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Mídia

Simone de Mello8 de dezembro de 2006

Nova emissora francesa de tevê quer romper maniqueísmo da mídia anglo-saxônica e garantir diversidade na informação. France 24 chega com atraso, mas promete fomentar cultura de debate e dar voz à posição franco-européia.

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France 24 transmite em inglês e francêsFoto: AP

Com a criação da emissora internacional de tevê France 24, o governo francês finalmente se insere numa política global de mídia, a fim de propagar "uma visão especificamente francesa" da atualidade. A meta explícita é oferecer uma alternativa para o mainstream dominado pela mídia anglo-saxônica, sobretudo por emissoras como a CNN e a BBC.

Diversidade de opinião, cultura de debate, de confrontação e de contradição: com esses princípios, a nova emissora subvencionada pelo governo francês pretende atingir um público-alvo de formadores de opinião em todo o mundo, sobretudo na Europa, no Oriente Médio e na África. É isso que deverá distingui-la das demais outras emissoras internacionais.

A programação em francês e inglês, lançada oficialmente na quarta-feira (6/12), será ampliada para a língua árabe no primeiro semestre de 2007. Com um quadro de 170 redatores de 28 nacionalidades, a France 24 transmite para 90 países.

"CNN à la française"

A idéia partiu do atual presidente francês, Jacques Chirac, já nos anos 80. A urgência de criar um canal que relativizasse a parcialidade da cobertura jornalística anglo-saxônica se acirrou no início da década de 90, com a Guerra do Golfo e o monopólio de imagens da CNN.

A falta de um canal global para veicular a posição francesa e européia se fez sentir com maior nitidez desde a intervenção norte-americana no Iraque. E para o desagrado do governo francês, a imagem de Paris divulgada pela CNN e pela BBC durante os conflitos nos subúrbios, em outubro de 2005, era a de uma cidade em chamas, fora de controle.

A crescente perda de credibilidade da CNN, após sua adesão explícita à política externa do presidente norte-americano George W. Bush, durante a intervenção militar norte-americana no Iraque, não deixou de abrir uma lacuna, que o canal inglês da emissora árabe Al Jazira, lançado este mês, tem a pretensão de preencher, de certa forma. O discurso de multilateralismo da emissora francesa recém-fundada se insere neste contexto de polarização e de disputa pelo maior alcance da informação.

Projeto low budget e tardio

Em vez de tentar reestruturar as emissoras francófonas internacionais – como a TV5 e a Radio France Internationale (RFI) – o governo francês criou a France 24 como parceria entre o grupo privado TFI e o holding público France Télévisions.

Com um financiamento de 86 milhões de euros para 2007, a France 24 é um projeto low budget, em comparação com a CNN, com um orçamento dez vezes maior. A emissora internacional francesa também é duas ou três vezes menor que suas concorrentes européias, a BBC World e a Deutsche Welle TV, criadas no início da década de 90.

Apesar da escassez de recursos, a France 24 se vê numa posição mediadora privilegiada, dado o alcance do idioma francês no mundo árabe. Conforme acredita Agnès Levallois, diretora do canal árabe (a transmitir inicialmente uma programação diária de quatro horas), ter um passaporte francês seria uma vantagem no mundo árabe. O trunfo francês, por assim dizer, seria o acesso a informações de que a mídia ocidental mainstream não dispõe.

Exceção cultural francesa

"Não somos a voz de ninguém": é o que consta da carta de fundação da France 24. Isso significa que a emissora não pretende veicular uma perspectiva governamental. Os redatores ressaltaram que se consideram independentes na realização de seu trabalho jornalístico.

A nova emissora não deverá ser a voz da França, mas sim propagar a perspectiva francesa. "O olhar francês", explica o diretor geral Gérard Saint-Paul, "é um pouco menos maniqueísta que o olhar norte-americano da CNN, inclui um pouco mais de diálogo. Trata-se de se ampliar o foco, de fazer passar certos valores franceses, como respeito e tolerância".

Isso não é apenas uma defesa da exception culturelle française na mídia. Gérard Saint-Paul se refere a um olhar franco-europeu. Por mais que seja difícil de falar de uma Europa coesa, no momento, a frente política continental, divergente da norte-americana e britânica, reivindica para si a qualidade de "européia".

A criação da France 24 revela a pretensão de um alcance internacional mais abrangente do que proporcionavam até agora as emissoras focadas no intercâmbio interno do mundo francófono. A imprensa alemã não deixou de ressaltar, no entanto, o obstáculo que a France 24 terá que enfrentar, assim como outras emissoras internacionais que quiserem se projetar hoje: a acirrada disputa pela aquisição de freqüências, diante da rápida expansão de emissoras estatais como a Russia Today e o canal chinês de notícias CCTV-9.