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"Geração do milênio foca em problemas globais"

Matthias von Hein (mp)22 de junho de 2015

Nomeada para o Nobel da Paz, Scilla Elworthy se diz otimista com jovens de hoje. Quase metade deles vislumbra futuro em que se dê atenção a questões como mudanças climáticas e distância entre ricos e pobres, afirma.

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Foto: Andy Russell

A escocesa Scilla Elworthy, participante da atual edição do Global Media Forum, foi nomeada três vezes para o Prêmio Nobel da Paz. Ela é membro do Conselho para o Futuro do Mundo (WFC, na sigla em inglês) e fundadora do think tank Oxford Reasearch Group e da organização Peace Direct.

Seu último livro, Pioneering the Possible – Awakened Leadership for a World that Works, publicado em outubro de 2014, convoca os leitores a se tornarem "agentes da mudança".

Em entrevista à DW, a autora fala sobre o papel da chamada geração do milênio, também chamada de Geração Y, no enfrentamento dos desafios econômicos e sociais atuais.

DW: O mundo enfrenta diversas crises atualmente: mudanças climáticas, diminuição de recursos diante do aumento da demanda, movimentos migratórios, guerras, conflitos e distância cada vez maior entre ricos e pobres. A lacuna entre a compreensão dos problemas e a disposição para resolvê-los é tão grande que poderia levar à depressão e ao desespero. Mas isso não vale para você. Como e onde você encontra razões para otimismo?

Scilla Elworthy: Uma das coisas que me deixam otimista são os jovens empreendedores sociais, os quais encontro regularmente e ajudo em sua formação. Eu combinaria a atitude deles com uma grande proporção da chamada geração do milênio. Pesquisas mostram que a geração dos nascidos entre 1980 e 2000 tem valores diferentes das gerações anteriores. Muitos dos mais brilhantes [integrantes dessa geração] não têm interesse em trabalhar em empresas que não se atêm a padrões sociais contemporâneos e voltados para o futuro. Por volta de 45% dessa geração vislumbram um futuro em que se dá grande atenção para problemas globais: mudanças climáticas, diferença de renda entre os mais ricos e os mais pobres e todas as outras questões que você mencionou.

Os integrantes da geração do milênio são extremamente importantes, porque até 2020 eles vão representar 50% da força de trabalho global e vão também constituir o maior grupo de consumidores. Atualmente eles não estão representados em um nível de tomada de decisões corporativas ou em organizações intergovernamentais. Mas isso está mudando. Essas pessoas serão incluídas [nas instituições] e atuarão, então, como "guardiões das gerações futuras", como define o WFC. E isso me dá esperança

Quando perguntamos "como você imagina o futuro?", muitas pessoas dão de ombros e dizem: "provavelmente continuará sendo como foi até agora". Mas há muita gente – sobretudo mulheres – que anseiam por mudança. Muitas delas não sabem exatamente o que podem fazer para contribuir. Mas uma organização que fundamos há cerca de um ano – Rising Women, Rising World – vêm recebendo uma enxurrada de solicitações. Trata-se de mulheres que desejam participar dos nossos cursos e aprender como podem contribuir.

São muitas pessoas talentosas, que têm bastante experiência. Mulheres acima dos 50 anos, que construíram uma carreira ou criaram filhos altamente conscientes do que está acontecendo no mundo e capazes de fazer diferença. É difícil estimar o quão grande é esse grupo, mas pela reposta que estamos tendo na Rising Women, Rising World, deve ser numeroso. Nossa organização está se preparando para capacitar essas pessoas para que descubram o querem fazer e como fazer isso efetivamente.

Seu trabalho se concentra, portanto, na capacitação de pessoas que não querem mais delegar a solução de problemas a políticos, burocratas ou empresas. Qual é a sua principal mensagem para essas pessoas?

Desenvolvam sua força interior! Ou seja, a habilidade de se comunicar e de minorar conflitos e a autoconfiança. Essa força possibilitará ser, de forma efetiva, o que chamamos de "agente de mudança". Consideramos o desenvolvimento dessas habilidades interiores vital para um trabalho efetivo no mundo.

Você gosta de citar a frase de Albert Einstein: "Nenhum problema pode ser resolvido pelo mesmo estado de consciência que o criou". É necessária uma mudança de consciência para salvar o planeta? E como ela poderia levar a resultados visíveis?

Não se pode forçar uma mudança de consciência. Mas é algo que já está acontecendo! Até o momento ninguém desenvolveu um método para medir isso, mas recentemente me envolvi com organizações que valorizam a conscientização, o autoconhecimento e a ação, e fiquei surpresa com o número de membros que essas organizações têm juntas. Acredito que seja um fenômeno que ainda não é realmente reconhecido, mas que já é extremamente tangível.

Uma mudança de consciência provavelmente não será suficiente, se não envolver a formação de um novo sistema de valores. Quais deveriam ser os alicerces para tal novo sistema de valores?

Os valores que vêm dominando nosso pensamento e as nossas tomadas de decisão em níveis nacional e global nos últimos dois ou três séculos precisam ser substituídos por valores que são importantes para a geração do milênio. Um exemplo: Um dos típicos valores antigos é a sobrevivência do mais forte, o que implica a convicção de que a competição e a seleção imperam. Mas o que está sendo descoberto agora é que a cooperação funciona melhor e é mais rápida e mais barata.

O mundo precisa de um novo sistema econômico, que não seja baseado no crescimento?

O que você está sugerindo é que existe um novo sistema econômico global que poderia ser implementado. Não acredito que seja assim. Mas vejo uma grande variedade de iniciativas que vêm de baixo, quase como brotos verdes através do concreto. Por exemplo, há novas moedas regionais – particularmente a Alemanha é pioneira. As pessoas estão criando suas próprias moedas para encorajar outras a comprar produtos locais, produzir e vender localmente. Outras iniciativas desenvolvem novos sistemas de poupança para os que não querem colocar seu dinheiro nos grandes bancos. Existem muitos projetos sendo desenvolvidos, mas ainda não são muito visíveis, a não ser que se esteja em contato com eles.