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Fraudes científicas são frequentes, mas difíceis de identificar

Brigitte Osterath (cn)16 de junho de 2014

Caso de japonesa que divulgou falso método para obter células-tronco chama atenção para pesquisas fraudulentas. Muitas vezes, elas são motivadas pela pressão por resultados.

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Inicialmente, Obokata se recusou a admitir a fraudeFoto: Reuters/Kyodo

A bióloga Haruko Obokata, do Centro de Pesquisas de Riken, em Cobe, no Japão, foi acusada de fraude após declarar ter descoberto um método simples e fácil para reprogramar células maduras em células-tronco, usando apenas ácido cítrico. Meses depois, no início de junho, Obokata finalmente concordou em anular os resultados publicados.

Logo após a divulgação de dois trabalhos de Obokata sobre o assunto na revista especializada Nature, em janeiro deste ano, cientistas disseram não conseguir reproduzir os resultados. Obokata foi acusada de ter plagiado trechos de textos e usado imagens erradas.

"Não dava para imaginar que isso iria acontecer tão logo lêssemos sobre a descoberta?", questionou um leitor do portal de notícias alemão Spiegel Online. De fato, os resultados eram bons demais para ser verdade. Especialmente quando células-tronco estão em jogo, milagres repentinos tendem a ser desmascarados quando rigorosamente testados por outros cientistas.

A história do veterinário sul-coreano Hwang Woo-Suk é bem parecida. Em 2006, ele afirmou ter obtido células-tronco embrionárias humanas usando clonagem, mas acabou sendo desmentido pela Universidade Nacional de Seul, que revelou que os resultados haviam sido falsificados.

Outro exemplo vem da física. O pesquisador alemão Jan Hendrik Schön ficou famoso por seus experimentos inovadores sobre semicondutores. Até que, em 2002, foi descoberto que os resultados eram uma fraude.

Klon-Spezialist Hwang Woo Su klonen Hund Snuppy
O veterinário Hwang Woo-Suk disse ter obtido células-tronco a partir da clonagem e foi desmascaradoFoto: picture-alliance/dpa

Denúncia de fraude

Na Alemanha, a Fundação Alemã de Pesquisa (DFG, na sigla em alemão) possui um comitê central para atender a denúncias de fraude ou má-conduta. "Fraudar resultados não é uma prática disseminada", afirma Marco Finetti, porta-voz da DFG.

Em 15 anos, o comitê lidou com 500 denúncias, a maioria delas envolvendo citações equivocadas ou plágio. "A pura e simples manipulação de dados é uma exceção", reforça Finetti. Mas ela acontece.

Haymo Ross, editor das revistas especializadas Angewandte Chemie e European Journal of Organic Chemestry, afirma frequentemente localizar falhas na seção experimental dos artigos submetidos para publicação.

"Recentemente, recebi dois espectros manipulados. Isso acontece com relativa frequência. Os autores apagam sinais indesejados", diz Ross. Mas considerando que ele recebe cerca de 10 mil manuscritos por ano, a manipulação é mesmo uma exceção.

Se, quando contestado, um autor não conseguir explicar por que seus resultados parecem estranhos ou manipulados, as revistas podem recusar os artigos. E se a fraude for muito séria, as revistas podemo banir publicações do autor por um tempo determinado, diz Ross.

Ao menos dois editores checam os artigos antes da publicação. Há também softwares que ajudam a identificar anomalias e peculiaridades em fotografias e gráficos. "Mas aqueles que realmente querem enganar, sempre encontram uma maneira", completa o editor.

Muitas vezes a fraude só aparece quando outros pesquisadores tentam reproduzir os resultados, reforça Finetti.

Pressão por resultados

Diversos motivos levam pesquisadores a fraudar resultados de pesquisas. Eva Wille, diretora executiva de química global da editora Wiley-VCH, afirma que uma das razões é a crescente pressão da comunidade científica. "Financiadores e políticos podem pressionar bastante, porque querem ver um rápido retorno para seu investimento financeiro", afirma Wille.

Ela destaca que a pressão pode ser especialmente grande na Ásia. "Para finalizar um doutorado, os cientistas precisam ter pelo menos três publicações aceitas em revistas renomadas", diz. E os artigos precisam apresentar bons resultados.

Na Alemanha, a situação é melhor. Mas ela está longe de ser perfeita. Um bioquímico alemão de 35 anos, que pediu para não ser identificado, afirmou à DW que sofreu muita pressão durante seu doutorado. "Cientistas são avaliados apenas com base no número de publicações e nas revistas em que publicam. Isso significava uma pressão enorme sobre meu chefe e meu grupo de pesquisa."

Enquanto uma longa lista de publicações em revistas científicas renomadas pode garantir fundos para a pesquisa, a ausência dessa lista pode dificultar a carreira de um cientista.

Outro problema apontado pelo bioquímico e por Wille é que os professores tem pouco tempo para orientar corretamente os alunos, tanto na parte ética quanto na verificação dos resultados dos experimentos.