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Aproximação com cautela

7 de março de 2008

A DW-WORLD.DE consultou três especialistas em política externa sobre a nova fase das relações entre Havana e a UE, após a abdicação de Castro. Dentre eles, o brasileiro Thiago de Aragão.

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Após a abdicação, a influência de Castro continua forteFoto: AP

Quando Fidel Castro entregou o cargo de presidente de Cuba, em janeiro último, após 49 anos no poder, uma pergunta atravessou toda a comunidade internacional. Pode-se esperar mudança democrática, acompanhando a reviravolta da abdicação?

Uma delegação da União Européia parte para Havana a fim de constatar se a atmosfera local permitirá a sobrevivência de relações normalizadas e de engajamento. A DW-WORLD.DE conversou com três especialistas sobre as perspectivas de uma nova aproximação entre Havana e Bruxelas.

Observação e monitoração

O brasileiro Thiago de Aragão é pesquisador associado do Foreign Policy Center, um think tank europeu sediado em Londres. Em entrevista a ele classificou a relação entre a União Européia e Cuba, até agora, como de "observação e monitoração", sendo mais próxima com a Espanha, por razões óbvias.

Juan Diaz concorda, acrescentando a relação com a Itália. Ele é diretor do projeto CSS de Mediação Integrativa, do Ministério alemão das Relações Exteriores. Karen Smith, docente da London School of Economics, ressalva que a UE nunca teve o que se possa intitular "relações institucionalizadas" com o país de Castro.

Segundo Aragão, nos anos mais recentes o dirigente cubano haveria se tornado mais flexível no tocante ao diálogo internacional. Contudo, segundo Diaz, "toda vez que a UE se abre para Cuba, emitindo sinais, Cuba parece achar um jeito de complicar a situação".

O calo da democracia

Quanto às principais áreas de conflito entre Bruxelas e Havana, Diaz e Smith apontam a democracia e os direitos humanos, especificamente a detenção de dissidentes. Diaz destaca ainda as críticas constantes de Fidel Castro ao chefe da diplomacia da UE, Javier Solana. "Isso torna difícil para a UE implementar um diálogo. Mas ela continua tentando."

Já o especialista brasileiro observa, cético: "Quando a União Soviética morreu, Cuba também morreu para a maioria dos governos europeus". Assim, as expectativas de abertura democrática na ilha caribenha "jamais ultrapassaram o nível retórico".

"Acredito que a política da UE em relação a Cuba é parcialmente ligada à estadunidense [...] em termos de valores democráticos. Por outro lado, a política praticada pelos EUA é uma herança da Guerra Fria", especifica Thiago de Aragão.

Castro não está morto

Os três peritos em política externa concordam que o mundo vê na abdicação de Castro uma possibilidade de realinhar interesses, sobretudo no tocante à democracia.

Juan Diaz crê que a UE "procura assistir o povo de Cuba a desenvolver sua sociedade. E, aos olhos dos europeus, "valores democráticos, respeito pelos direitos humanos e liberdade econômica sejam parte deste desenvolvimento".

Segundo Karen Smith, se há possibilidade de mudança, esta será lenta. E é uma "oportunidade para não ter que pressionar demais no sentido da democratização, pois a liberalização já está ocorrendo, e ninguém quer colocá-la em risco".

Aragão fala de uma "oportunidade revitalizada de reiniciar conversações". Porém adverte: "Devemos lembrar que [Castro] está abdicando, mas não está morto. Mesmo longe do cargo, ele continua decidindo em Cuba. O capitão do navio pode mudar, mas enquanto [Castro] estiver vivo, o curso continuará bem o mesmo". (na/av)