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Egito, EUA e as armas

3 de fevereiro de 2011

Há três décadas, norte-americanos são os principais fornecedores armamentistas do Egito, com enorme lucro para os conglomerados do país. Agora essa era pode chegar ao fim.

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Protestos locais com consequências amplasFoto: picture alliance / dpa

Quer se trate dos aviões F16 sobre o Cairo, cilindros de gás lacrimogêneo da firma Combined Systems International usados na praça Tahrir, ou de grande parte dos tanques de combate nas ruas da Alexandria: todos foram fabricados nos Estados Unidos. Fora Israel, nenhum outro país se beneficiou tanto das injeções financeiras estadunidenses quanto o Egito.

Segundo dados da Secretaria norte-americana de Estado, a ajuda puramente militar ao Egito, sob o título Foreign Military Financing (FMF), perfaz em média 1,3 bilhão de dólares por ano.

Armas em troca de paz

Ägypten Proteste in Kairo Demonstranten Tränengas
Gás lacrimogêneo contra a multidão no CairoFoto: AP

William Hartung, especialista em assuntos militares da New America Foundation, contabiliza que, desde que o presidente Hosni Mubarak assumiu o poder, os EUA forneceram às Forças Armadas egípcias "artigos armamentistas num valor total de 40 bilhões de dólares".

Apesar dos conflitos violentos no país árabe, continua em aberto se as exportações de armas serão mantidas, admite Robert Gibbs, porta-voz do presidente estadunidense, Barack Obama: "Ainda não está decidido. Vamos acompanhar muito de perto o procedimento do governo egípcio, e em seguida tomar as decisões necessárias".

Até agora, o apoio armamentista funcionou segundo o princípio da troca. Mubarak considerava o abastecimento, pelos EUA, com helicópteros e aviões de combate, tanques, mísseis, armas e gás lacrimogêneo como uma compensação indiscutível pelos esforços de paz do Egito no Oriente Médio, assim como por sua aceitação do acordo de paz com Israel.

Revelações do WikiLeaks

Isso consta de um relatório confidencial da embaixada dos EUA no Cairo, datado de 2009 e divulgado pela plataforma de internet WikiLeaks. Além disso, segundo o documento, as forças militares norte-americanas gozam de tratamento especial por parte dos egípcios.

Os navios de guerra dos EUA têm preferência para atravessar o Canal de Suez; e seus caças podem cruzar o espaço aéreo da nação árabe quando lhes convém. William Hartung comenta:

"Tanto as Forças Armadas quanto os conglomerados armamentistas dos EUA estão muito interessados num bom relacionamento entre seu país e Mubarak, devido a esse tratamento preferencial e aos lucrativos negócios com armas. Somente o gigante armamentista Lockheed Martin fechou negócios somando 3,8 bilhões de dólares nos últimos anos dez anos com o governo Mubarak."

Contribuinte norte-americano paga a conta

Ägypten Unruhen in Kairo Panzer schützen Demonstranten
Muitos dos tanques empregados contra manifestantes são de fabricação norte-americanaFoto: dapd

O segundo maior beneficiário do apoio militar estadunidense ao Egito é a empresa General Dynamics, a qual desde 2001 exportou para aquele país tanques de guerra no valor de 2,5 bilhões de dólares. Em terceiro lugar, vem o fabricante de mísseis Boeing, com relativamente modestos 1,7 bilhão de dólares.

Quer Lockheed Martin, General Dynamics, Boeing, Raytheon ou General Electric e BAE Systems: todos os fabricantes norte-americanos de armas de renome constam da lista do Pentágono como fornecedores para o Egito.

O Cairo encomenda a mercadoria às Forças Armadas dos EUA ou diretamente aos produtores. No fim, quem paga a conta mesmo é o contribuinte norte-americano. Na realidade, ele poderia até mesmo transferir o dinheiro diretamente à Lockheed Martin, Boeing e companhia, sob a justificativa "Egito", comenta o especialista em estudos militares Hartung.

Para os gigantes armamentistas da América, a situação está clara: com o fim da era Mubarak também termina a fase mais lucrativa das relações entre os dois países. Pois os futuros governantes no Cairo serão decididamente mais críticos em relação aos EUA e provavelmente menos interessados em suas armas do que o ainda presidente.

Autor: Ralph Sina (av)
Revisão: Roselaine Wandscheer