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Falta de recursos compromete reputação da saúde em Cuba

Jan David Walter (mas) 27 de julho de 2013

Tratado como uma das grandes conquistas do regime castrista, sistema de saúde cubano é em vários aspectos de primeiro mundo. Porém, seis décadas após início da Revolução, vê qualidade ameaçada por série de problemas.

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Foto: picture-alliance/dpa

Quando, na década passada, Diego Maradona tentou se livrar das drogas, foi em Cuba que ele buscou reabilitação. Foi também na ilha caribenha que Hugo Chávez, na batalha contra o câncer, se tratou praticamente até seus últimos dias de vida. A opção dos dois carrega certa carga ideológica, mas, ao mesmo tempo, transmite confiança num sistema de saúde tido por muitos como referência.

Passadas seis décadas do início da Revolução, a qualidade do sistema de saúde de Cuba é vendida pelo regime como uma das principais conquistas entre a série de ambiciosas metas traçadas por Fidel Castro. Segundo o Banco Mundial, a ilha tem hoje 6,7 médicos para cada mil habitantes e fica atrás apenas de Mônaco.

"Em Cuba, os médicos conhecem muito bem seus pacientes porque visitam suas casas, sabem as circunstâncias em que essas pessoas vivem e veem de perto o que pode afetar sua saúde", diz Don Fitz, professor de psicologia da Universidade de Washington e estudioso de Cuba.

Para ele, o sistema de saúde cubano é muito superior ao dos Estados Unidos. O governo designa, para cada comunidade, um ou mais médicos para cuidados básicos. Eles são responsáveis, por décadas, por um pequeno grupo de pessoas. Os médicos são subordinados das policlínicas locais, que são responsáveis por exames, tratamentos e emergências. Os hospitais se encontram nos grandes centros urbanos, onde trabalham médicos e cirurgiões altamente capacitados.

Sistema eficiente

A superioridade do sistema de saúde cubano em relação ao americano, segundo Fitz, está relacionada a uma característica raramente associada a um país comunista: a eficiência. "Cuba gasta, para saúde de cada cidadão, cerca de 4% do que é gasto nos Estados Unidos, alcançando a mesma expectativa de vida", afirma.

Cuba pode competir em muitos índices de saúde com o primeiro mundo. Na ilha caribenha, por exemplo, morrem menos crianças durante o nascimento ou em seu primeiro ano de vida do que nos EUA.

"Cuba atinge esses números porque cada mulher é examinada diversas vezes durante a gravidez", afirma Fitz. Quando isso não acontece, diz o especialista, o Comitê de Defesa da Revolução (CDR) local faz uma visita para lembrá-la que o país precisa de crianças saudáveis.

Mas mesmo a alta qualidade tem um preço, observa Antonio Guedes, presidente do exilado partido anticomunista União Liberal Cubana (UCL). Em Cuba, o custo de um bom sistema de saúde, segundo ele, é a liberdade.

"Cuba sustenta esse sistema de saúde praticamente sem dinheiro porque lá as coisas são pagas de forma diferente", diz Guedes. Os médicos, explica, têm que trabalhar para o Estado depois de formados e podem ser enviados para prestar serviço no exterior.  Durante a Guerra Fria, por exemplo, médicos cubanos tiveram que trabalhar em hospitais soviéticos em Angola, Etiópia e Moçambique.

"E eles chamam isso de educação gratuita", afirma Guedes, sem esconder a indignação.

Até poucos anos atrás, os estudantes de medicina tinham que trabalhar 45 dias por ano no corte de cana de açúcar ou na colheita de tomate. "Eu mesmo tive, por muitos anos, que trabalhar no campo", lembra Guedes, que se formou em medicina básica no país nos anos 1960.

Sem financiamento

Guedes, que dirige um centro de saúde em Madri, trabalha em um estudo sobre a história do sistema de saúde cubano. Ele quer mostrar, entre outras coisas, que antes da Revolução a ilha já tinha um dos melhores sistemas de saúde da América Latina. Segundo ele, até a década de 1980, o nível estava em ascensão. No entanto, com o colapso da União Soviética, o país não tem conseguido financiamento para equipamentos e medicamentos.

Mesmo os defensores do sistema de saúde cubano, como Don Fitz, reconhecem que há problemas. "Faltam muitas coisas como: antibióticos, equipamentos cirúrgicos e equipamentos odontológicos."

Guedes também acredita que essa situação tem influência sobre a formação dos médicos: "No passado as escolas de medicina do país eram muito boas, mas como você treina novos médicos se os equipamentos estão irremediavelmente ultrapassados?", questiona.

Nem mesmo Fidel Castro está inteiramente convencido da capacidade de seus médicos, completa Guedes: "Um médico espanhol foi a Cuba somente para examinar Castro. Um fato que eu não entendo, já que os médicos cubanos são supostamente os melhores do mundo."