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Fugitivos ou expatriados?

Rodrigo Rodembusch3 de dezembro de 2005

A exposição "Fuga, Desterro, Integração", na Haus der Geschichte (Casa da História), em Bonn, mostra o destino de milhões de pessoas na Europa depois da Segunda Guerra Mundial.

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A mostra conta com mais de mil itens, entre fotos, vídeos, documentos e objetos pessoais

Há 60 anos, cerca de 20 milhões de pessoas se achavam sem pátria. Eram vítimas de uma guerra que terminava sem verdadeiros vencedores. Segundo cálculos de historiadores, 12 milhões eram alemães. Seus medos, esperanças e dificuldades podem ser conhecidos de perto, agora, através da exposição que promete confrontar os visitantes com um capítulo importante da História.

Segundo o presidente da Fundação Casa da História da República Federal Alemã, o que está exposto é resultado de dois anos de trabalho intenso. "A idéia de montarmos esta exposição surgiu já nos anos 90", explica.

Ausstellung Flucht Vertreibung Integration in Bonn
Baú utilizado por alemães que deixaram a (ex-)TchecoslováquiaFoto: hdg

Hermann Schäfer acrescenta, ainda, que o tema foi discutido intensamente para que o produto final ficasse interessante para as pessoas. "Qual o conhecimento e a expectativa que queremos proporcionar?", questiona.

Inverno de 45

Milhões de alemães fogem do Exército Vermelho rumo ao oeste: a pé, de carroça ou de navio. Seguem por ruas cobertas de neve ou pelo gélido Mar Báltico. Na bagagem, pertences como documentos, brinquedos, livros e roupas. Deixam para trás história e lembranças.

Na Conferência de Potsdam, em agosto de 1945, os representantes dos países aliados decidem pelo realojamento de populações alemãs da Polônia, (ex-)Tchecoslováquia e Hungria. Este processo deveria ocorrer de forma ordenada e humana. Na verdade, o que imperou foi a violência. Alemães foram expulsos também da Romênia e da (ex-) Iugoslávia.

Com mais de mil peças, o museu alemão conta esta história com detalhes. Conforme o chefe do projeto, Hans-Joachim Westholt, "a exposição mostra a dura realidade enfrentada por essas pessoas". Narrativa que pode ser acompanhada por entrevistas originais de testemunhas oculares desse processo. São adultos e idosos que descrevem o sentimento de deixar sua pátria.

Ausstellung Flucht Vertreibung Integration in Bonn
Cartazes de partidos políticos da época também compõem a exposiçãoFoto: hdg

O sociólogo e historiador ressalta que os vídeos não se baseiam somente no passado. "Queremos mostrar o que aconteceu com essas pessoas após 1945", explica.

"São elementos biográficos que nos ajudam a conhecer a história de vida de cada um", comenta sobre os 150 relatos que poderão ser vistos e ouvidos no espaço de 650m2 destinados à exposição. "Isso nos auxilia a responder o que houve com estas pessoas", lembra.

Leia a seguir: as dificuldades enfrentadas pelos desterrados

Fuga e expulsão

Ausstellung Flucht Vertreibung Integration in Bonn
Maquete de navio afundado por um submarino soviético em 1945, durante evacuação de cerca de dez mil refugiados alemãesFoto: hdg

A exposição itinerante (segue depois para Berlim e Leipzig) evidencia que o processo migratório de cidadãos alemães no fim da Segunda Guerra Mundial foi o maior deslocamento forçado de pessoas do século 20.

Ao chegarem em sua "nova pátria", enfrentaram diferentes situações. Da doença à falta de mantimentos que garantissem a sobrevivência. Um exemplo da dificuldade do recomeço é a apresentação de uma barraca de madeira – conservada até hoje, que foi trazida da cidade Furth im Wald. O local era utilizado pelos "fugitivos" como primeira moradia.

Três temas centrais

Museumsdirektor Hermann Schäfer Haus der Geschichte Bonn
Diretor do museu, Hermann Schäfer, destaca os três temas centrais da exposição itineranteFoto: AP

O presidente da Fundação Casa da História da República Federal Alemã enfatiza que a exposição tem três temas centrais: a fuga, a expatriação e a integração. "É fundamental que este terceiro item fique claro na compreensão do visitante, porque não queremos mostrar apenas um lado da moeda", explica.

Hermann Schäfer destaca que apresentar o tema integração é realmente dar início, meio e fim à história. "É importante que as pessoas que visitam a exposição tenham a idéia de que houve muito esforço na tentativa de se levar uma vida normal", acrescenta.

Exemplo disso são fotos em que homens aparecem de gravata, apesar da difícil condição de sobrevivência. "Conseguimos também um vestido de Primeira Comunhão feito de gaze, usado por uma menina (na ápoca). Isso mostra o tremendo esforço em preservar os hábitos e costumes", avalia Westholt.

Fenômeno atual

Flucht
Processo migratório forçado é realidade também na África e ÁsiaFoto: AP

A realidade da fuga e expulsão no mundo pós-moderno é mostrada na última parte da exposição. "As correntes migratórias aumentaram nas últimas décadas. Guerra, religião e pobreza estão entre os principais fatores que desencadeiam o processo", esclarece o historiador Johannis Hürter.

"Nesta parte da exposição decidimos apresentar imagens que falam por si só. Não há necessidade de provas documentais que confirmem as dificuldades enfrentadas por povos africanos e asiáticos, por exemplo", conclui Hürter.

A exposição fica em Bonn até o dia 17 de abril de 2006.

A entrada na Casa da História é gratuita.