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Jogadores acima dos 30 roubam a cena no Brasileirão

Carlos Guimarães Filho9 de novembro de 2013

Apesar de idades muitas vezes consideradas avançadas para os padrões do futebol, veteranos que passaram pela Europa são destaque nas equipes mais bem colocadas no Campeonato Brasileiro.

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Aos 39 anos, Zé Roberto é um dos destaques do GrêmioFoto: picture-alliance/dpa

Os jogadores acima dos 30 anos, chamados carinhosamente de "velhinhos" no mundo da bola, estão fazendo a diferença na atual temporada do futebol brasileiro. A importância desses atletas para suas equipes pode ser observada na tabela de classificação do Campeonato Brasileiro.

Faltando seis rodadas para o término da principal competição nacional, as quatro equipes mais bem colocadas – e que, assim, asseguram vaga na Taça Libertadores do próximo ano – têm ao menos um atleta tido como experiente que é referência dentro de campo.

Zé Roberto (39) e Dida (40), do Grêmio, o holandês Seedorf (37), do Botafogo, Júlio Baptista (32), do Cruzeiro, e Paulo Baier (39), do Atlético Paranaense, mostram, a cada partida, que ainda têm muita "lenha para queimar" pelos gramados brasileiros.

E isso apesar de eles sofrerem com um calendário que não permite a recuperação ideal por causa do excesso de partidas e de, muitas vezes, terem de encarar a marcação de adversários com metade da idade.

"Minha idade é um fator importante, mas tenho experiência para me preparar bem e para me apresentar em alto nível", afirmou Seedorf, em julho do ano passado, durante a sua apresentação oficial como atleta do Botafogo.

O holandês estava certo. Após uma bem-sucedida carreira em clubes europeus, como Ajax, da Holanda, Sampdoria e Inter de Milão, da Itália, e Real Madrid, da Espanha, o meia trocou o velho continente pelo Brasil, influenciado principalmente pela esposa brasileira, para ser o destaque do time carioca.

Fußball-Spieler Clarence Seedorf vom brasilianischen Fußballverein Botafogo
Após uma bem-sucedida carreira em clubes europeus, Seedorf resolveu atuar seus últimos anos no BrasilFoto: Getty Images

Passados 15 meses, o atleta comprova que pode jogar em alto nível, e o Botafogo ocupa a quarta colocação na tabela de classificação do Brasileirão.

Dida, Zé Roberto e Júlio Baptista fizeram movimento semelhante após mais de uma década no futebol europeu, sempre com grande sucesso nos clubes onde atuaram e convocações para Seleção Brasileira. O goleiro participou de três Copas do Mundo, sendo campeão em 2002, no Japao e na Coreia do Sul. Já o companheiro no Grêmio disputou a Copa do Mundo de 2006 na Alemanha, enquanto Baptista fez parte do elenco brasileiro no torneio na África do Sul, há três anos.

Hoje, todos são referências em suas equipes e responsáveis diretos pela boa colocação no Campeonato Brasileiro. As boas partidas pelo Grêmio, terceiro colocado, fizeram com que parte dos torcedores brasileiros pedisse a convocação de Zé Roberto para compor o meio campo da Seleção, setor carente de atletas habilidosos.

Já Júlio Baptista pode levantar a taça de campeão, ao lado dos companheiros de Cruzeiro, neste final de semana, dependendo da combinação de resultados da 33° rodada.

Preparação física diferenciada

Além do talento e da categoria, por trás do bom futebol apresentado pelos "velhinhos" está uma preparação física diferenciada. O avançado da idade exige que, algumas vezes, a carga de exercício seja diferente da dos demais atletas, para que possam suportar jogos no final e meio de semana.

Em entrevista à DW Brasil, o fisiologista do Botafogo, Altamiro Bottino, explica que cada atleta precisa de uma carga de treinos específica, principalmente os que retornam ao Brasil após anos atuando no exterior, onde o calendário permite uma conservação melhor da parte física.

"No caso do Seedorf, ele precisou passar por uma readaptação. Isso aconteceu também com Zé Roberto, Júlio Baptista, Juninho Pernambucano e tantos outros que ficaram fora do país por anos", explica o profissional.

Julio Baptista Cruzeiro Minas Gerais
Júlio Baptista pode levantar a taça de campeão brasileiro, dependendo da combinação de resultados da rodadaFoto: imago

"Também é preciso levar em consideração as extensões territoriais. Na Europa, quando é inverno, é frio em praticamente todos os países. Aqui, às vezes, o atleta disputa uma partida no verão do Nordeste, com 80% de umidade, e dias depois está em Santa Catarina, com 11 graus de temperatura e umidade de 50%. Isso tudo precisa ser considerado", acrescenta.

Foi o que fez o Atlético Paranaense com o meia Paulo Baier, prestes a completar 40 anos e pendurar as chuteiras ao término da temporada 2014. O clube optou por uma pré-temporada mais longa, junto com o restante do elenco principal, e o jogador não disputou nenhuma partida do Campeonato Paranaense no primeiro semestre do ano. O objetivo era deixar o atleta na melhor condição possível para os principais torneios ao longo do ano.

Apesar das críticas na época, quando o clube colocou uma equipe sub-19 para disputar o estadual, os resultados da medida estão sendo colhidos. O Atlético ocupa a vice-liderança no Campeonato Brasileiro e é finalista da Copa do Brasil. Desempenho alcançado com interferência direta das boas atuações de Baier, considerado o maestro do time rubro-negro.

Bom Senso Futebol Clube

São grandes as chances de que o número de atletas com mais de 35 anos aumente nos próximos anos no Brasil. Essa sobrevida mais longa na carreira dos jogadores foi o ponto de partida para a criação do movimento Bom Senso Futebol Clube, que começou tímido, mas tem conquistado a adesão de centenas de boleiros.

O grupo pede a modificação do calendário do futebol brasileiro, com um número menor de partidas ao longo do ano, para preservar a integridade física dos atletas de forma que eles possam atuar por mais tempo. Na Europa, a carga de jogos é menor, o que contribuiu para que atletas como Seedorf e Zé Roberto, entre outros, estejam atuando até hoje.

A sobrecarga de jogos, que resulta em excesso de viagens e concentrações, além do pouco tempo para a recuperação e treinos, mobilizou alguns dos mais influentes jogadores do Brasil.

Hoje, o grupo liderado pelo goleiro Rogério Ceni, do São Paulo, pelo zagueiro Paulo André, do Corinthians, e pelo meia Alex, do Coritiba, conta com mais de 800 jogadores, incluindo o cruzeirense Júlio Baptista, o holandês Seedorf, o atleticano Paulo Baier e Zé Roberto, do tricolor gaúcho.