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Moda

Marcus Bösch (rr)9 de março de 2007

Depois dos vinhos e alimentos, a consciência ecológica agora chega ao mundo da moda, com jovens trocando a juta pelo algodão orgânico. Mas será apenas estilo ou estratégia de resultado?

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Conforto como arma?Foto: American Apparel

A calota polar já derrete há tempos e o termo "catástrofe climática" até já virou lugar comum. Agora, europeus e americanos descobrem a proteção ambiental como forma de estilo.

Seja da Levis ou da Nike, da elegante grife dinamarquesa Noir ou da casual American Apparel – a moda nada mais têm a ver com tecidos pinicantes como a juta. Pelo contrário, dá preferência a tecidos caros, finos e confortáveis.

"Temos hoje na moda algo semelhante ao desenvolvimento observado antes com vinhos e alimentos", explica o químico Armin Reller, do Centro Científico Ambiental de Augsburg, que há anos pesquisa o plantio de algodão orgânico.

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Foto: American Apparel

Quem se importa com a trajetória que o vinho orgânico chileno faz até chegar ao copo, tampouco se conforma em vestir calças de algodão industrial regadas a pesticida. "Fécula de batata, coco e algodão orgânico" – estes são os componentes utilizados na fabricação de seus jeans orgânicos, diz a Levis. Materiais não apenas preciosos, mas também confortáveis.

A questão é se apenas a escolha dos materiais basta para proteger o meio ambiente. Se nos primórdios o algodão orgânico da American Apparel (a maior fabricante de camisetas dos EUA, com um faturamento anual de aproximadamente 250 milhões de dólares) vinha de fato da produção local, hoje é preciso encomendá-lo do mundo todo para atender à crescente demanda.

Apesar de todo o hype ecológico na moda, dos 20 milhões de toneladas de algodão produzidos mundialmente em 2007, apenas de 120 mil a 150 mil toneladas seguem padrões orgânicos.

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Foto: American Apparel

De repente, ativista ecológico?

Se esse algodão recém-colhido ainda tem de ser transportado da Austrália ou do Paquistão aos Estados Unidos para então ser vendido nas metrópoles européias, nada ou pouco sobra para fazer jus à consciência ecológica.

"É preciso observar o custo energético. O transporte marítimo não é tão nocivo, mas se as peças foram transportadas por via aérea, a coisa muda de figura", conta Reller. Afinal, a energia necessária para transportar pulôveres e cia. de avião seria suficiente para alimentar uma geladeira doméstica por um ano inteiro.

Pelo que parece, a moda com consciência ecológica basta apenas para melhorar a reputação de quem compra e os lucros de quem vende. Quando o assunto é separar o lixo, trocar o carro pelo transporte público ou abrir mão de viagens de longa distância, a história é outra.

No fim das contas, não foi assim tão de repente que a diretoria da Nike foi invadida por ativistas ecológicos, por mais que a empresa seja hoje o maior comprador de algodão orgânico do mundo. "Muita coisa acontece simplesmente de acordo com estratégias de marketing", argumenta Reller.