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Geração dos 30 anos quer liberdade, e não compromisso

Lori Herber (mas)4 de maio de 2014

No livro "Generation Maybe", Oliver Jeges traça um retrato da geração do milênio, paralisada por opções e sempre atrás de novidades. A DW conversou com o autor sobre o livro e sua geração.

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Foto: Jan Vollmer

O escritor austríaco Oliver Jeges, de 31 anos, encontrou inspiração para o título de seu livro em uma campanha publicitária de uma marca de cigarros, na qual jovens praticavam atividades ousadas. O anúncio foi posteriormente banido na Alemanha por ser direcionado a adolescentes, mas Jeges contesta a atitude audaciosa dos jovens retratados na campanha.

"Isso é exatamente o que não somos", diz o autor sobre a sua geração. Em seu livro Generation Maybe ("Geração Talvez", em tradução livre), ele examina a natureza indecisa dos jovens entre 20 e 35 anos, amantes da liberdade.

DW: Fale um pouco de sua inspiração para escrever o livro. Como surgiu a ideia?

Oliver Jeges: Foi muito simples. Quando olho para as pessoas da minha geração, a geração do milênio, eu vejo a "geração talvez", como eu resolvi chamá-la por causa de nossa indecisão. Não sabemos qual profissão escolher. O "talvez" vem da nossa falta de conhecimento sobre o que é certo ou errado. Não há nada que apoiamos. Não há um ideal político ou partidário. Não há valores específicos ou ideologias. Não nos dedicamos às nossas carreiras como os baby boomers (geração nascida após a Segunda Guerra). Sempre enxergamos melhores opções: melhor trabalho, melhor parceiro, melhor dieta, melhor fé. Temos tantas oportunidades e opções que não sabemos que caminho escolher.

Você escreveu que "nossa única característica identificadora é que não temos uma característica identificadora". Por que as pessoas da sua geração, a geração do milênio, são diferentes de seus pais e avós?

Nós aprendemos que podemos alcançar qualquer coisa – isso foi o que nossos pais e professores nos ensinaram. Se trabalhássemos duro o suficiente e acreditássemos no que fazemos, poderíamos chegar à Lua. Mas quando nos tornamos adultos, percebemos que isso talvez fosse uma ilusão, que essas eram as regras da geração dos nossos pais ou irmãos mais velhos, que cresceram nos anos 1960 e 1970.

Buch Generation Maybe von Oliver Jeges
Para o escritor, em sua geração, independência é mais importante do que um emprego estávelFoto: DW/L.Herber

Por mais piegas que pareça, os tempos mudaram e nossos pais não são mais figuras de autoridade. Eles são amigos, pessoas que nos ajudam. Em contraste com os baby boomers, nós somos uma geração que não está atrás de bons trabalhos em grandes corporações com o intuito de nos tornarmos o chefe. Queremos liberdade, flexibilidade e independência.

Quando jovens, com 15 ou 20 anos, os baby boomers possivelmente montariam uma banda na garagem e tocariam barulhentas guitarras. Hoje, temos pessoas como Mark Zuckerberg, que com 20 e poucos anos fundou o Facebook. Jovens inventaram o Spotify e todos esses aplicativos e start-ups, e essa é a grande diferença entre a geração dos nossos pais e a nossa.

Como as mídias sociais influenciaram a sua geração?

As mídias sociais nos deixaram mais próximos. Recentemente, encontrei um vídeo no YouTube, um painel de discussão, sobre como os baby boomers viveram sua adolescência e juventude. Havia grupos bem definidos. Eles eram muito restritos com relação a seus amigos, ou à qual parte da cultura jovem pertenciam. Hoje, você vai ao Facebook e simplesmente pergunta: "Você quer ser meu amigo?" E a pessoa simplesmente responde sim ou não – e, na maioria das vezes, ela diz sim. É muito fácil fazer novos amigos e nos comunicarmos uns com os outros.

Você disse que o livro representa essa geração no mundo ocidental. Que papel a religião em sua geração?

O que eu vejo em pessoas da minha idade é que elas negligenciam velhas formas de monoteísmo, como Jesus e Maomé, e dizem: "É tudo inventado". Mas aí elas se voltam para a filosofia da New Age e a levam muito a sério. Você pode criar sua própria religião e dizer que acredita nas boas coisas que Jesus fez ou nos ensinamentos do Islã, mas sem escolher nenhuma das duas. Você pega só as partes que te interessam.

Buch Generation Maybe von Oliver Jeges
Hipsters, geração milênio, caçadores de diversão: os jovens de hoje têm ideais bem diferentes das de seus avósFoto: picture-alliance/dpa

Como o bombardeio por tantas escolhas afeta a disposição daqueles em sua geração para se comprometerem com relacionamentos, família ou um trabalho?

Para escrever o livro, encontrei um jovem que realmente tinha boas chances de se tornar médico. Ele fez nove estágios enquanto cursava a universidades. Se quisesse, poderia ganhar muito dinheiro. Mas ele não quis, porque não era o que iria fazê-lo feliz. Ele terminou a universidade com ótimas notas, e está trabalhando em uma ONG, ganhando um pouco mais que o salário mínimo.

Esse é um exemplo paradigmático, pois mostra que para muitos de nós o dinheiro não é mais tão importante. Queremos liberdade. Não queremos empregos que necessariamente paguem muito bem. O que procuramos é diversão, independência e flexibilidade. Não queremos escalar a escada corporativa. Eu acho que o que queremos é começar nosso próprio negócio. Não queremos nos comprometer tanto e tão cedo com qualquer coisa. Com um relacionamento, com um trabalho, com uma religião. Talvez precisemos de mais tempo para descobrir essas coisas.

Qual a mensagem que os leitores devem tirar do seu livro?

Para os leitores mais jovens, o livro é uma espécie de espelho. Eles podem ver a si próprios e uns aos outros. Muitos jovens acham que estão sozinhos. Eles pensam: "Meu Deus, não consigo decidir que profissão quero seguir". Há muitas pessoas com 30 ou 35 anos que ainda estão esperando por um bom emprego ou um relacionamento estável. Já a geração mais velha, a dos boomers, pode ver no livro quem é essa nova geração e que não somos tão horríveis quanto pensa que somos.

Quais são seus próximos passos?

Meus próximos passos? Dormir até tarde pela manhã. (Risos). Agora estou tranquilo, mas já estou planejando meu próximo livro.