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Günter Grass contra o "núcleo europeu"

av4 de julho de 2003

Reforçar a "Europa nuclear", em torno da Alemanha e da França, é a única maneira de opor-se à cavalgada hegemônica dos EUA. Esta é a tese de diversos intelectuais europeus, contra a qual se rebela o autor de "O Tambor".

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Grass opõe-se a Habermas, Derrida e companhiaFoto: AP

Günter Grass rejeita a idéia de um "núcleo europeu", proposta por Jürgen Habermas e Jacques Derrida. Numa entrevista à rádio Deutschlandfunk, o escritor alemão admitiu que, devido ao "movimento forçosamente lento da Europa", são necessários empurrões ocasionais. Ele não é contra que esses impulsos partam do bloco formado pela França e Alemanha: "Porém considero errado institucionalizar isto, ver um 'núcleo europeu' como força motora".

As declarações de Grass compõem o mais recente capítulo da polêmica iniciada no final de maio com o artigo "Após a guerra: o renascimento da Europa", publicado no jornal Frankfurter Allgemeine Zeitung. Em resposta à "Carta dos oito" de 31 de janeiro – de apoio à política exterior norte-americana e redigida sob a direção da Espanha e do Reino Unido –, Habermas e Derrida exortavam a Europa a "jogar seu peso na balança, em nível internacional e dentro da ONU, a fim de contrabalançar o unilateralismo hegemônico dos EUA".

O manifesto recebeu apoio de outros importantes intelectuais europeus, como Umberto Eco, Fernando Savater e Adolf Muschg, assim como do norte-americano Richard Rorty.

Polifonia incômoda, porém essencial

Na opinião de Grass, é bom que – através da ampliação da União Européia para o Leste – novas vozes sejam ouvidas, ainda que elas possam ser incômodas. Sobretudo, ele tem reservas quanto ao "posicionamento acrítico" da Polônia diante da política dos Estados Unidos para com o Iraque.

Esta atitude se originaria na "superstição" de que os norte-americanos liberaram a Europa Oriental. O autor de Um Campo Vasto compreende tal lealdade, embora acreditando que ela levará a um "amargo despertar". Mas, apesar de tudo, é preciso que, nos debates futuros, se ouça com mais atenção o Leste e o Centro europeus. E lembrou: "O centro da Europa não é Paris, mas sim Praga".

Grass – que além de ser natural de Gdansk, na fronteira entre Alemanha e Polônia, tematizou repetidamente a oposição Leste-Oeste em sua obra – quer o fortalecimento da cultura como parte do processo de unificação. A cultura seria "o setor mais sustentável no desenvolvimento de uma consciência européia". Para tal é necessário que haja uma instância plenamente dedicada a ela, dentro da Comissão Européia, assim como uma fundamentação sólida na futura Constituição da UE.

O autor conclui: "Tudo deve levar à constatação de que não há uma cultura unificada na Europa. Pelo contrário: a riqueza da cultura européia reside em sua variedade – inclusive nas contradições".