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Eurovisão

26 de maio de 2010

Uma plataforma importante que mostra as diversas culturas musicais da Europa ou um fiasco de dar vergonha? De qualquer maneira, o festival de música Eurovisão tem, sem dúvida, status de lenda – e uma longa história.

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Sempre um espetáculo: festival completa 54 anosFoto: picture-alliance / dpa

Ainda que muitos hoje vejam o festival como uma pantomima cômica sem nenhum mérito musical, ele teve uma origem nobre. A Europa dos anos 1950 era um continente devastado pela guerra e Marcel Bezençon, então diretor da União Europeia de Radiodifusão, teve a ideia de ajudar o processo de unificação por meio de uma competição na qual os países participantes poderiam apresentar o melhor de seu talento musical.

A primeira edição do Eurovisão da Canção, realizada em 24 de maio de 1956 em Lugano (Suíça), esteve distante dos megaeventos glamorosos de hoje; foi basicamente uma transmissão de rádio da qual somente sete países participaram, com a Suíça vencendo com a balada "Refrain", de Lys Assia.

Para todos os gostos?

Como as canções do festival devem ter apelo para um grande público com gostos diversos, os participantes do Eurovisão normalmente ficam à margem das tendências reconhecidas da música pop. Explosões culturais como o punk nos anos 1970 e o rap dos anos 1990 são dois exemplos de gêneros populares que nunca ou quase nunca foram apresentados no Eurovisão. Baladas sentimentais ou canções com uma mensagem internacional de paz e tolerância sempre tiveram mais sucesso junto ao público pan-europeu.

Napoleão se rendeu

Die schwedische Popgruppe ABBA
ABBA atingiu fama mundial após vencer o EurovisãoFoto: AP

Um dos momentos mais importantes do Eurovisão foi em 1974. Um desconhecido grupo sueco chamado ABBA entrou no palco vestido com roupas de lantejoulas e acompanhado por um maestro com um chapéu de Napoleão. Eles levantaram a plateia com a batida de jazz acelerada de "Waterloo", uma faixa influenciada pela febre do glam rock. Era uma performance simplista, baseada no pop contemporâneo, fora do ambiente infértil do Eurovisão, que criou um padrão que foi copiado muitas vezes desde então.

O subsequente sucesso do ABBA no mercado internacional abriu espaço para que muitos músicos do continente tivessem sucesso de vendas fora de seus países nativos.

O homem atrás da canção

O nome Ralph Siegel lhe é familiar? Provavelmente não, mas o compositor alemão teve 19 participações no Eurovisão em um período de 30 anos. Sua primeira canção a ser incluída foi "Bye bye I love you", apresentada em 1974 por Irene Sheer, representante de Luxemburgo. Contudo, seu maior sucesso foi em 1982 com "Ein bisschen Frieden" ("Um Pouco de Paz", em alemão), cantada pela alemã Nicole Seibert, de 17 anos.

Flash-Galerie Eurovision Song Contest Gewinner
Nicole Seibert: a única alemã a vencer o concursoFoto: picture-alliance/dpa

Apresentada no auge da paranoia da Guerra Fria, a balada se encaixou perfeitamente no contexto político. Ela venceu o festival – única vitória alemã até hoje – e ainda é uma das canções mais populares da história do Eurovisão. A última contribuição de Siegel para o festival foi em 2009, com "Just get out of my life", que concorreu por Montenegro.

De 1956 para cá, a Alemanha só ficou fora de uma edição do festival. Mas por que o maior mercado musical da Europa venceu apenas uma vez? O jornalista Dave Goodman, da BBC, uma enciclopédia ambulante em se tratando de Eurovisão, acha que o mau desempenho da Alemanha pode ter a ver com a língua.

"Por muitos anos, o festival favoreceu canções em inglês e francês, consideradas mais adequadas para baladas e música pop", explicou.

Goodman acrescentou que, com raras exceções, os participantes alemães cantam em sua língua materna, que não é tão amplamente propagada quanto o inglês e o francês no continente.

