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General Sisi vence eleição presidencial no Egito com 96,9% dos votos

Elisabeth Lehmann (md)4 de junho de 2014

Apoiadores festejam na Praça Tahrir após anúncio da vitória do nome do ex-comandante das Forças Armadas. Ele precisa agora atender à grande expectativa dos egípcios.

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Foto: picture-alliance/dpa

"Abdel Fattah Sayyid Khalil Hussein al-Sisi, conhecido como Abdel Fattah al-Sisi, recebeu 23 milhões de votos." Finalmente, uma voz distorcida anuncia pelo alto-falante aquilo que as pessoas reunidas na Praça Tahrir aguardavam há horas, e o que há muito tempo era previsível: o general Abdel Fattah al-Sisi é o novo presidente do Egito.

As pessoas reunidas no local dançam, as mulheres gritam, crianças esticam as mãos para o ar, formando com seus dedos a letra C, o sinal para "Sisi." Festa e um certo alívio tomam conta da praça, que vira um mar de bandeiras nas cores vermelho, branco e preto.

Já é costume que o novo presidente seja anunciado na praça principal do Cairo e que haja no lugar uma comemoração para saudá-lo. Assim ocorreu também com o primeiro presidente eleito da era pós-ditadura, Mohammed Morsi, depois deposto pelos militares liderados por Sisi. Mas hoje é diferente, garantem os presentes, afirmando que o clima é mais relaxado e que há muito mais jovens celebrando do que há dois anos.

Personalidade forte

A multidão inclui representantes de todas as classes sociais egípcias, ou melhor, dos 23 milhões que elegeram Sisi como o salvador da nação, o equivalente a 96,9% dos votos. O comparecimento às urnas foi baixo, de 47% dos eleitores, um número bem inferior aos 80% que Sisi havia almejado – e isso apesar de três dias de votação.

Jubel über Wahlsieg al-Sisis
Mohammad se diz arrependido de ter votado em MorsiFoto: DW/Elisabeth Lehmann

"Agora tudo vai melhorar", diz Mohammad. Ele viajou de Mansura para celebrar o novo presidente. Ele conta que em 2012 votou em Morsi, mas que isso foi um grande erro. "O Egito precisa de uma personalidade forte, não de um como Morsi", avalia Mohammad. "Morsi era como um Playstation, controlado e guiado por outros", afirma, enquanto mexe com as mãos num joystick invisível. "Mas Sisi é um militar, ele governa o país com sua mente."

Mohammad também esteve em 2011 na Praça Tahrir, quando o então presidente Hosni Mubarak foi deposto, pondo fim a quase 30 anos de governo autocrático. Mubarak também era um militar, um homem que aprisionou seus críticos. Mas Mohammad vê as coisas de forma diferente. "Agora, todos podem finalmente dizer o que pensam, sem medo", sublinha, apontando para a multidão diante dele, como que para tentar provar o que diz.

A Praça Tahrir está cheia apenas pela metade nesta noite. Talvez porque esteja muito quente. Por isso, muitos não foram votar, de acordo com a justificativa da equipe de campanha de Sisi. O lugar parece uma fortaleza. Militares e policiais estão cientes do risco de ataques. Tanques e arame farpado cercam todas as estradas de acesso. Quem quer entrar tem que passar por detectores de metal. Bolsas são revistadas. O medo é grande de que aqueles que têm raiva das comemorações queiram se vingar.

Irmandade Muçulmana é o inimigo comum

Safaa também tem medo. Ela começa quase todas as suas frases dizendo que "a Irmandade Muçulmana é um grupo de terroristas". Safaa carrega um cartaz com uma foto de seu filho Amr e a história dele. Ela conta que há 313 dias ele foi morto baleado pela Irmandade Muçulmana aqui na Praça Tahrir. "Eles vieram à praça para se vingar de todos aqueles que não compartilhavam da opinião deles", acusa.

Jubel über Wahlsieg al-Sisis
Safaa (de preto) ainda chora a morte do filho, que teria sido vítima da Irmandade MuçulmanaFoto: DW/Elisabeth Lehmann

Safaa votou, claro, em Sisi, porque acredita que ele finalmente dará um fim à violência. "E eu te digo, Sisi, não se reconcilie com a Irmandade Muçulmana, sobre os corpos de nossos filhos e o sangue deles, que são mártires que pagaram ao Egito com seu próprio sangue."

As pessoas em volta balançam a cabeça em sinal de aprovação. Há um amplo consenso nesta noite. Combate contra a Irmandade Muçulmana, segurança para o país e recuperação econômica. Como será que Sisi conseguirá cumprir tudo o que prometeu? A resposta ainda é um enigma. Mas o povo na Praça Tahrir não precisa dela. Não nesta noite.

De volta ao começo

Islam parece um pouco perdido no meio da multidão. Ele se destaca dos outros por não empunhar bandeira alguma, não estar pintado nem usando uma camisa com foto de Sisi. Ele diz que mora ali na esquina e tinha acabado de fazer compras. Ele fica parado no lugar, balançando a cabeça.

Jubel über Wahlsieg al-Sisis
Menina traz na testa o C, símbolo de SisiFoto: DW/Elisabeth Lehmann

"Não entendo meus compatriotas", desabafa. Islam conta que também esteve aqui em 2011, celebrando a revolução. Ele diz que depois foram cometidos muitos erros. "Os anos posteriores à revolução, sob o regime Morsi, foram, para muitos, piores do que o tempo sob Mubarak. Depois de as pessoas terem visto o pior, então o ruim passa a parecer a elas a melhor escolha", filosofa, acrescentando que também não considerava o único rival de Sisi, Hamdeen Sabbahi, como uma alternativa.

E assim, 96,91% dos eleitores egípcios optaram pelo novo homem forte. Um militar que preza a dureza, não a liberdade; venerado como foi Mubarak no início de sua presidência. Parece que a história se repete.