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Europa sopra hálito jovem na entrada do século 21

<br>Gabriel Fortes30 de julho de 2005

Mesmo sob ameaça constante de terrorismo, Velho Continente mantém charme turístico de norte a sul, ostenta simpatia, bom-humor e se oferece como palco para "curtir a vida".

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Paris, a única vigiada por armasFoto: AP

Um clima cinzento, o frio na barriga e a incerteza pavoneavam no ar que um passeio pela Europa logo após o ataque terrorista a Londres, no começo deste mês, não seria uma boa idéia. Afinal, chefes de governo se reuniam a cada dia em uma de suas "capitais decisivas", e o exército tinha ido para as ruas, em Paris.

A onda de terror que abalara o mundo no começo deste século 21 e encobrira Madri em março do ano passado e Nova York em 2001, dizimando milhares de vidas, no entanto, se desfez logo no primeiro destino. Amsterdã, oásis do liberalismo, vive imersa em uma pintura à prova de bombas e oferece paisagens deslumbrantes.

O seu povo se mistura à multidão turista e esbanja carisma sob o sol do norte europeu. "Para que pensar em terrorismo? Estamos em Amsterdã, é verão, está calor e todos adoram a vida", agitava-se um guia que orienta visitantes num dos inúmeros tours por alguns dos 165 canais que cortam a cidade.

Touristenschiff unter Grachtenbrücke der Prinsengracht in Amsterdam
Boa idéia é explorar Amsterdã por seus canaisFoto: Illuscope

A capital holandesa com os seus mais de um milhão de habitantes é "obra viva" de Van Gogh. Ou Rembrandt, dois dos pilares da arte ocidental. Guarda centenas de museus em um pequeno espaço que abriga até um prédio com a história sobre o sexo. E outro sobre a maconha, produto de grande consumo em suas ruas.

Por ali é impossível se apegar às regras. Tudo muda de maneira constante, a cada momento. A cidade é libertária, liberal, ousada, tradicional, tolerante e leva ao extremo o significado da palavra globalização.

Sob armas

Bruxelas, principal cidade da pequena Bélgica, tornou-se um dos lugares mais seguros do mundo poucos dias após a explosão de bombas no metrô londrino.

"Temos hoje uma reunião importante aqui, a segurança reforçada é uma obrigação", explicava um oficial na região da prefeitura municipal, onde simultaneamente acontecia um concerto musical acompanhado por centenas de turistas. Despreocupados, aproveitando o sabor do chocolate local e o doce chá que ajuda a esquecer o calor do verão europeu.

Paris viveu dias semelhantes, com os seus "amantes" vigiados por metralhadoras e escopetas da força armada francesa. "Mas não se preocupe, aproveite a sua viagem sem medo. Não há motivos para pavor. Estamos resguardando as famílias, os turistas", disse um soldado.

Frases que garantem tranqüilidade para visitas aos high spots da cidade catalogados nos guias turísticos, e desnecessárias para uma caminhada a lugares menos badalados, como a Capela de Santa Catarina, na rue du Bac, a cerca de 20 minutos a pé de Notre Dame.

A entrada gratuita, como todas as igrejas na França, não é o único fator compensatório. Foi ali que Nossa Senhora apareceu em 1830 a Santa Catarina Labouré, até então uma simples jovem religiosa que aprendeu a devoção da Medalha Milagrosa.

"Este lugar não é o mais procurado de Paris, mas sempre recebemos muitos turistas. E, mesmo nestes tempos difíceis, sem segurança total, o espírito aqui é sempre jovem. Todos esquecem os problemas, querem aproveitar", argumentou uma brasileira que trabalha no local.

Agito

O exército some de cena da imponente Paris ao sul do país, passando por Lyon, cidade de beleza ímpar costurada pelos rios Saône e Ródano. Na costa do Mediterrâneo o que importa é garantir uma "cama" e um guarda-sol nas praias particulares que chegam a cobrar 15 euros (quase R$ 45) por um ingresso diário. A regra do jogo é fazer reserva com um dia de antecedência.