"Mas a Alemanha esteve 30 vezes entre os dez primeiros, ou seja, o país não foi totalmente ignorado. E quase venceu quatro vezes, de modo que esteve no topo mais vezes do que parece", disse.

Uma Europa que cresce

russischer Pop-Sänger Philip Kirkorov
Expansão: última edição foi em MoscouFoto: AP

O festival, com um crescente número de países participantes a cada ano, passou até a incluir países de fora dos tradicionais limites da Europa, como Marrocos e Israel. A queda do comunismo na Europa Oriental, em 1989, permitiu a estreia de uma série de países no festival, entre os quais a Romênia e a Hungria, participantes desde 1994.

As mais recentes aquisições para o rol de participantes foram Azerbaijão e San Marino, que entraram em 2008. Em 2010, o festival inclui 34 países.

Mas nem tudo são flores. Acusações de votos táticos, baseados no relacionamento entre os países, e não no mérito das canções, assolam o festival há alguns anos. Por exemplo, é comum que Grécia e Chipre troquem notas máximas, enquanto muitos dos países do antigo bloco oriental dão notas altas para a Rússia.

O apresentador irlandês Terry Wogan, que fez parte da transmissão para o Reino Unido por mais de 35 anos, pediu para sair em 2008 e disse à BBC News: "Não é mais um concurso musical. Eu não quero mediar mais um fiasco".

Ainda importante?

Com o passar dos anos, o Eurovisão deixou de ser um concurso musical considerável e se transformou em motivo de riso internacional, no qual a qualidade da música é o que menos conta em meio a performances de palco ridículas e vocalistas desafinados. Mas onde tudo começou a dar errado?

"O festival perdeu qualquer credibilidade quando Sandie Shaw cantou a vergonhosa 'Puppet on a string'", disse Mark Reeder, produtor musical que trabalha em Berlim.

"Foi ao mesmo tempo simples e estúpido. Incrivelmente, ela chegou ao topo. Os britânicos, que lideraram a música pop de qualidade nos anos 1960, agora preferem lixo, como a terrível 'Boom bang a bang'", prosseguiu.

"A partir dali, as comportas da mediocridade se abriram e começou a derrocada do Eurovisão", comentou Reeder.

Um brilho de esperança

Finale der Castingshow Unser Star für Oslo Flash-Galerie
Lena Meyer-Landrut é a esperança da AlemanhaFoto: picture alliance / dpa

No caminho para Oslo, sede do Eurovision 2010, todos os olhos estão na esperança alemã Lena Meyer-Landrut. Ela venceu o programa de televisão "Our Star for Oslo" (nossa estrela para Oslo) com "Satellite", uma canção no estilo do soul norte-americano dos anos 1960.

A Alemanha tem grande expectativa, especialmente porque o desempenho recente do país tem sido fraco. Em 2009, a dupla Alex Swings e Oscar Sings, com "Miss Kiss Kiss Bang Bang", ficou na 20ª posição entre 25 competidores e, em 2008, "Disappear", do grupo No Angels, conquistou apenas o 23º lugar.

Meyer-Landrut espera revidar as performances constrangedoras normalmente associadas ao Eurovisão. "A velha tradição não estará na minha performance", assegurou ela aos telespectadores.

O premiado comediante alemão Stefan Raab, cérebro por trás de "Our Star for Oslo" e participante do Eurovisão de 2000, acredita no potencial de Meyer-Landrut e exalta sua "qualidade delicada".

Afinal, o Eurovisão ainda traz o melhor do pop europeu ou é um fracasso caro e deprimente? Talvez seu apelo esteja no fato de ser um pouco dos dois: um lixo televisivo, mas com momentos musicais interessantes o suficiente para manter o espectador até o fim. Numa audiência que oscila de 100 milhões a 600 milhões de pessoas, não há como estarem todos equivocados, ou há?

Autor: Neale Lytollis (TM)
Revisão: Simone Lopes