, mas daqui a dois dias ninguém mais falará dele. Podemos nos orgulhar desta tropa", afirma o capitão. "Foi trabalho duro e, no final, também tivemos sorte", reconhece Ballack.

O técnico Rudi Völler, porém, acha que não dá para ir adiante deste jeito. "O time estava devagar demais, muito passivo. Se não melhorarmos, a semifinal é o fim da linha", adverte o treinador, responsável pelo melhor desempenho da Alemanha numa Copa desde 1990. Nas duas últimas, comandada por Berti Vogts, a Seleção Alemã não passou das quartas-de-final. Esta é a décima vez que o país classifica-se para semifinais de um mundial.

A forma com que os soldados de Völler chegaram lá não agradou a ninguém. "Não precisamos nos desculpar, mas não se pode estar satisfeito com uma atuação dessas. Temos de agradecer o resultado exclusivamente a Kahn", declarou o presidente da Federação Alemã de Futebol (DFB), Gerhard Mayer-Vorfelder, referindo-se ao goleiro que fez contra os EUA seu 50º jogo pelo selecionado nacional.

Proposta de castigo e elogio

– A seu estilo, o ex-capitão e ex-técnico Franz Beckenbauer igualmente reprovou o que viu em Ulsan. "Fora Kahn, deveria-se colocar todos num saco e aplicar uma surra. Não se vai acertar nenhum inocente", desabafou o Kaiser do futebol alemão, sugerindo uma forma de castigo de causar inveja ao treinador brasileiro Luís Felipe Scolari, tido como autoritário.

Mesmo assim, o técnico Völler ainda encontra motivos para elogiar seus comandados. "Antes do mundial, ninguém punha fé em nós. Por isto, chegar à semifinal é um feito sensacional para esta equipe", repete o treinador, forte candidato a se irritar novamente nos próximos dias com as críticas dos comentaristas de seu país.

O gol

– Para sobreviver à superioridade do adversário, o tricampeão mundial valeu-se de seu grande goleiro e da eficiência de Ballack em uma das escassas chances alemãs de gol. E, como temia o técnico dos EUA, Bruce Arena, num lance de bola parada.

Ziege cobrou uma falta pela direita, cruzando na área. Entre os zagueiros Sanneh e Berhalter, Ballack levou a melhor e cabeceou para o fundo da rede. Quatro minutos depois, o artilheiro Klose – empatado em cinco gols com Ronaldo e Rivaldo – quase ampliou o placar ao mandar, também de cabeça, uma bola na trave.

Defesa e meio-campo

– Apesar de Völler ter armado a defesa com Kehl no lugar de Ramelow, mantendo a bem sucedida formação do segundo tempo da partida contra o Paraguai, a zaga alemã voltou a apresentar-se desentrosada e instável. Desde o início do jogo, os americanos arrombaram aquilo que deveria ser uma fortaleza. "Sem Oliver Kahn, eles teriam feito dois ou três a zero", comentou Beckenbauer no intervalo.

Para o campeão de 1974 e 1990, os alemães foram mal nas disputas de bola, na armação das jogadas e na ocupação dos espaços, além de atacarem muito pouco. Marcados com extremo rigor – às vezes até excessivo –, Hamann e Ballack mal conseguiam criar algo no meio de campo.

Kahn sensacional

– Ao defender uma bola atrás da outra, Kahn não só impediu que os americanos saíssem em vantagem, como empatassem. Por exemplo, no início do segundo tempo, quando o goleiro mostrou excelente reflexo ao espalmar um chute de Berhalter. Em seguida, a bola bateu na mão de Frings, em cima da linha do gol, sendo agarrada na volta pelo arqueiro. O juiz escocês Hugh Dallas não deu pênalti, optando por marcar falta sobre Kahn, atacado por um americano quando o alemão, deitado, já tinha a bola nas mãos.

No mais, a partida seguiu o mesmo roteiro. Os americanos enlouquecendo a retaguarda alemã, que resistia como soldados encurralados. Pouquíssimas vezes, o time de Völler teve chance de ainda tentar sorte melhor em algum contra-ataque.