A frieza européia, não tão comum na França quanto na Alemanha, também desaparece com o suor do litoral nesta época do ano. Talvez pela simpatia do povo nas ruas, ou pela presença maciça de estrangeiros que "colonizam" a Riviera durante estes meses.

Cannes, abrigo do renomado Festival International du Film, Saint Tropez, Antibes e Nice são os centros mais procurados da Côte D'Azur, balneário de ricos e famosos nos moldes de Beverly Hills, nos Estados Unidos.

Hotel Cóte d'Azur de Cham Hotel
Uma das belas praias do litoral francêsFoto: IMPORT

"Conhecemos quase tudo no nosso país, e adoramos a França. Por isso estamos aqui. É claro que o terrorismo assusta, mas não estamos preocupadas com isso agora. Queremos nos divertir e aqui sabemos que estamos seguras", disse Sandy, "porta-voz" de um grupo de estudantes norte-americanas.

Enquanto as garotas bronzeadas paqueram no final do longo dia que escurece após as 22 horas, e se preparam para um festival da MTV à beira-mar que atraiu milhares de pessoas naquela noite, os pais confiam na segurança e apreciam os pratos típicos, o champanhe e o vinho que vêm do centro do país.

Antes e depois

Mônaco, distante cerca de 20 minutos das praias francesas num trem regional, guarda segredos, glamour, paisagens fantásticas e a sensação de que aquele lugar mágico foi um antes e é outro após a presença de Grace Kelly.

A atriz norte-americana que laçou os sentimentos de Rainier se tornou princesa ali, entrou na família Grimaldi, que reina o local há sete séculos, e até hoje é reverenciada na catedral de Monte Carlo, onde foi sepultada. A visita torna-se obrigatória principalmente pelo monograma de Kelly que não deixa de ter flores por um só dia. É fantástico.

Das Kasino von Monaco
Cassino de Mônaco, que tem como vizinho o suntuoso Hotel de ParisFoto: AP

Mônaco está encravada num rochedo entre os Alpes e o Mar Mediterrâneo, tem irrisórios dois quilômetros quadrados de área e, além de sua rica história, exibe em qualquer esquina belos exemplares de Ferrari e parece ter "calçadas-passarelas" para o desfile de suas misses.

Um importante Instituto Oceanográfico (12 euros, perto de R$ 36) que já foi administrado por Jacques Cousteau é um dos principais focos dos holofotes no cume do pico denominado Monaco-Ville. O cassino construído há quase 150 anos pelo projetista da Ópera de Paris, Charles Garnier, também merece uma visita.

É possível entrar em seu hall principal sem pagar ingresso e andar pelo local admirando a decoração riquíssima. Para jogar, não pense em camiseta, bermuda e sandálias. Você será barrado, definitivamente.

Nem tudo, porém, significa quantias absurdas de dinheiro em Mônaco. Um tour dentro de um minitrem custa seis euros (quase R$ 20) e oferece ao turista um passeio de 30 minutos por todo o país, o segundo menor do mundo atrás apenas do Vaticano. Ele passa até pelas famosas curvas do GP de Fórmula 1 que tem até hoje o brasileiro Ayrton Senna como recordista de vitórias.

Bella Itália

Com buon giorno a torto e a direito, o turista é recebido na Itália com educação, simpatia e calor humano. Afinal, trata-se de um dos destinos turísticos mais procurados no planeta e um país que conta, de maneira recorde, com mais de cem mil monumentos históricos.

Milão, a principal cidade do norte, é rica, grandiosa, poderosa e abriga as grandes indústrias italianas. Não é tão segura quanto os maiores centros alemães, por exemplo, mas é digna de boas caminhadas.

"A Itália foi apontada pelo terroristas que atacaram Londres como o próximo alvo, assim como a Dinamarca, mas o governo tem tomado providências. O terrorismo abala o mundo inteiro, e esta época de férias serve para esquecermos também este problema. Ele existe, mas ninguém quer pensar nisso", contou um gerente de hotel no centro de Milão.

