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Ex-guarda-costas de Bin Laden está na mira das autoridades alemãs

9 de agosto de 2012

Tunisino que teria feito parte da guarda pessoal do líder morto da Al Qaeda, Osama Bin Laden, vive há anos na Alemanha. As autoridades o consideram um homem perigoso, mas não têm provas suficientes para condená-lo.

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Foto: Matthias Graben/WAZ

Há oito anos que o tunisino Sami A., de 36 anos, leva uma vida tranquila, com esposa e filhos, na cidade alemã de Bochum, na Renânia do Norte-Vestfália. A vizinhança afirma que ele é um sujeito discreto. Mas o pai de família aparentemente não é um cidadão inocente. "Avaliamos Sami A. como um pregador religioso perigoso", afirmou, no início desta semana, Burkhard Freier, presidente do Departamento Federal de Proteção da Constituição (BfV), o serviço de inteligência interna da Alemanha. Ele tem estado os últimos oito anos na mira do BfV.

A Procuradoria Geral da República da Alemanha, mais alta autoridade jurídica no campo da segurança do Estado, também já processou o tunisino devido a suspeitas de que Samir A. poderia ser membro de uma organização terrorista estrangeira. Mas o caso foi arquivado em maio de 2007 por falta de provas, e a situação permanece a mesma. "Desde então, não temos evidências factuais suficientes em relação a essa pessoa para comprovar um delito da competência da Procuradoria Geral", afirmou o porta-voz do órgão.

Segundo reportagens publicadas nos diários do grupo alemão de mídia WAZ, Sami A. teria recrutado em mesquitas de Bochum jovens muçulmanos para a "guerra santa", tendo sido responsável pela radicalização de dois membros de uma célula da Al-Qaeda em Düsseldorf.

** FILE ** This undated photo shows al-Qaida leader Osama bin Laden in Afghanistan. bin Laden will release a new Internet message that focuses on Iraq and an al-Qaida linked insurgent group, a terrorism monitoring group said Thursday, Dec. 27, 2007. (AP Photo)
Suspeito teria trabalhado para o ex-líder Osama Bin LadenFoto: AP

A célula de Düsseldorf

De acordo com o WAZ, Sami A. dera aulas aos dois suspeitos de terrorismo em mesquitas de Bochum. E teria dado ao jovem de 21 anos Amid C., de Bochum, e a Halil S.de 28 anos, das vizinhanças de Gelsenkirchen, as ferramentas ideológicas para seus supostos planos terroristas. Ambos estão sendo julgados em Düsseldorf, acusados ​​de planejarem um atentado, juntamente com dois cúmplices. Segundo a acusação, eles queriam detonar uma bomba de fragmentação no meio de uma multidão, para "espalhar medo e terror na Alemanha".

Mas, de acordo com o porta-voz da Procuradoria Geral, Sami A. não foi responsável pelo recrutamento da chamada "célula de Düsseldorf". Abdeladim El-K., também processado juntamente com os dois jovens, teria planejado o ataque e recrutado seus supostos cúmplices.

Der Imam Ahmad Aweimer (r) erläutert am Dienstag (19.06.2011) in Bochum in der Moschee des Islamischen Kulturvereins einer Schulklasse den Islam. Gut vier Millionen Muslime leben in Deutschland. Vorurteile und Misstrauen gibt es auf beiden Seiten. Die Politik will Defizite bei der Integration im Dialog aufarbeiten. Eine wichtige Rolle spielen die Imame. Foto: Oliver Berg dpa/lnw (zu dpa/lnw: "Imam in Deutschland: «Kämpfen gegen Vorurteile» vom 29.07.2011) +++(c) dpa - Bildfunk+++
Ahmed Aweimer diz que Sami A. não pode pregar em sua mesquitaFoto: picture-alliance/dpa

Até segunda-feira passada, ainda podia ser visto na internet um vídeo em que Samir A. prega o Islã de uma forma radical, afirmando que membros da família que não têm fé não pertencem à família. O clipe, entretanto, desapareceu da rede. "Este vídeo foi removido pelo usuário", é o que se pode ver agora na plataforma YouTube. Seria uma tentativa de apagar vestígios? Um programa da TV alemã exibiu trechos do vídeo, levando muitos outros meios de comunicação a também investigarem o caso.

"Ideias abstrusas"

Sami A. é conhecido entre os muçulmanos de Bochum. Segundo integrantes da mesquita de Khaled, no bairro Hustadt, o tunisino é apenas tolerado no lugar como visitante, mas não tem permissão para pregar. "Suas ideias sobre o Islã são muito abstrusas", afirma Ahmed Aweimer, da mesquita Khaled, à rede alemã WDR.

Ele também confirma que a mesquita era visitada por um suposto membro da célula terrorista de Düsseldorf. Mais do que isso ele diz não saber. Nem se os supostos terroristas se encontraram no lugar com Sami A. ou se foram radicalizados pelo tunisiano.

"Se as acusações forem confirmadas, Sami A. será proibido imediatamente de entrar no templo", garante Aweimer. "Devemos proteger nossa juventude, devemos também proteger nossa comunidade."

A mesquita Khaled já foi manchete de jornal outras vezes. Ziad Jarrah, um dos terroristas dos atentados de 11 de Setembro, já rezou no lugar. Alguns especialistas dizem que no julgamento em Dusseldorf não está se julgando uma célula da Al Qaeda em Düsseldorf, mas uma "célula de Bochum".

Parece não ser coincidência que Bochum atraia muçulmanos violentos. "A cidade tem sido, desde a década de 1970, um centro para refugiados políticos de países muçulmanos", diz Stefan Reichmuth, professor de Estudos Islâmicos na Universidade de Bochum.

Prof. Dr. Stefan Reichmuth Ruhr-Universität Bochum Seminar für Orientalistik und Islamwissenschaften
Reichmuth vê problema na estrutura de mesquitas alemãsFoto: Dominik Asbach

Ele tem uma tese para explicar como pregadores extremistas conseguem radicalizar estudantes muçulmanos num país liberal como a Alemanha. Reichmuth afirma que há nas mesquitas uma "estrutura difusa para os árabes muçulmanos". Segundo o especialista, os grêmios das mesquitas são compostos por diversas correntes e não têm uma supervisão, possibilitando que pregadores muitas vezes tenham chance de aproveitar lacunas. "E assim, é possível a uma pessoa conseguir chamar atenção ao ministrar cursos sobre o Alcorão ou qualquer outra coisa."

A cidade de Bochum já tentou deportar Sami A. para a Tunísia. A ordem de deportação foi revogada pelo Tribunal Administrativo de Gelsenkirchen ─ em parte, porque Sami A. é casado com uma alemã, com quem tem três filhos. A cidade recorreu da decisão. Agora, uma instância superior decidirá se Sami A. pode ser deportado para seu país natal.

Autor: Arnd Riekmann (md)
Revisão: Francis França