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Le Corbusier

Carlos Albuquerque10 de outubro de 2007

O Museu Vitra Design realiza grande exposição sobre a obra do arquiteto franco-suíço Le Corbusier. A mostra comemora os 120 anos do arquiteto que revolucionou a arquitetura do século 20.

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Le Corbusier e o sistema universal de medidas Modulor: tom mais humano à indústriaFoto: FLC / VG Bild-Kunst, Bonn, 2007

Em cooperação com o Instituto Holandês de Arquitetura e o Instituto Real de Arquitetos Britânicos, o Museu Vitra Design em Weil am Rhein realiza, após 20 anos, a primeira grande exposição sobre a obra do arquiteto franco-suíço Charles-Édouard Jeanneret, mais conhecido como Le Corbusier (1887-1965).

Weil am Rhein, localizada na fronteira entre Alemanha, Suíça e França, é uma excelente escolha para relembrar a obra do arquiteto nascido em La Chaux-de-Fonds, nos Alpes da Suíça francesa, que teria completado 120 anos no último 6 de outubro.

Se foi o alemão Mies van der Rohe quem deu forma à arquitetura racionalista difundida em países do Norte, como os Estados Unidos, Reino Unido e Japão, a obra de Le Corbusier resgatou a herança greco-romana e um certo tempero do Oriente para a arquitetura dos países do Sul. Para ele, a arquitetura nos Alpes suíços, nas montanhas do Rio e nas ruas de Paris deveria ser semelhante àquela das costas do Mediterrâneo.

Homem de letras

Le Corbusier incorporou o que Marx chamou de o "homem renascentista do futuro". Sua obra como pintor, arquiteto, designer e escritor é mostrada na exposição através de telas, esculturas, diversos móveis originais, maquetes de projetos e mais de 50 primeiras edições dos livros que ele publicou em 60 anos de trabalho.

Le Corbusier Villa Savoye
Villa Savoye, 1928-31: os 'cinco pontos da arquitetura'Foto: FLC / VG Bild-Kunst, Bonn, 2007

Não foi à toa que, ao ser perguntado pela profissão, na ocasião de sua naturalização como cidadão francês, por volta de 1930, Le Corbusier respondeu: "Letrado".

Após uma série de viagens pela Europa e Turquia e após estágios nos escritórios de Auguste Perret, em Paris, e Peter Behrens, em Berlim, Charles-Édouard Jeanneret deixou finalmente sua cidade natal para viver em Paris em janeiro de 1917.

Le Corbusier Chaise Longue
Chaise longue de Le Corbusier: clássico do mobiliário modernoFoto: FLC / VG Bild-Kunst, Bonn, 2007

Através de publicações como a revista L'Esprit Nouveau (O Espírito Novo) e o livro Por uma Arquitetura, editados no início dos anos de 1920, Le Corbusier defende o purismo na arquitetura e lança as bases de um modernismo racionalista.

Seus estudos para estruturas independentes de pilares e lajes o levam a formular, no final dos anos de 1920, aquilo que se poderia chamar a lei fundamental do Modernismo: os "cinco pontos da arquitetura".

Tais pontos foram materializados em projetos como a Villa Savoye, nos arredores de Paris, com seus pilotis, sua planta e fachada livres, seu teto-jardim e suas janelas corridas horizontais.

Tropicalismo

Sua viagem à América do Sul em 1929 foi essencial para a correção que se nota em seu racionalismo a partir de 1930. Le Corbusier entregou-se não somente aos braços de Josephine Baker, com quem viajou no mesmo navio, mas deixou-se inebriar pelas montanhas do Rio e pelo curso sinuoso dos rios que viu ao inaugurar a primeira linha de aviação comercial aérea, em viagem de Assunção para São Paulo pilotada por Saint-Éxupery.

Diferentemente do plano urbanístico que fez para Buenos Aires, Montevidéu e São Paulo, o desenho sinuoso dos prédios projetados para o Rio de Janeiro marca o início da segunda fase de Le Corbusier.

Le Corbusier Cité de refuge
Pilares em 'V' na Cidade-Refúgio, Paris, 1929-1933Foto: FLC / VG Bild-Kunst, Bonn, 2007

Chamada de maneirista pelo crítico americano Charles Jencks, esta fase vem a influenciar de forma decisiva a opção modernista dos brasileiros de resgatar o passado colonial e mediterrâneo.

Le Corbusier voltaria poucos anos mais tarde ao Brasil para dirigir o projeto da sede do Ministério da Educação e Cultura, no Rio de Janeiro, em 1936. Entre os arquitetos que trabalhavam com Le Corbusier no primeiro arranha-céu modernista da história estavam Lúcio Costa, Afonso Eduardo Reidy e Oscar Niemeyer.

Curvas barrocas

Se a presença de Le Corbusier foi essencial para o desenvolvimento do mais importante movimento da arquitetura brasileira, a obra do pupilo Niemeyer o vem a influenciar na sua última fase, que Charles Jencks denomina de barroca.

Le Corbusier Ronchamp
Catedral de Ronchamp: terceira fase de Le CorbusierFoto: FLC / VG Bild-Kunst, Bonn, 2007

Tal influência se comprova no concreto das curvas da capela de Capela de Notre-Dame-du-Haut, em Ronchamp, ou nos projetos para a cidade indiana de Chandigarh.

A personalidade de Le Corbusier nem sempre foi, no entanto, das mais fáceis. Sua colaboração com o governo de Vichy durante a ocupação nazista na França e seu comportamento quanto ao projeto das Nações Unidas são exemplos do egoísmo e da ambição do mestre franco-suíço.

A arte da arquitetura

Le Corbusier tentou impedir que Niemeyer apresentasse seu projeto vencedor para a sede da ONU, já que não queria modificações em sua proposta original. Outros incidentes similares são também citados por Charles Jencks na monografia que escreveu sobre Le Corbusier.

Entretanto, nem Niemeyer nem Jencks deixam de reconhecer a genialidade de Le Corbusier, que sempre tentou dar um tom humano à sociedade industrial, aceitando a intelectualidade e o lirismo da arte e a arquitetura como parte dela.

A exposição Le Corbusier – A Arte da Arquitetura, no museu da empresa de design Vitra, projetado pelo arquiteto norte-americano Frank O. Gehry, pode ser visitada até 10 de fevereiro de 2008.

Le Corbusier La main ouverte
LC: 'Mão Aberta'Foto: FLC / VG Bild-Kunst, Bonn, 2007