Por ali também está a Piazza Duomo, cartão-postal da cidade, a impressionante Galeria Vitorio Emmanuelle, berço de grandes etiquetas na capital da moda, e o Castelo Sforzesco.

Der Monte San Giorgio wird Unesco Welterbe
Lago de Lugano, entre a Suíça e a ItáliaFoto: AP

Mais ao norte, perto da Suíça, os lagos que se espalham pelos Alpes são outras fontes de inspirações. Como e Lugano, apesar de lugares de clima frio na maior parte do ano, têm temperaturas tórridas em julho.

Não chegam a representar para os italianos o que a Riviera significa para a França, mas o ambiente turístico e as belezas naturais são dignas de uma parada. Braçadas naquelas águas doces e geladas ou um simples passeio de barco também valem a pena.

Primeiro mundo

Dali a Zurique, na Suíça, são cerca de duas horas dentro de um trem. Tempo suficiente para o viajante chegar ao que se sonha no Brasil como "primeiro mundo". O país é espelho de organização, segurança, limpeza, rigidez e cidadania. A altas taxas, obviamente.

Por isso, quem viaja no budget não deve reservar a cidade como um destino. Ela é cara demais, e uma visita torna-se compensatória com certo "investimento financeiro".

Ainda assim, é possível encontrar opções gratuitas neste centro que sopra hálito jovem para os quatro cantos da quieta, certinha e precisa Suíça. O seu Kunsthaus (museu de arte) não cobra ingresso para a exposição permanente que conta com obras de Picasso, Van Gogh e Monet, entre outros.

Viena, capital da Áustria, está em pé de igualdade com a quase vizinha. Trata-se de uma cidade extremamente rica e organizada, com um sem número de opções culturais. São mais de mil anos de história.

Uma das paradas obrigatórias é o Palácio de Schönbrunn, que junto com os seus jardins foi recentemente elevado a Patrimônio da Humanidade pela Unesco.

Leste, barato e imperdível

O giro anti-horário em torno da Alemanha no pós-ataque a Londres encontra em Praga, capital da República Tcheca, um destino desigual em comparação ao resto do continente.

É uma das mais belas cidades européias, que guarda na melancolia do Leste todos os seus segredos. Praga resistiu bravamente às duas grandes guerras do século passado, e hoje, após o comunismo, celebra o seu renascimento com os milhares de turistas que se esbarram em suas ruas.

Eleita há cinco anos como a capital cultural da Europa, a cidade conta com uma série de construções medievais, obras góticas, como a Ponte de Charles, empreendida em 1357, e palácios barrocos. Um passeio interessante é o Castelo de Praga, onde acontece a tradicional troca da guarda.

Die Altstadt von Prag
Centro histórico de PragaFoto: AP

O Relógio Astronômico – a cada hora cheia um boneco que representa a morte aciona sinos que dão início ao desfile de 12 apóstolos seguindo São Pedro – também é imperdível. Assim como a Praça Central, ponto de partida para as atrações de Praga e cujo ambiente é recheado de bares e restaurantes que tomam conta do cenário art nouveau.

"Esta é a melhor cidade da Europa. Temos uma história riquíssima, como os outros centros, mas o Leste tornou-se mais acolhedor. Além disso, a nossa moeda mais fraca do que o euro enche a cidade de turistas durante o ano inteiro", comentou a proprietária de um dos melhores hostels do Velho Mundo, a cinco minutos a pé do centro de Praga.

Preço baixo também se encontra ao entrar na Alemanha via Dresden. A capital da Saxônia é uma das principais cidades do lado oriental e uma das mais bonitas do país – com preços bem acessíveis para o costume germânico.

Dresden foi quase totalmente reconstruída após ver os seus escombros como conseqüência de um bombardeio norte-americano durante a Segunda Guerra Mundial. A Frauenkirche, no centro que ainda abriga o belo palácio-castelo Residenzschloss, foi reconstruída a partir de 1994 numa obra que terminou apenas no ano passado.