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Fotografia analógica sobrevive à digitalização

Geraldo Hoffmann3 de junho de 2005

Tecnologia digital põe tradicionais empresas alemãs da indústria fotográfica em apuros, mas associação do setor ainda vê futuro para a fotografia analógica.

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Sinal vermelho para a Agfa na auto-estrada digitalFoto: dpa

A Comissão Européia acaba de lançar um plano para fomentar a economia digital no bloco. "Com a Iniciativa i2010 devem ser gerados novos empregos no setor de tecnologia da informação e da mídia", informou o órgão executivo da União Européia.

O plano se refere ao setor de TI em geral, mas só a palavra "digital" já deve causar um susto nos cerca de 2400 funcionários da AgfaPhoto, a maioria deles na Alemanha. "Tecnologia digital leva Agfa à insolvência", foi uma das manchetes dos últimos dias. A tradicional fabricante alemã de filmes fotográficos está à beira da falência.

No ramo desde 1889

A Agfa, abreviação de Aktiengesellschaft für Anilin-Fabrikation (Sociedade Acionária para Fabricação de Anilina), foi registrada como marca em 1897, mas já havia desenvolvido um produto fotográfico em 1889. Desde a virada daquele século produz câmeras fotográficas e filmes. Em 1936, lançou mundialmente o primeiro filme colorido. Em 1964, a alemã Agfa fusionou com o grupo belga Gevaert. Desde novembro de 2004, a AgfaPhoto é novamente autônoma, depois de ser vendida por 175,5 milhões de euros a executivos e investidores dos EUA.

Leica Kamera Made in Germany
Leica 'Made in Germany' também está em apurosFoto: AP

Segundo informações da imprensa, nos últimos anos a empresa enfrentou uma forte pressão de preços por parte das concorrentes Estmann Kodak e Fujifilm. Mas ela teria sido atropelada, sobretudo, pelo avanço tecnológico da fotografia analógica para a digital. Pelo mesmo motivo, as fabricantes alemãs de câmeras Rollei e Leica também estão em apuros.

Digital está em moda

A Associação da Indústria Fotográfica Alemã em Frankfurt não se pronuncia sobre casos individuais de supostas "vítimas da digitalização". "Há informações muitos divergentes a esse respeito", diz a porta-voz da entidade, Contanze Clauss, em entrevista à DW-WORLD. "O setor de fotografia oferece tudo para todos. Fato é que o dono de loja de produtos fotográficos que hoje não tiver uma câmera digital em seu sortimento dormiu no ponto", acrescenta.

Os números da associação comprovam que a fotografia digital está na moda. Em 2004, foram vendidas 8,43 milhões de câmeras fotográficas na Alemanha (23% a mais que em 2003). Deste total, quase sete milhões eram digitais, ou seja, 83% do mercado.

A empresa de pesquisas de mercado IDC prevê que o volume de fotos digitais memorizadas, enviadas e recebidas até 2008 deverá crescer em média 35%. "Até 80% do que vendemos são produtos digitais ou que têm a ver com a fotografia digital", diz Harald Remsperger, da GM-Foto, de Frankfurt.

adpatação salva

Apesar disso, continua, "a fotografia analógica não está à beira da morte. Ainda há possibilidades suficientes para a aplicação dessa tecnologia, p. ex. na área profissional. Há também muitos consumidores sofisticados que ainda não se contentam com a fotografia digital e com tudo o que ela envolve, p. ex. os serviços de impressão oferecidos por supermercados, postos de gasolina, empresas de reembolso postal ou lojas virtuais. Com certeza, muitas lojas pequenas tiveram de fechar nos últimos anos, mas quem se adapta ao mercado também sobrevive", diz Remsperger.

Pelo menos 1,4 milhão de câmeras analógicas ainda foram vendidas na Alemanha no ano passado. Em muitos lares alemães há, no mínimo, uma câmera de cada tipo – e se fotografa com ambas. Há até um segmento do mercado analógico, o das chamadas Single Use Câmeras, que cresceu 25% no ano passado, registrando 5,5 milhões de unidades vendidas.

Uma queda forte ocorre, porém, no segmento que representava o miolo do negócio da AgfaPhoto: a venda de filmes ao consumidor final. Em 2004, foram vendidos "somente" 127 milhões de filmes, contra 154 milhões no ano anterior (-18%), conforme dados da Associação da Indústria Fotográfica. "É um recuo em alto nível. Mas também no futuro os filmes continuarão sendo vendidos, e não só para a área médica (raio x) ou p.ex. para museus, que voltam a recorrer cada vez mais à tecnologia analógica, segura contra manipulação. Na esfera privada, não há foto digital que possa substituir a sensação de ter na mão uma foto de papel, como mostram vários estudos", argumenta Contanze Clauss.

Guardar as "velhas" fotos e slides

Dia-Sammlung
Coleção de slides de Walter Otterbein: 30 anos de fotografia analógica em fase de digitalização

Isso é confirmado, na prática, pelo fotógrafo amador Walter Otterbein. O professor aposentado de uma escola profissionalizante de Fulda (centro da Alemanha) usa uma câmera digital há dois anos e está digitalizando antigas fotos e slides, mas não quer largar de vez a velha tecnologia. "Até agora escaneei e gravei em CDs cerca de mil slides selecionados e mais fotos, mas não sei se continuo. É que o futuro dos sistemas da memorização de dados, da vida útil dos CDs e DVDs, ainda está escrito nas estrelas. Meus slides e as fotos de 30 anos de fotografia analógica ainda estão bem conservados. E a câmara analógica também ainda entra em ação", conta.

O problema da memorização e administração dos dados é mais um motivo que leva a Associação da Indústria Fotográfica a acreditar na sobrevivência da tecnologia analógica, paralelamente à fotografia digital. Para quem está mudando da velha para a nova tecnologia, Clauss tem um conselho: "Digitalizar, sim, mas favor guardar os 'velhos' slides e as fotos de papel. Quem não conhece as histórias de de disco rígido quebrado ou de CDs ou DVDs defeituosos!"

Independentemente da injeção financeira que a AgfaPhoto vier a receber (já há sinais neste sentido), os funcionários da empresa, portanto, ainda podem ter esperanças, mesmo que a UE queria acelerar ainda mais o processo de digitalização da economia.