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Fim apesar do sucesso

Michael Brückner (as)21 de dezembro de 2003

A dissolução definitiva do respeitado Ballet Frankfurt está decidida. Enquanto o grupo comemora o reconhecimento mundial, as tentativas de reverter a situação são sistematicamente rejeitadas pela cidade.

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O Ballet Frankfurt encena coreografia de William ForsytheFoto: AP

Há anos que público e crítica são unânimes: os dançarinos do Ballet Frankfurt estão entre os melhores do mundo. Desde 1984, quando foi contratado pela cidade de Frankfurt, o nova-iorquino William Forsythe associou o nome da metrópole financeira alemã a uma dança inovadora e cosmopolita. Centros culturais da Europa e da América cortejam Forsythe e seu grupo com insistência e os dançarinos não conseguem atender a todos os convites de promotores de shows. A lista dos locais por onde a companhia já passou na temporada 2003/2004 fala por si só: Viena, Nova York, Montreal, Londres, Cannes, Lille, Antuérpia, Califórnia, Washington D.C. e Paris. Sem esquecer Frankfurt, onde no mínimo cinco novas produções permanecem em cartaz.

Fim no auge

As críticas da imprensa alemã costumam ser entusiásticas: “William Forsythe é um dos mais inovadores artistas do nosso tempo”, escreveu o Neue Zürcher Zeitung, e “o Ballet Frankfurt é, ao lado do teatro de dança de Wuppertal, o mais conhecido artigo cultural de exportação da Alemanha”.

Surpreendentemente, a cidade de Frankfurt não quer mais saber de William Forsythe e de seu mundialmente conhecido Ballet. O fim definitivo está marcado para junho de 2004. “Ao final dessa temporada o Ballet Frankfurt será dissolvido”, afirmou a porta-voz da companhia, Mechthild Rühl, sem dar explicações. Frankfurt precisa economizar, e os cortes atingirão principalmente a cultura.

Cultura sem dinheiro ou dinheiro sem cultura

“As opções artísticas, ao lado das oportunidades profissionais e das opções para morar, estão entre os principais fatores de valorização de uma cidade.” Com essas palavras o diretor do Instituto de Pesquisas sobre Lazer de Hamburgo, Horst W. Opaschowski, apresentou os resultados de seu novo estudo. O instituto da gigante tabagista British American Tobacco usou dados científicos para assegurar que “especialmente executivos e lideranças, em caso de mudança por motivos profissionais, fazem suas escolhas depender da qualidade das opções artísticas de uma cidade”.

São exatamente as opções culturais que mais sofrem com a dramática crise financeira dos municípios alemães. Mas Frankfurt, o grande centro financeiro da Alemanha, demonstrou também má-vontade no trato com o seu mundialmente conhecido símbolo. Mesmo quando o Estado de Hessen, a cidade de Dresden e o Estado da Saxônia expuseram sua vontade e sua disposição financeira em criar uma fundação para manter o balé de Forsythe, a palavra de Frankfurt ao final das negociações foi não. A justificativa dada por uma porta-voz da cidade foi de caráter legal: haveria o temor de que a contínua disponibilização de recursos para a companhia pela cidade pudesse ser juridicamente interpretada como uma relação trabalhista. Como conseqüência, os empregados poderiam acionar o município na Justiça em busca de seus direitos.

Adeus ao passado

Tudo apenas uma provinciana cegueira cultural, ou o pedido de ajuda de uma cidade em apuros financeiros? Em qualquer um dos casos, a fama cultural da Cidade do Euro, como Frankfurt gosta de ser chamada, foi fortemente atingida, se não arruinada. A comunidade artística mundial olha sem palavras para a cidade. Com Forsythe certamente ninguém precisa se preocupar, mas os dançarinos dizem ter a impressão de que a cidade os tratou com “falta de respeito”. “Não é fácil encontrar algo cujo estímulo possa ser comparável”, disse o dançarino Demond Hart. A dançarina e cantora Noah Gelber acrescentou: “Forsythe sempre estimulou os outros talentos dos dançarinos”. Por isso, com o fim de um projeto de tão grande sucesso, muitos deles preferem construir algo novo a viver do passado.